24 de novembro de 2024
Ideias

O homem na Lua: passado, presente e futuro – Parte 4 (Final)

Por Cláudia Medeiros | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 6 min
Créditos: NASA/Cory Huston

Nas últimas semanas acompanhamos toda a história da missão Apollo, seus desafios e suas conquistas até chegarmos ao seu encerramento. Todas as missões espaciais costumam seguir etapas de elaboração, construção, execução e encerramento.

O próximo passo ao qual a exploração espacial americana foi conduzida nos levou a construção de uma estação espacial internacional, a ISS. Manter a estação ativa, com a presença constante de astronautas, garantir suprimentos e operação em solo tem um grande custo e exigiu que diversos países participassem desse esforço. Rússia (Roscosmos), Europa (ESA), Japão (JAXA) e Canadá (CSA) são os países com as principais agências envolvidas na manutenção da estação. Temos até mesmo um astronauta brasileiro, o Marcos Pontes que esteve na ISS. A existência dela tem permitido um avanço no estudo de vida no ambiente espacial e inclusive a estratégia de manutenção de vida fora da superfície do planeta Terra. Além disso, diversos satélites e missões de exploração espaciais vem sendo desenvolvidos ao longo desses anos enviando sondas para regiões jamais imaginadas como por exemplo as Voyager I e II, para as fronteiras do sistema Solar.

Alguns avanços obtidos no conhecimento do uso do veículo lunar Rover por exemplo, permitiu a criação de outros modelos de robôs que foram lançados para o planeta Marte para exploração do terreno.  Até mesmo o lançamento de um drone na fina atmosfera de Marte foi possível a partir do conhecimento obtido durante as missões Apollo na Lua. Anos se passaram e muito foi questionado se não estaria na hora do homem voltar para a Lua. Surgiram até mesmo dúvidas sobre a veracidade desse fato.

Assim, 50 anos depois do encerramento da missão Apollo o mundo se encontra tecnologicamente preparado para iniciar uma nova fase que não é mais apenas pousar na Lua, mas sim, torna-la uma extensão do território terrestre, aproveitando a experiência da manutenção do homem na ISS para reproduzir um ambiente favorável a vida permanente na Lua, ainda que a princípio, seja apenas como uma base lunar.

No entanto, a ousadia agora é maior. O projeto Artemis, nome dado a missão que levará o home a Lua e a Marte, é conhecido pelo seu anseio na construção do que eles chamam de “Gateway”, em português significa porta de entrada, para o espaço além. A Gateway será uma espécie de Estação Espacial em órbita lunar que deve servir de apoio para o homem ir pra Marte. A tecnologia empregada na Artemis é extremamente superior as anteriores pois exigirá um alinhamento perfeito do setor público e industrial mundial para a manutenção de vidas fora do planeta, no espaço profundo. Os satélites que avaliam o ambiente espacial em tempo real, visam garantir uma espécie de previsão climática prevendo tempestades solares. O monitoramento de lixo espacial, meteoroides, cometas será imprescindível pois na Lua, não poderemos contar com a atmosfera que queima uma parte deles quando se aproxima demais. A alimentação e a manutenção de energia e oxigênio para sustentar a vida são pontos críticos que precisarão contar com tudo que foi aprendido nas missões Apollo e na ISS para funcionar de forma segura. Tem sido como construir um prédio e cada etapa precisa ser respeitada para o sucesso do que envolve a vida humana no espaço.

E para isso, foi lançada em 16 de novembro de 2022 a Artemis I que é a primeira espaçonave não tripulada a realizar a trajetória translunar, orbitar a lua e retornar em segurança para a Terra. Essa fase da missão durou cerca de 25 dias e retornou à Terra atingindo o Oceano Pacífico em 11 de dezembro de 2022. O foguete da missão foi o SLS, sigla inglesa do nome Space Launch System e a espaçonave que ele carregou que voou até a Lua é chamada Orion. A Orion é o mesmo modelo que vai levar astronautas na próxima etapa: a Artemis II.

Essa missão permitiu que uma série de correções fossem feitas sendo algumas delas no próprio lançador e na base de lançamento. Testes de performance do módulo de serviço, certificação das câmeras de navegação óticas baseada no sensor de estrelas, localização da Lua e da Terra no espaço.

Painéis solares também vão carregar câmeras nos seus braços e conexões via WI-FI, uma novidade dessa nova era, foram testadas. Elas serão úteis para monitorar os astronautas de um ponto de vista diferente além de monitorar micrometeoróides e lixos espaciais (debris). Foram testados sistemas de comunicação para dados usando a rede de antenas para Espaço Profundo uma vez que o volume de dados deve ser maior assim como a distância, saber sua eficiência pode ajudar a melhorar tudo isso. Testes de respostas a exposição em situações de variação de temperatura, interferência entre diferentes partes da espaçonave e seu impacto, teste dos algoritmos computacionais e uso de sistemas de refrigeração e localização durante a reentrada, também fizeram parte do pacote de testes da missão Artemis I.

Além do teste de todas as etapas, a Artemis I lançou 10 cubesats ao longo dessa trajetória que estão realizado experimentos de apoio as próximas etapas. Dentro da Orion foi instalado um manequim na cadeira do comandante, com trajes espaciais e sensores para medir por exemplo a dose de radiação total recebida, controle de temperatura e sensores de impacto.  Um famoso personagem também foi colocado dentro da Orion, o ursinho Snoopy. Um dos objetivos do Snoopy foi indicar quando a cabine entrasse em gravidade zero, uma vez que ele iria flutuar. Além disso, ele tem servido como inspiração desde as missões Apollo e broches de prata foram levados na missão e retornaram na capsula e serão dados como brindes a funcionários e contratados da NASA.

Tudo isso foi recente e está sendo realizado nesse momento em que esse texto está sendo publicado e parece que está indo muito bem. Foram selecionados os 4 astronautas: Reid Wiseman, Victor Glover, Christina Hammock Kock e Jeremy Hansen. Eles levarão a missão Artemis II, semelhantemente a missão Apollo 10, até a órbita lunar mas não vão pousar na Lua. Essa etapa visa deixar o caminho pronto para que finalmente na missão Artemis III, realize o tão esperado pouso garantindo assim voltemos ao nosso satélite natural, mas dessa vez, para sempre e além. A intenção é que o lançamento ocorra ainda no ano de 2024 e vai depender dos próximos resultados, restrições do espaço e janelas de lançamento. Estou feliz e acredito que vou poder acompanhar essa etapa.

Todas as informações apresentadas aqui foram obtidas no site da NASA e também de reuniões e workshops que participei desde quando a missão Artemis foi anunciada. Vamos seguir acompanhando de perto todos os próximos passos que posso adiantar, conta com uma viagem a Marte. Mas isso deixarei para outro momento.  Minha sugestão de vídeo será uma playlist da página da NASA no youtube que mostra toda a missão Artemis I e os próximos passos da Artemis II.

Quer saber mais sobre o assunto acima? Visite o canal MaisQueRaios no Youtube e @maisqueraios no Instagram. Um agradecimento especial ao Jornal OVALE por nos apoiar para que esse conteúdo chegue a mais pessoas.