Presidente da Emdec (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas), Vinícius Riverete admite que o transporte público é um “desafio gigantesco” para a cidade e garante que há melhorias no sistema, mas que as mudanças mais profundas ocorrerão com a nova concessão.
Ele dirige a companhia que é responsável pelo serviço de transporte em Campinas. O maior entrave atualmente é a licitação do novo sistema, aguardada desde 2016 e que estava suspensa pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado) desde março deste ano.
Segundo Riverete, o TCE liberou a retomada da licitação desde que o edital seja retificado em 14 pontos, conforme indicação do próprio Tribunal. As mudanças visam dar mais clareza e transparência ao processo.
“A licitação é o grande desafio da gestão, para colocar novos ônibus, novos meios de pagamento, readequação do sistema para criar linhas alimentadoras para os corredores do BRT. O edital foi liberado pelo TCE. Faremos as adequações o mais rápido possível para reabrir a licitação”, disse Riverete.
Confira a entrevista na íntegra com o presidente da Emdec.
Quais ações foram feitas para melhorar o transporte público?
A gente focou desde o início da gestão no transporte público. Temos uma série de ações para melhorar o transporte. Revitalizamos três terminais e o mais emblemático deles foi o Central. A revitalização traz mais qualidade ao usuário. Revitalizamos o terminal Padre Anchieta, Barão Geraldo e o Central.
Outra coisa foi construir abrigos de ônibus em regiões mais afastadas do centro. Já instalamos 100 abrigos para levar mais qualidade ao usuário.
Ampliamos faixas exclusivas ao transporte público na cidade. Colocamos mais de 60 ônibus para renovar a frota, abrimos os dados do transporte público e com as informações de GPS é possível saber onde estão os ônibus. No site da Emdec, colocamos de forma transparente a operação do transporte público.
Como a gestão lida com os usuários?
A gente faz diariamente reuniões com associações e moradores. Eu coloquei meu celular pessoal à disposição da população em 2022, quando cheguei aqui. Para que as pessoas pudessem fazer a reclamação e trazer as demandas, porque muita coisa não chegava aqui para nós. Isso deu uma mudança grande em todo o time, porque mostrou que estou exposto e que quero resolver o problema do usuário do transporte público.
Lançamos um chatbot que é 24 horas e que mostra os itinerários e horários de ônibus. O sistema também transfere a ligação para um atendente, também funcionando 24 horas.
Quais as principais reclamações dos usuários?
A grande demanda é a falta de cumprimento de horários. Temos hoje no sistema 210 linhas com 15 mil horários diariamente, com 900 ônibus. Temos uma grande operação. Campinas é o dobro de Curitiba. Atendemos 96% do perímetro da cidade com ônibus, muitas linhas em estradas de terra. Isso pode trazer muitos problemas de quebrar veículos e causar o desequilíbrio.
Na grande maioria das linhas, umas 193, não temos grandes desafios. Estamos falando de 17 linhas que temos problemas diários. E aí aumentamos a fiscalização. O ano passado foi o ano em que a Emdec mais autuou no transporte público. Começamos a fiscalizar as garagens de ônibus e trouxemos os gerentes das empresas para resolver os problemas. Não aceito a falta de cumprimento de horário e a quebra de ônibus, mas é um desafio diário. É uma frota antiga e a licitação vai trazer a renovação da frota.
Quais serão os benefícios da licitação?
A licitação do transporte é o grande desafio da gestão, para colocar novos ônibus, novos meios de pagamento, readequação do sistema para criar linhas alimentadoras para os corredores do BRT e conseguimos publicar o edital em dezembro de 2022. Ontem [10 de maio] foi liberado o edital pelo TCE, que tinha sido suspenso no começo do ano. Temos 14 apontamentos que faremos o mais rápido possível para reabrir a licitação.
Por que houve o questionamento ao edital da nova concessão do transporte?
A licitação foi publicada em dezembro de 2022. São dois lotes na cidade e divididos nos dois corredores do BRT (Campo Grande e Ouro Verde). Está liberada a participação de consórcios. É importante lembrar que na licitação de 2018 o Ministério Público fez 90 apontamentos. Nessa atual licitação, não teve nenhum apontamento do MP, e isso é um grande avanço.
O TCE suspendeu o edital após a reclamação de algumas empresas. A votação do TCE foi feita ontem [10 de maio] e já sabemos das alterações que necessitam ser feitas e pretendemos fazê-las o mais rápido possível e colocar [o edital] na rua para a gente poder ter uma licitação o mais transparente possível. Tivemos 11 audiências públicas, 90 dias de consulta pública e o edital ficando 45 dias úteis. Foi totalmente transparente. O que temos agora é uma chancela do TCE.
O sistema está baseado em corredores do transporte?
Iniciamos a operação do BRT nas regiões do Campo Grande e do Ouro Verde e temos mais de 90% de aprovação em ambos os corredores. Por enquanto, estão funcionando em horário de pico apenas: de manhã no sentido bairro-centro e à tarde, centro-bairro. Na região do Campo Grande, todas as estações estão em funcionamento e no corredor Ouro Verde, enquanto a obra não acaba, já iniciamos a operação em algumas estações.
O desafio é gigantesco. Temos hoje um índice percentual de cumprimento de 98% e vamos atingir 100% com trabalho e determinação. Leva tempo a construção de um transporte público eficiente. Precisamos cada vez maios aumentar os corredores exclusivos. Não é possível uma cidade onde os ônibus percorrem 1.500 km e só temos, sem contar o BRT, 20 km de faixas exclusivas. Já temos 38 km com o BRT, mas não está funcionando plenamente ainda.
Temos uma série de ações para priorizar o transporte público. A grande maioria da população está no transporte e temos que melhorar a qualidade, a eficiência, trazendo mais tecnologia e inovação para o sistema e isso vai acontecer com a licitação, que está próxima de acontecer.
Qual o volume de passageiros em Campinas?
Temos quase 300 mil usuários do transporte por dia. Ano passado tivemos pelo telefone 118 (canal de reclamação da Emdec) 6.456 reclamações. Dá 24 reclamações por dia útil, em média. Temos 15 mil horários e apenas 24 reclamações por dia. Mas existe ainda um percentual que estamos encarando para diminuir ainda mais a reclamação e cumprir o 100%, que é a nossa meta.