Um portal afiliado à rede
04 de maio de 2024

RELIGIÃO

CNBB faz Assembleia Geral em Aparecida em meio à polarização na Igreja e ataques

Santuário Nacional receberá 60ª Assembleia Geral da CNBB em meio à polarização na Igreja Católica e onda de ataques a lideranças e à Campanha da Fraternidade

Por Xandu Alves
São José dos Campos

26/03/2023 - Tempo de leitura: 2 min

Divulgação

Santuário Nacional sedia Assembleia Geral da CNBB desde 2011

A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) prepara a sua 60ª Assembleia Geral que será realizada no Santuário Nacional de Aparecida em abril. O principal encontro do episcopado brasileiro ocorre na Basílica desde 2011.

Marcada para 19 a 28 de abril, a Assembleia Geral terá um componente diferente neste ano: a polarização dentro da Igreja Católica.

A questão foi piorando ao longo do mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro, que entrou em rota de colisão em mais de uma oportunidade com lideranças católicas.

Ele teve embates públicos com o arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes, e com o presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte (MG).

“Quem se diz cristão ou cristã deve ser agente da paz e a paz não se constrói com armas. Somos todos irmãos. Esta verdade é sublinhada pelo papa Francisco”, disse Azevedo em setembro de 2021, em alusão a Bolsonaro.

Na ocasião, o presidente da CNBB também pediu que as pessoas “não se deixem convencer por quem agride os poderes Legislativo e Judiciário”.

A postura de Bolsonaro ainda incentivou a militância a promover ataques à Igreja e seus líderes, como na Festa de Nossa Senhora Aparecida em outubro de 2022, quando apoiadores do ex-presidente acusaram o Santuário Nacional de impedir um rosário que seria feito com a presença de Bolsonaro, que acabou não comparecendo.

As cenas de bolsonaristas atacando repórteres e criticando padres da Basílica viralizaram na internet e foram condenadas pela CNBB.

A tensão elevou-se com a onda de católicos ultraconservadores que se mobilizaram na internet para atacar a CF (Campanha da Fraternidade) de 2023, que tem como tema o combate à fome.

Segundo a CNBB, um dos objetivos da campanha deste ano é “propor aos fiéis um caminho de conversão para não ceder à cultura da indiferença frente ao sofrimento humano”.

Lançada no Santuário Nacional, a CF 2023 foi relacionada por cristãos extremistas a uma espécie de “conspiração comunista” e, portanto, merecedora de boicote por católicos.

PREPARAÇÃO

Na última quarta-feira (22), a CNBB debateu a polarização na Igreja como preparação para a Assembleia Geral em Aparecida, propondo "refletir sobre as ameaças à comunhão Eclesial no atual contexto sociopolítico e pastoral".

A análise apresentada pelo padre Geraldo De Mori, da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, situou o contexto da relação entre política e religião após o período de redemocratização do Brasil, com destaque ao uso religioso da política. Também pontuou a força dos influenciadores digitais com discursos religiosos.

Na Igreja Católica, de acordo com o sacerdote, também se observou “grupos sensíveis às pautas de costumes, os quais se identificaram com esses discursos”.

“Tudo isso faz parte de um cenário mais amplo e ajuda a entender de onde surge a polarização na Igreja”, disse De Mori.

Da contraposição considerada frutífera entre os chamados “progressistas” e “conservadores”, na avaliação do sacerdote, a Igreja está num contexto em que grupos usam das mídias digitais para a “luta contra as tendências que ‘corromperam o catolicismo'” e para a promoção de um “tradicionalismo e imaginário da idade média” que ganharam importância e visibilidade nos últimos anos.