Espaço-tempo.
Rio de Janeiro, fim dos 90.
Olhando o céu estrelado, com a lua cheia e olhinhos brilhantes, criávamos um universo próprio.
Estávamos no planetário.
O véu da noite, essa espécie de quadro negro cósmico, sempre a descortinar devaneios e sonhos, trazia nossos rascunhos imaginários do tempo futuro.
E o que viria?
Qual era o pedido feito à estrela cadente? Naquele sorriso aberto e franco, que horas o sol que brilha no céu da boca despertará?
No véu da noite, sobravam tempo e espaço para sermos tudo o que quiséssemos ser.
À época, queríamos ser jogadores de futebol. Depois, passamos a dar espaço para outros sonhos, como o jornalismo e a literatura, que conquistaram seu espaço no nosso universo. Chegávamos até mesmo a simular programas esportivos, entrevistas, etc. Nós três -- meu irmão Julio, meu primo Bruno e eu -- éramos a boa notícia, a melhor do dia.
Lembro-me que naquela noite, havia no ar a sensação de irmandade, de que havia tudo pela frente. Minha avó materna, Ana, havia nos deixado no planetário e estávamos felizes, rindo à toa dentro do nosso universo -- gargalhávamos com os nomes das constelações ou quando algum visitante confundia aviões com cometas.
Telescópios?
Questionado certa vez a respeito da estranha mania de adormecer sem tirar os óculos fundo de garrafa, Bruno respondeu, docemente: ‘É que quero enxergar os meus sonhos’.
Naquele tempo e espaço, acredito que nossos olhos cintilantes eram telescópios capazes de enxergar o espaço aqui, dentro de nós -- e ali, presente, havia amor.
Tenho um carinho imenso por essa recordação. Talvez seja por ser a última lembrança nítida antes que Bruno adoecesse. No dia 3 de março de 2000, um dia antes de completar 18 anos, ele se foi, feito o sopro de um passarinho.
Espaço-tempo.
Quando olhamos para o céu em uma noite estrelada, observamos o passado impresso nos pontos de luz, que levaram milhares de anos para chegar até aqui.
E assim é no meu universo, nesse espaço no peito. Aqui, na órbita do coração, porém, há uma estrelinha a mais, que é um passado presente. Nela, há tempo e espaço para o amor. E a saudade.