27 de dezembro de 2025
CARNAVAL

Foliões relembram carnavais dos anos 1960 e 1970; JP traz publicações antigas

Por Fernanda Rizzi | fernanda.rizzi@jpjornal.com.br
| Tempo de leitura: 4 min
Arquivo JP
Publicação da Banda do Bule em 4 de fevereiro de 1978

As memórias e as histórias dos carnavais piracicabanos das décadas de 60 e 70 são consideradas as melhores. Só que vem viveu na época sabe como foram os festejos mais aguardados do ano e que trouxeram os momentos mais espetaculares da vida social de Piracicaba. O Jornal de Piracicaba reviveu algumas publicações e conversou com leitores que curtiram a folia daqueles tempos que não voltam mais.

Nos anos 60 prevaleciam os chamados cordões. Segundo o escritor Francisco Ferreira (68), autor do livro “Noites de Pira”, lançado em 2005, os cordões eram grupos majoritariamente negros e paupérrimos. “Tinham no máximo cem integrantes: bateria, uma ala arregimentada no bairro, um casal de rei e rainha e uma dúzia de passistas”, conta ele. Esses agrupamentos eram patrocinados e representavam seus bairros.

Além disso, o Teatro São José, o extinto Clube Coronel Barbosa e o Cristóvão Colombo (quando ainda se localizada na rua Governador de Toledo) eram os responsáveis pelos bailes de carnaval que agitavam as noites da cidade.

As irmãs Ivana Negri (68) e Maria Graziela Victorino de França Helene (70) lembram bem dessas datas! “Piracicaba tinha o melhor Carnaval do interior Paulista, tanto na animação dos Clubes quanto no Carnaval de rua”, conta ela. “O Carnaval começava em janeiro, quando eram lançadas as marchinhas que seriam cantadas nos bailes. Todos decoravam e cantavam:  algumas famosas: Docinho de Coco, Cabeleira do Zezé, Máscara Negra, Bandeira Branca, A Turma do Funil e Aurora”. As marchinhas eram diferentes dos sambas-enredo das escolas de samba, que também eram tocadas e cantadas nos bailes. Em janeiro tinha o Baile do Sarongue, onde era escolhida a Miss Sarongue pela beleza e originalidade do traje”, relembra ela.

Ainda, segundo Maria Graziela, os bailes do Teatro São José eram muitos concorridos e as famílias reservavam as mesas. “Já o Centro de Piracicaba ficava lotado de pessoas que se locomoviam entre o Teatro São José e o Clube Cristovão Colombo”, conta ela.

A escritora Ivana volta ao tempo em que afirma que os carnavais eram inocentes, cheios de felicidade. “Íamos ao Clube junto com os pais, mesmo já adolescentes. Quando criança, cheguei a usar lança-perfume”, cita ela.

O lança-perfume surgiu como uma brincadeira para animar o carnaval e os participantes borrifavam a mistura perfumada, porém a sua fabricação foi proibida em 1961, por Jânio Quadros, devido à as suas substâncias psicotrópicas. “Era um spray geladinho e muito perfumado. Quando foi proibido, passamos a usar bisnagas de água em formato de frutas, muito divertida também, uma guerra de jatos de água”, conta Negri.

Para Francisco Ferreira não há comparação em relação aquele ano. “Acho pertinente dizer que aquele período das escuderias foi um momento único, que a geração da época soube aproveitar. Se nos anos 60 Piracicaba tinha uma vida noturna notável (em 1967, ano do bicentenário, houve a inauguração do Jequibau, com Wilson Simonal, e na mesma noite da inauguração do Jardim da Cerveja, se apresentava Chico Buarque no mesmo Jequibau), já nos anos 70 houve um certo desânimo pela juventude e vamos lembrar que estávamos em plena ditadura, no Governo Médici.

O escritor recorda o começo das escuderias e a conhecida história da Super Gincana Shell, em 1971, com promoção da Rádio Difusora, Jornal de Piracicaba e da Secretaria do Turismo, considerada um estopim e dando fama as primeiras gincanas, entre elas: Eki-Pé-Chato, Zoon Zoon e Equipelanka.

“A retaguarda de uma empresa como a Shell trouxe um planejamento muito mais rigoroso ao evento e também certo charme. O cartaz da disputa, por exemplo, foi desenhado por Ziraldo (artista autor do Menino Maluquinho)”, cita em seu livro.

Ferreira, em seu livro, também relembra, de um palanque montado em fevereiro de 1973, em um domingo de carnaval, apinhado de políticos, jornalistas e intrusos. Na gestão de Adilson Maluf, ex-presidente folião, toda a corte estava voltada no Rei Roberto Carlos, que na época, tinha um rancho de descanso em Ártemis.

Graziela também lembra da banda do Bule, que surgiu por foliões em 1977, como uma forma de trazer algo novo à cidade. Famosa por ser irreverente, o grupo era formado por: Paulinho Fioravante Sampaio, Luís Antônio Lopes Fagundes, Alceu Marozzin Righetto, Idico Pelegrinatti, Antônio Roberto Dihel, Chalita Nohra, João Sachs, Vado da Choparia e outros que foram aderindo à ideia, se vestiam com roupas de mulheres. “Na época isso era uma novidade e sua folia era associada às críticas sociais, políticas e econômicas”, conta a artista plástica.

Além disso, o carnaval só começava de verdade quando a banda do Bule fazia a sua apresentação durante o festejo. Em uma publicação feita pelo JP no dia 4 de fevereiro de 1978, a manchete anuncia: “O Carnaval começa hoje: a Banda do Bule abre a festa”. “O Carnaval piracicabano estará sendo iniciado hoje. Pela manhã, por volta das 11 horas a Banda Bule, com muita gente e muitas garotas bonitas estará desfilando pelas ruas centrais da cidade, prometendo apresentar para os expectadores muitas novidades”, dizia a matéria.

Hoje, em comparação ao atual Carnaval Ferreira afirma: “o carnaval depende sobretudo do poder público e aquele momento aconteceu porque tivemos a feliz gestão de Adilson Maluf, que era um folião, e seus competentes secretários de turismo, o já citado Mário Terra e, na sequência, Luiz Antonio Fagundes”, ressalta. “Hoje, o que existe é um pequeno grupo com seus blocos e, infelizmente, um desmonte da área cultural, da qual o carnaval faz parte. É Triste”, finaliza ele.

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