Ex-capitã da Seleção Brasileira de futebol feminino e do time do São José, Daiane Rodrigues, a Bagé, 39 anos, conhece bem os desafios e as dificuldades do campo de bola. Enfrentar atacantes, defender a meta e lutar por títulos foram práticas regulares da carreira como atleta, atuando na zaga e na lateral.
Agora, Bagé encara um desafio novo e diferente na vida, muito mais difícil do que as caneladas: ser mãe de gêmeos ao lado da companheira Priscila Rossetti, 40 anos, a Priscilinha, também ex-jogadora e com quem Bagé está casada desde 2009.
Elas são mães dos pequenos Iza e Théo, que nasceram em 23 de janeiro deste ano, frutos de um processo de inseminação artificial. A gravidez foi de Priscila.
“Amores da vida da mamãe, que Deus os guie e ilumine eternamente. Coração da mamãe transborda de amor por vocês meus amores Iza e Théo”, escreveu Bagé em sua página na rede social.
Priscila comentou: “Eles chegaram pra deixar nossas vidas mais cheias de amor. Sensação única e mágica de receber essas pessoinhas. Sejam bem-vindos nossos amores, Théo e Iza. As mamães já amam muito”.
“É um desafio novo para a gente. Amamos crianças, mas estávamos acostumadas a lidar com sobrinhos. Não tem sobrado muito tempo, porque são dois bebês em casa, mas a sensação é maravilhosa. Importante é que estão com saúde e muito bem”, disse Bagé, com o resmungo dos filhos ao fundo. “Tem que atender ao telefone e cuidar deles ao mesmo tempo”, brincou.
CARREIRA
Bagé encerrou a carreira em janeiro de 2021, após 11 anos jogando pelo São José, time pelo qual ganhou diversos títulos, como o Mundial de Clubes, a Copa Libertadores e o Campeonato Paulista. A atacante Priscila encerrou a carreira mais cedo, em 2017.
A defensora ainda jogou por 10 anos na Seleção Brasileira, conquistando o vice-campeonato da Copa do Mundo na China 2007 e a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro 2007. Também disputou o Mundial na Alemanha em 2011.
Segundo Bagé, que ganhou o apelido da sua cidade natal no Rio Grande do Sul, ela e Priscila se conheceram em 2004, em São Bernardo do Campo (SP), e depois atuaram juntas pelo Botucatu. Em 2009, o relacionamento foi sacramentado quando foram morar juntas. O passe seguinte foi o desejo de ser mãe. Uma verdadeira assistência com golaço. Aliás, dois.
“No começo do relacionamento, eu tinha mais vontade de ser mãe e ela nem tanto. Passou um tempo e, em 2020 mais ou menos, ela começou a ter vontade e eu tinha receio e medo, pelo jeito que o mundo está. Mas, no final, decidimos sermos mamães. Sabíamos da dificuldade e resolvemos que iríamos querer, sim, ter os nenês. E vieram dois logo de cara”, contou Bagé.
A gravidez dos bebês foi uma surpresa: “Fizemos uma primeira tentativa de inseminação artificial, mas acabou não dando certo. Fomos para uma segunda e, graças a Deus, vieram os dois anjinhos. Foi inesperado. A gente optou por colocar dois óvulos para ter mais garantia. Agora é um filho para cada mãe”, disse a ex-atleta.
EMPRESÁRIAS
Bagé, Priscila e os bebês moram em São José dos Campos, cidade adotada por parte da família de Priscila. A de Bagé ainda mora no Sul do país, na cidade que lhe deu o apelido. A mãe dela está vindo para São José passar um tempo com os netinhos.
Ambas trabalham atualmente como empresárias, tocando uma academia de ginástica em São José. Priscila tentou se eleger vereadora da cidade na última eleição, mas não obteve sucesso. Os filhos agora são prioridade, mas Bagé não descarta uma volta ao futebol no futuro, mas apenas do lado de fora dos gramados.
“Paramos com o futebol e hoje somos empresárias, vivendo em São José. Gostamos muito da cidade, tem tudo, oportunidade, lugar bom para querer viver”, disse Bagé.
“Até pensava em fazer alguma coisa no futebol e estar dentro do futebol. Mas, infelizmente, as coisas não aconteceram. Gostaria de poder ajudar o São José feminino. Se tivesse a oportunidade de trabalhar ou colaborar, eu gostaria, mas agora é hora de cuidar muitos dos filhos.”
PRECONCEITO
Vivendo o melhor da vida como mulher, Bagé admite que ela e Priscila enfrentaram o preconceito, mas conseguiram driblar os percalços da vida com coragem, amor e paciência. Tem que ver o jogo todo, como ela ensinou.
“A gente sempre enfrenta esse preconceito, mas vai muito do querer da gente, da nossa índole. Não devemos passar por cima de ninguém. É a nossa família, educar para esse mundo, respeitando e ajudando o próximo”, afirmou Bagé.
“A gente sempre vai encontrar preconceito. Evoluiu muito, mas sempre, de alguma forma, com algumas pessoas, vai ter esse preconceito. A gente é super cabeça aberta e vamos educar [os filhos] o que achamos correto, do respeito e do amor, de pensar no próximo.”
E bora defender em linha e atacar em zigue-zague, que o time agora está completo. Bagé, Priscilinha, Iza e Théo. Que time! É o Amor F.C.. É gol na certa. Gol de vida.