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03 de maio de 2024

OPINIÃO

Um país sob a ameaça dos 'patriotas'

Por Marcos Meirelles
Jornalista

20/01/2023 - Tempo de leitura: 2 min
OVALE

Mal iniciamos o ano e nos deparamos com uma nova categoria da vida política do país: o patriota terrorista. Nova nem tanto, ressalvemos, porque já tivemos Plínio Salgado e seus integralistas.

O que mais assusta após os atos terroristas em Brasília, em 8 de janeiro, é que os envolvidos voltaram para as suas casas ou foram passar alguns dias na Papuda sem nenhum arrependimento. Pelo contrário, os extremistas estão convencidos que agiram de forma correta, de que sua bandeira é justa e que novas ações serão necessárias.

Os “patriotas”, neste caso, adotam duas narrativas. Para o público externo, repetem a ladainha de que havia gente infiltrada no motim golpista e que os verdadeiros “patriotas”, “cidadãos de bem”, não se envolvem em ações desse tipo.

Internamente, nos grupos de Telegram e WhatsApp, remoem e retroalimentam a revolta pela prisão injusta dos “companheiros patriotas”, pela remoção dos acampamentos em frente aos quartéis e pela “perseguição” aos golpistas nas redes sociais. Anseiam por mais gasolina na fogueira, e sabem que esse gatilho pode ser disparado por uma única postagem do mandatário-mor do golpe, Jair Bolsonaro.

Os “patriotas” não estão preocupados com os efeitos do golpismo na economia, na convivência familiar, no isolamento internacional do país. Patriota golpista que se preza leva às últimas consequências a ideia de que é possível trair a pátria e escapar incólume, invocando a proteção do direito divino.

Para o patriota que afronta a democracia, os fins sempre justificarão os meios e não há mediação possível de qualquer instância ou instituição democrática. Vale mais a palavra de ordem de Bolsonaro ou Carlucho nos grupos de Telegram do que qualquer artigo da Constituição.

Também não surpreende que, nos atentados terroristas de 8 de janeiro, a República tenha sido sabotada por aqueles que deveriam defendê-la.

Os militares brasileiros estão associados a práticas golpistas desde a derrubada do Império. O fim melancólico da ditadura militar os fez submergir por três décadas, mas a eleição do capitão golpista como presidente da República trouxe de volta a verve antidemocrática das Forças.

O que vai ser daqui para frente? Infelizmente, acredito que os patriotas golpistas jamais irão se arrepender ou mudar suas práticas e estaremos sempre com as nossas instituições ameaçadas.