26 de dezembro de 2025
ELEIÇÕES

Pivô de escândalo do PT diz que Lula tem segunda chance após casos de corrupção

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 5 min
Divulgação
Paulo de Tarso Venceslau

Aos 79 anos, o economista Paulo de Tarso Venceslau, de Taubaté, torce para que dê certo o terceiro mandato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele acredita que o petista ganhou uma segunda chance após os casos de corrupção do passado.

Venceslau foi um dos primeiros a denunciar esquema de caixa 2 no PT em 1993, quando era secretário da Fazenda na Prefeitura de São José dos Campos, na gestão Ângela Guadagnin. Cinco anos depois, ele foi expulso do partido. “Eu espero que o partido tenha aprendido a lição”, disse Venceslau.

Na juventude, ele integrou o movimento estudantil e foi preso por ter participado do sequestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, em 1969, organizado pelo ALN (Ação de Libertação Nacional) e pelo MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) em protesto contra a ditadura militar apoiada pelos Estados Unidos.

Além de Venceslau, participaram da ação pessoas como Fernando Gabeira e Virgílio Gomes da Silva e Franklin Martins.

Em São José, Venceslau denunciou o Paulo Okamotto e Roberto Teixeira, amigos e pessoas de confiança de Lula, que teriam envolvimento em caixa 2. Os casos não foram à frente internamente no PT e o economista de Taubaté acabou expulso do partido.

Apoiando Lula durante a campanha contra Bolsonaro, Venceslau cobra agora coerência do petista para fazer um governo sem as mesmas distorções dos dois primeiros mandatos: “Lula está colocando em jogo a sua biografia”, afirmou. Confira a entrevista.

Qual a expectativa do sr. para o terceiro mandato do presidente Lula?

Para mim, a expectativa é uma só. Que ele tome posse e acabe com esse nazifascismo que foi o governo Bolsonaro. Tudo o que vier é lucro, depois do ponto em que chegamos com o atual presidente Jair Bolsonaro.

O sr. foi um dos primeiros a denunciar corrupção no PT, partido marcado por escândalos durante os mandatos de Lula e Dilma Rousseff. O sr. acha que o partido mudou?

Precisamos escapar do achismo nessa área. Eu espero que o partido tenha aprendido a lição. A experiência foi muito ruim, e não foi por falta de avisar. Eu sou um dos que participou dessa fase de tentar manter a linha do PT, mas não foi possível.

Houve cumplicidade entre corruptores e corruptos, e o governo Lula estava cercado de pessoas que o Lula sabia que estavam agindo da forma errada, mas infelizmente não fez nada. O Roberto Teixeira e o Paulo Okamotto são dois que não me deixam mentir, este último aprontando no Sebrae. Então, digo isso com muita tranquilidade porque eu alertei todos os dirigentes nacionais do PT naquela época, além do Lula.

O que eu vi foi uma orientação política, mas não se pode misturar as coisas. Saber eles sabiam. Eram os primórdios naquela época, mas foram permitindo e permitindo e acabou saindo do controle. Houve uma corrupção de poder através da aparência de progresso. Carros de luxo, aviões, jatinhos eram normais. Uma exibição desnecessária, sendo que havia os princípios registrados no partido que eram ao contrário disso tudo.

Roberto Teixeira ainda é advogado do Lula e Paulo Okamotto faz parte da equipe de transição, dois personagens ligados ao PT que o sr. denunciou no começo da década de 1990. Acha que eles mudaram?

Sim, estou acompanhando. Mas não aconteceu nada com eles, que continuaram a ser homens de confiança do Lula. Paulo deve ter alguma função extraoficial no governo e quem vai saber? Até onde sei, as coisas comprovadas contra ele foram deixadas de lado, e o Lula dizia não saber. Eu espero que tenham aprendido a lição e que tenham mecanismos internos para não se submeter a chantagens que virão.

Houve na eleição um grande movimento em torno do Lula em nome da defesa da democracia. Isso não faz o Lula ter um compromisso maior com as reformas e o combate com a corrupção?

Outro dia, o Lula chorou lembrando a miséria do povo. O Bolsonaro chorou num evento com oficiais das Forças Armadas, para ele mesmo. São lágrimas de crocodilo. O do Lula foi a sensibilidade dele com a miséria e o do Bolsonaro foi a questão da derrota, porque ele nunca foi uma pessoa sensível. A esperança é que o Lula se preocupe com a biografia dele. Se ele pegar um rabo de foguete e não segurar, será o fim da carreira política dele. Lula pode terminar com a biografia queimada, e espero que ele tenha esse compromisso de fazer um grande e correto governo.

Há pessoas ao redor de Lula nesse momento que o sr. destacaria como importantes para ajudar a fazer o governo funcionar?

Certamente, diria que o Fernando Haddad, que conheço há muito tempo, e o Aloizio Mercadante. Na área de economia, tem o Bernard Appy, que é supercompetente, mas que não faz política. É uma pessoa preparada. Esses são nomes que podem ajudar o Lula. Espero que novos personagens assumam posições importantes no PT e façam coisas diferentes.

O sr. acha que o grupo do José Dirceu terá influência no novo governo?

Acho que vai ter influência, sim, mas o Dirceu não pode aparecer, porque a imagem está muito arranhada. Ele apareceu em manifestações, mas acabou virando um símbolo da corrupção, e essa simbologia pega. Infelizmente, também partiu para o discurso do ‘não sei de nada’.

E qual papel o sr. acha que Geraldo Alckmin terá no governo?

Acho que a sorte do PT foi tirar o Geraldo Alckmin da tumba que os tucanos o haviam colocado. Eu o conheci e acho que é uma pessoa muito honesta e íntegra, e ele tem credibilidade. O que ele promete ele faz e não é de ficar com historinha para boi dormir. É uma pessoa muito importante para o Lula. Se deixar só com a burocracia petista não daria certo. E eu torço para que dê certo. Geraldo vai ser um personagem importante para o Lula, que pode possuir 500 defeitos, mas em política é excepcional.

O Lula ganhou uma segunda chance?

É a chance dele. Está dada essa chance. Não dá para achar que o cavalo vai passar arreado outra vez, até pela idade dele. Ele fez muita coisa boa no governo, mas há outras coisas deploráveis. Um erro foi colocar a Dilma Rousseff como sucessora, por exemplo, porque ela não tinha experiência nenhuma na política. É uma pessoa muito boa, mas não deu certo como presidente. É isso. Acho mesmo que o Lula ganhou uma segunda chance da história.