Muitos brasileiros não estão usando verde e amarelo na Copa do Mundo para não passarem por bolsonaristas. Enquanto isso, a nova regra “minion” é vestir branco ou preto para não ser confundido com torcedores. Pudera: até Lula, foco da ira bolsonarista, vestiu a “amarelinha” na estreia da seleção na Copa.
Seria cômico se não fosse trágico.
Semanas após o segundo turno, com o governo de transição a todo vapor, estradas continuam bloqueadas aqui e ali, e grupos alinhados a Jair Bolsonaro ainda montam guarda à frente de unidades militares de todo o país, duas na região –o DCTA, em São José dos Campos, e o Cavex, em Taubaté. Nos acampamentos, a multidão ensaia “marcha-soldado” na chuva, canta hino Nacional a pneu, pede ajuda a ETs. São devotos alucinados de uma seita golpista. Mas quem são os oportunistas por trás deles? Um é o próprio presidente, que insiste numa virada de mesa fora das quatro linhas da Constituição.
Ele conspira. Faz o PL de Valdemar da Costa Neto pedir ao TSE a anulação dos votos de 59% das urnas do segundo turno, sem prova alguma. Perdeu, mané: a coligação liderada pelo PL, que une PP e Republicanos, acabou multada em R$ 22,9 milhões por litigância de má-fé e teve congeladas verbas do Fundo Partidário. Essa doeu no bolso. Mas Bolsonaro não desiste: após “sumir” 19 dias, vai cumprir agenda oficial nas unidades cercadas pelos “minions”; joga gasolina na fogueira, de forma irresponsável e criminosa. Vai sair impune? Muito do que vivemos hoje é herança direta de não termos acertado as contas com nosso passado.
A Lei da Anistia, de 1979, que permitiu a volta de centenas de brasileiros exilados, blindou os agentes da Ditadura Militar de qualquer responsabilização por crimes de tortura, sequestro, desaparições forçadas e assassinatos cometidos contra opositores do governo.
A Argentina, ao contrário, identificou, processou e puniu os agentes do regime que cometerem atrocidades contra o povo, como mostra o belo “1985”, filme de Santiago Mitre e estrelado por Ricardo Darín.
Aqui, muitos ainda contestam, por ignorância ou má-fé, que o Regime de 64 foi, de fato, ditadura. Falhamos em não chamar o monstro pelo nome? A Ditadura de 64 foi uma página violenta da nossa história, que deveria ser contada e recontada como exemplo a não ser repetido. A mesma regra vale para os dias atuais: é preciso respeitar o resultado das eleições; quem prega o contrário, defende uma ruptura institucional.
É simples: conspirar contra a democracia é crime, usem os criminosos a cor que usarem --branco, preto, verde ou amarelo. Sem deixar isso claro, golpistas, como Bolsonaro, sempre vão encontrar terreno fértil para plantar, entre nós, o ovo da serpente. Ditadura, nunca mais.