O jornal norte-americano The New York Times disse que o segundo turno da eleição presidencial no Brasil representa “o dia mais importante para o planeta Terra e a nossa sobrevivência”.
Em editorial feito em vídeo de quase 7 minutos, um dos mais importantes jornais do mundo associa a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) à destruição da Amazônia.
“No domingo, os brasileiros vão às urnas para eleger seu próximo presidente. Mas está em jogo algo muito mais importante do que a liderança da maior economia da América do Sul. Quem vencer herdará o controle de mais da metade da floresta amazônica e, por extensão, determinará as condições para a vida futura na Terra”, diz trecho do editorial.
Na sequência, o jornal cita as “crescentes taxas de desmatamento sob o presidente Jair Bolsonaro” e diz que “o ecossistema da Amazônia está à beira da catástrofe”.
“A perda de milhões de árvores já causou diminuição das chuvas. As áreas ainda não transformadas em fazendas devem mudar de floresta densa para savana seca à medida que a Amazônia atinge um ‘ponto de inflexão’ – de degradação em espiral da qual não há retorno.”
E continua: “Esse colapso será sentido muito além da Amazônia. As chuvas em dois continentes, inclusive nas áreas agrícolas da Califórnia, vêm da Amazônia. Medicamentos que salvam vidas são derivados de sua espécie. Bilhões de toneladas de carbono são mantidos em suas árvores. Nossa dependência desse ecossistema não pode ser exagerada”.
INPE
Editorial fala dos avanços ambientais durante o governo do ex-presidente Lula e do PT, com incremento de ações de fiscalização e vigilância da Amazônia, quando a floresta atingiu o menor desmatamento da história.
Sem citar nominalmente o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), órgão com sede em São José dos Campos e reconhecido internacionalmente pelo monitoramento da Amazônia, o editorial diz que o Brasil tem “um impressionante sistema de satélites que emite alertas em tempo real para as autoridades quando as árvores são cortadas”.
Mas alerta para um grave problema: “98% dos alertas não são investigados porque Bolsonaro destruiu a agência que combate o crime ambiental. E se Bolsonaro for eleito novamente, fica um gostinho do que está por vir”.
O vídeo também ainda depoimento da indígena Txai Suruí, de Rondônia, única brasileira a discursar na COP26 (Conferência da Cúpula do Clima), em Glasgow, na Escócia, em novembro do ano passado.
“Um candidato quer salvar a Amazônia e o outro quer queimá-la. A maior floresta tropical do mundo é a minha casa e o resultado das eleições ameaça tudo isso”, disse ela no vídeo.
Com imagens de protestos de indígenas e populares pelo Brasil, o editorial termina dizendo que “esses brasileiros estão colocando tudo em risco para salvar a floresta da qual a civilização humana literalmente depende”.
E conclui: “E todos nós precisamos desesperadamente de um novo presidente brasileiro que não a queime”.
EMBATE
Ex-diretor do Inpe, o físico, engenheiro e professor Ricardo Galvão bateu de frente com Bolsonaro em 2019 quando, no comando do instituto, defendeu os dados de desmatamento divulgados pelo Inpe e criticados por Bolsonaro, e cuja qualidade foi destacada pelo New York Times.
O presidente acusou Galvão de passar dados mentirosos sobre o desmatamento da Amazônia e estar a serviço de “alguma ONG”. “A questão do Inpe, eu tenho a convicção que os dados são mentirosos”, disse o presidente na ocasião.
Um dia depois, Galvão rebateu as críticas e defendeu o trabalho e os dados do Inpe: “São dados reconhecidos internacionalmente há décadas. O presidente foi leviano e atacou a ciência do país”, disse ele a OVALE, na época.
Desde então, Galvão tem colecionado prêmios e menções no Brasil e no exterior por sua defesa do Inpe e da ciência. Ele foi candidato a deputado federal pela Rede Sustentabilidade, mas não se elegeu. É um dos nomes cotados para comandar o Ministério da Ciência e Tecnologia em um eventual governo Lula.
“Bolsonaro demonstrou desprezo pela educação e pela ciência. Não podemos ter um presidente assim”, afirmou Galvão.
E completou: “Sei do compromisso de Lula para um Brasil melhor para todos. Com educação, ciência, tecnologia e muito trabalho”.
VEJA AQUI o vídeo do New York Times.