É clássica a definição de política como arte da busca do bem comum. A política é a vida da comunidade. Por meio dela, os caminhos à felicidade da comunidade são descobertos, expostos, debatidos e, espera-se, construídos. A campanha política deve servir exatamente para isso. Para que cada um dos candidatos exponha seus pontos de vista sobre os obstáculos à realização do bem comum, e como removê-los, para, enfim, a sociedade desfrutar da paz e promover este bem comum.
Em algum momento, perdemos a visão clássica, idealista, utópica, diriam alguns, para o pragmatismo eleitoral. Então, o caminho – a campanha –, passou a servir para enfrentamento, não de ideias e visão do mundo, mas de pessoas, com suas virtudes e defeitos. A campanha abandonou o manual da construção da paz, para adotar o manual da guerra. E a política passou a ser vista como a arte da guerra.
Culpamos Maquiavel. Até adjetivamos esta forma de enxergar e praticar a política: maquiavélica. Mas, no fundo, sempre fomos assim. O que fez Caim ao ter seu jeito de cultuar rejeitado pelo Criador? O que fez Adão quando teve que prestar contas de sua desobediência? Culpar os outros, eliminar os outros...
Um salto na história bíblica nos leva à peregrinação do povo – escolhido por Deus –, liderado por Moisés. O que fizeram quando o sol castigava, a comida e a água faltavam e a terra que mana ‘leite e mel’ parecia distante?
Somos assim? Queremos a paz, sonhamos com o bem comum, mas temos dificuldade de promover a paz, de buscar exclusivamente o bem comum numa simples campanha política? Somos mesmo assim, seres humanos que nos iludimos em buscar a paz pela guerra, pela intolerância, pelo preconceito?
Os clássicos e os modernos não chegam a um consenso. Somos bons, mas a sociedade e a política, consequentemente, nos corrompem? Ou somos maus, mas a vida em sociedade, em comunidade, por meio da política, é o único meio de nos tornar bons, de nos livrar de nossa selvageria natural, inerente à nossa natureza? Somos filhos de Abel ou de Caim?
Talvez não sejamos capazes de dar uma resposta que sirva para toda a humanidade. Mas cada um de nós pode se analisar e responder a si mesmo. E, assim, na política, na eleição, nos debates, escolher ser Abel ou Caim. Ser bom ou mau, promover a paz ou fazer a guerra, semear livros ou armas, é uma escolha. Como sentenciou o Criador a Caim: o bem e o mau estão à sua porta, deves escolher e não seres dominado.
A política, para mim, é sim a arte do bem comum, que só pode ser praticada pelo caminho da paz, da tolerância, do respeito, da inclusão, dos livros – única arma capaz de construir um caminho seguro para a felicidade da comunidade.
Eu escolhi, eu trilho este caminho e abomino todos os que trilham e escolhem o outro caminho, que, em hipótese alguma, é purificado pelos fins. Os fins não justificam os meios.