23 de dezembro de 2025
Saúde

Quarta onda? Atendimentos de saúde mental na rede pública de São José crescem 130% na pandemia

Por Thais Perez |
| Tempo de leitura: 3 min
Sofrimento tem saída com atendimento médico

Todo mundo tem pequenos prazeres em sua vida. Os de Johnny, de 28 anos, são simples. Um deles é sentir cheiro de pastel, aquele frito, de feira, que quando ele sente, sabe que o momento de pausa vai ser bem mais gostoso. Outro prazer é abraçar sua cachorra, que mesmo com um latido estridente, é dona de seu coração.

Outra parte de Johnny é diferente e não tão prazerosa, assim como a de qualquer ser humano. Há alguns anos, o joseense luta contra a depressão, que o levou tentar tirar sua vida duas vezes.

Hoje, em tratamento psicológico, Johnny tem a clara resposta do que faz ele querer chegar até o dia seguinte. "Se eu não viver, não vou ter mais os pequenos prazeres da vida. Eu tento colocar tudo na balança e, no final, a vontade de viver é maior", diz ele.

Johnny não é o único com dores que só parecem ser resolvidas com o fim. No Brasil, os casos chegam a 14 mil registros por ano, ou seja, em média, 38 pessoas cometem suicídio no país por dia. De acordo com Ministério da Saúde, o suicídio é a quarta maior causa de morte de jovens entre 15 e 29 anos no país.

Em São José dos Campos, o número de atendimentos da rede de saúde mental aumento 130% desde o início da pandemia. Em 2022, esse número já chegou a 7882. O período de incertezas fez com que as queixas nas UBS (Unidades Básicas de Saúde) fossem mais comuns.

"O público que mais adoeceu foi o público de adolescentes e jovens adultos. Conbtudo, tivemos impacto em todas as faixas etárias, até crianças e idosos", explica Patrícia Minari, coordenadora do Programa de Saúde Mental da Prefeitura de São José dos Campos.

O Hospital Francisca Júlia, que é administrado pelo CVV (Centro de Valorização à Vida) e faz parte da rede municipal, recebe casos mais graves encaminhados pelas UBS. "Nos últimos dois anos, percebemos que em torno de 15% das pessoas atendidas possuia idealização suicida", afirma Daniel Peagno, diretor técnico da Francisca Julia CVV. Na internação do hospital, que recebe casos mais graves, o número subiu para 27%.

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APOIO

Para Peagno, a sociedade ainda possui muitos estigmas em relação à saúde mental, principalmente para quem tem idealização suicida. "Por causa disso, que sofre desses problemas não consegue se abrir", afirma ele.

"Queremos mostrar para essas pessoas que elas podem e devem buscar ajuda na hora que precisarem", completa.

Há 18 anos, Alberto Carbone é voluntário do CVV de São José dos Campos. Ele faz seus atendimentos uma vez por semana. Ele diz que não dá conselhos, mas está sempre aberto a ouvir.

"Em nenhum momento, podemos glamurizar o suicídio, mas ter a consciência de que ele existe e que pessoas passam por esse mal. Antigamente, não podíamos nem pronunciar a palavra 'aids'. Acredito que quanto mais falarmos do assunto, de forma respeitosa, mais vamos prevenir esse tipo de situação", explica.

TRATAMENTO

"Eu não aguentei ficar quieto, precisei dividir isso com alguém", explica Johnny, que recorreu à empresa em que trabalha por ajuda depois de tentar suicídio. Atualmente, ele recebe acompanhamento médico e apoio dos amigos, companheiro e pais.

"Aconselho a todo mundo procurar ajuda, onde seja, não estamos sozinhos", completa ele.