ENTREVISTA

‘Sentimento é de que Taubaté ficou para trás’, diz Sérgio Victor

Por Xandu Alves | Taubaté
| Tempo de leitura: 28 min
Leandro Berti / OVALE
Sérgio Victor, prefeito de Taubaté, concede entrevista a OVALE
Sérgio Victor, prefeito de Taubaté, concede entrevista a OVALE

O diagnóstico é duro: Taubaté parou no tempo e ficou para trás. Quem declara é o prefeito Sérgio Victor (Novo), eleito no segundo turno da eleição de outubro de 2024, com mais de 97 mil votos, para colocar Taubaté nos trilhos do desenvolvimento.

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A segunda maior cidade do Vale do Paraíba tem desafios enormes: crise financeira aguda, problemas de governança e a infraestrutura precária dos prédios da prefeitura, por exemplo.

“Como taubateano [a situação] é alarmante. Por isso, talvez esse sentimento tão à flor da pele ao longo dos últimos anos de que Taubaté está parada no tempo”, afirmou Sérgio Victor em entrevista exclusiva a OVALE, em seu gabinete no Palácio Bom Conselho.

“É um sentimento do taubateano de que os municípios vizinhos estão conseguindo acertar muito mais do que a gente, às vezes em coisas básicas.”

Sérgio falou sobre as primeiras medidas do governo, a projeção de quando a cidade poderá superar os problemas financeiros e de medidas que afetarão os servidores, como o estudo para abrir um PDV (Plano de Demissão Voluntária) na administração.

Confira a entrevista na íntegra.

 

Há duas semanas, o senhor fez uma apresentação sobre o tamanho da dívida de Taubaté, em torno de R$ 1,1 bilhão no mandato, sendo R$ 641 milhões já para 2025. Como foi a sua reação diante desse montante? Os valores o surpreenderam?

Olha, a gente já tinha uma noção bem próxima da realidade. A gente sabia que a prefeitura tinha desafios financeiros muito grandes. O que a gente não sabia, no detalhe, seria o tamanho do restos a pagar, que influenciou. A dívida do CAF a gente já sabia, mas sem a atualização de juros. Então, aumentou mesmo, um percentual significativo ali para abater R$ 195 milhões de dívida com o CAF, quando ele foi atualizado. E o restos a pagar também é significativo. Então, isso não surpreende, a gente já sabia do tamanho do desafio.

Mas o que é mais preocupante, porque a dívida é matemática, você reorganiza a casa, é o percentual do orçamento que está prejudicado e o nível de governança, de processos internos ou da própria infraestrutura interna.

Então, a gente tem uma dívida enorme, mas também pega uma casa com processos muito ruins e com infraestrutura literalmente muito ruim, vários prédios, onde tem boa parte das secretarias, que chove mais dentro do que fora. A Secretaria de Habitação no prédio do Tesourinho, quando chove, as pessoas passavam um saco plástico preto em cima dos computadores para proteger, e não dá para trabalhar. Isso é loucura. Como é que a gente alocou as pessoas naquela sala, naquela situação?

 

Que aspecto dessa dívida prejudica mais a cidade? O que será prioritário estancar nesse momento?

O nosso primeiro grande ato foi do decreto de redução de 30% de cada pasta. Isso simplesmente porque não tem dinheiro. Não é por vontade. E 30% do orçamento, 40%, ainda vai ser insuficiente para resolver todos os problemas. Então, algumas coisas a gente vai ter que fazer.

A gente está trabalhando muito para alongar a nossa dívida, para reduzir o impacto por ano. A gente está com uma campanha rodando para pagamento à vista, para os pequenos credores que a gente separou um orçamento, separou uma fatiazinha que a gente conseguiu economizar com outras despesas para renegociar pequenas dívidas, então já conseguimos mais de R$ 2 milhões de economia, mais de 30% dessas dívidas negociadas ali, então é um pontapé inicial.

E esse primeiro mês, para quem está acompanhando, a gente teve muito mais tempo interno, tempo dentro do gabinete mesmo, tempo dentro da prefeitura, tempo dentro das secretarias. Porque tem um nível de governança que a gente precisa criar antes de conseguir definir as realizações. É difícil você falar o que vai fazer quando você, em termos de infraestrutura, de processo, de orçamento, ainda não tem um parecer muito claro. E tem algumas coisas que leva tempo.

 

Ou seja, você está arrumando a casa para poder depois arrumar o quintal, vamos dizer assim.

Exato. E não adianta começar pelo telhado. Digamos que as ações para fora são a parte do telhado, da construção. A gente tem que fazer a fundação, tem que fazer as paredes, tem que fazer os pilares para que ela pare de pé.

 

Foi surpreendente saber que essa má gestão de Taubaté veio ao longo do tempo? Uma cidade do porte de Taubaté, da importância do município, chegar a esse ponto?

Não sei se a palavra é surpreendente. Mas como taubateano é alarmante. Por isso, talvez esse sentimento tão à flor da pele ao longo dos últimos anos de que Taubaté está parada no tempo, que é um sentimento do taubateano de que os municípios vizinhos estão conseguindo acertar muito mais do que a gente, às vezes em coisas básicas. Eram frases recorrentes: ‘São José a gente já perdeu de vista’, ‘Pindamonhangaba está evoluindo muito mais rápido, está crescendo, está desenvolvendo’, ‘Olha o Natal Iluminado de Tremembé’, ‘Olha o a zeladoria de Tremembé’.

Essas coisas foram marcando e machucando o taubateano. Não que a gente torça para que os outros deem errado, é que a gente não aguenta mais não ter o mesmo sentimento de prosperidade e desenvolvimento do que os vizinhos. E é claro, todos eles também têm problemas, mas aos nossos olhos, a gente ficou para trás.

 

Diante de todo esse cenário apresentado, da dívida deixada pelas gestões passadas, o senhor tem uma estimativa de em quanto tempo será possível tirar a prefeitura dessa crise financeira?

Ainda não é possível cravar um tempo exato. Por dois motivos. Ainda não dá para ter clareza de quanto de dinheiro que a gente consegue encontrar nesse ano, mas vou dar dois exemplos desse primeiro mês que são mais marcantes.

A gente teve várias pequenas vitórias de valores em processos licitatórios, enfim, mas o de capina nas unidades escolares, por exemplo, o processo licitatório estava vindo para rua com uma pesquisa de preço ali de R$ 11 milhões. A gente mudou e simplesmente seguiu a lei. Usou como pesquisa a Base Nacional de Preços de Compras Públicas e caiu para R$ 2 milhões. É um valor muito discrepante.

A gente tomou a decisão para a compra do uniforme. A gente está pegando carona no mapa de registro de preço de um consórcio da região do Ribeirão Preto. A gente suspendeu o nosso processo legislativo que estava vindo para a rua, claro que era um processo mais amplo, mas comparando produto por produto, o que a gente comprou ou vai comprar por R$ 5 milhões custariam mais de R$ 8 milhões. São 40% de economia na compra de uniformes.

Então, se a gente seguir nessa linha, e eu tenho certeza que a gente tem algumas gorduras dentro do orçamento, a gente vai conseguir com mais celeridade, mas o valor é significativo. O que não é previsível agora nesse momento? É a receita.

Se você olhar os vídeos, por exemplo, a previsão do próprio governador [de São Paulo] Tarcísio [de Freitas], se você acompanhar a previsão dos bancos, muitos deles veem a arrecadação caindo. Então a gente vai conseguir bater a arrecadação? Porque as despesas eu acabo tendo um pouco mais de controle no que é possível renegociar e tenho as dívidas de acordos que eu não tenho acesso. Mas se a receita cair, vai cair quanto? Isso também prejudica o meu cálculo, certo?

 

O que fazer com relação à receita?

A gente está fazendo uma série de medidas para aumentar a receita, tanto na cobrança, na melhoria dos processos de cobrança interna, mas o mais importante para gente é gerar mais emprego, é trazer mais investimento, então isso também não é algo que é previsível. Agora o que eu posso garantir para todos, e a gente já recebeu diversos empreendedores aqui, industriais da área da construção civil, que a gente está reorganizando muito bem o nosso processo interno, inclusive todos os servidores da prefeitura nessa semana estão em treinamento com a nossa plataforma digital de processos internos, porque a gente quer dar muita celeridade para aprovar projeto, para aprovar obra, para aprovar empreendimento na nossa cidade. Porque isso gera emprego, isso gera receita, isso gera esse sentimento de desenvolvimento, de que a cidade está prosperando.

 

Com relação à necessidade de corte de despesas, já foi possível identificar quais contratos a Prefeitura pode reduzir?

Até sexta-feira a gente fez as renegociações de dívidas anteriores de contratos que já venceram. Essa semana a gente está sentando dentro do comitê, junto com cada secretário específico, sentando com o que a gente chama também dívida, com fornecedores de serviços contínuos. Então, a gente vai ter uma noção muito mais clara. A gente está pegando os principais contratos, isso a gente deixou na prestação de contas, tinha lá as principais dívidas e os principais fornecedores, que são muito parecidos. Estamos chamando para renegociar o valor mensal dos contratos. Estamos chamando todo mundo para renegociar o que a gente deve, as mensalidades daqui para frente.

Então, isso também é o nosso sucesso, também ajuda a impactar o tempo que a gente vai poder respirar com um orçamento próprio, para investir na cidade, para ter uma clareza melhor de quando a gente coloca a casa em dia.

 

Na lista de quem a prefeitura deve mais, a maioria é de prestação de serviço, como limpeza e transporte. Portanto, é um desafio duplo, de cuidar da dívida e melhorar a prestação de serviço, porque há uma insatisfação?

Exato, isso também reforça o tamanho do desafio. Estamos devendo uma parcela significativa do orçamento, a infraestrutura está precária e o serviço está ruim. Então, nada justificaria uma irresponsabilidade fiscal tão grande ao longo do tempo. Mas se o serviço estivesse sendo prestado com excelência, a população sentiria menos. Olha, eu estou devendo, mas o hospital triplicou o atendimento. Não, na verdade é o contrário. A gente está devendo nesse ano R$ 641 milhões e o hospital está semifechado. E para ampliar atendimento precisa de mais investimento, e a gente está devendo para a Organização Social da Saúde.

Boa parte das renegociações passa também por uma fiscalização melhor para a gente conseguir conquistar a confiança dos prestadores de serviço de que a gente vai honrar com os compromissos em dia.

 

Além de cortar gastos, há uma necessidade de aumentar receitas. O senhor pretende, ainda esse ano, enviar à Câmara projetos de revisão da planta genérica e da criação da taxa de lixo?

Então, a gente está estudando todas as possibilidades. Como eu sempre falei, a gente não quer aprovar nenhuma medida, a gente não quer passar essa conta para os taubateanos. Porque do mesmo jeito que a prefeitura não está conseguindo entregar bons serviços, o taubateano já está no limite de pagamentos. Agora, tem uma questão legal que a gente está estudando, que está sendo apontado pelo Tribunal de Contas, pelo Ministério Público, em relação à planta genérica. E tem algumas outras maneiras de você corrigir algumas injustiças de área construída, enfim, até de fiscalização. Tem casa que está registrada como terreno ainda, então corrigir essas distorções através de fiscalização e tecnologia.

 

Com relação à taxa de lixo, a cidade vai passar a cobrar?

Passaria a cobrar, porque agora a taxa de lixo não cobra, e estava no marco legal do saneamento. A gente está estudando o que é obrigatório, os impactos financeiros, não só para o município, mas também no bolso do cidadão. Então ainda não tem previsão desses projetos, mas a gente está estudando as melhores possibilidades para colocar a casa em ordem.

 

O senhor falou, anteriormente, que pretendia vender imóveis da prefeitura. Já deu para identificar exemplos de imóveis que poderão ser vendidos?

Isso com certeza. A gente entrega na primeira semana de fevereiro, quer dizer é uma das nossas metas para a primeira semana de fevereiro, a gente ter mapeado os imóveis da prefeitura num catálogo um pouco mais organizado. Porque também a gente não tinha essa informação de maneira estruturada. Até para a gente saber o que é viável, o que é possível, até avaliar os nossos interesses também com cada imóvel.

Por exemplo, uma coisa que eu já posso adiantar é a Esquina do Brasil. Ele está num projeto que o ex-prefeito mandou para a Câmara para a venda, com estimativa de valor de mercado de R$ 110 milhões, se não me engano. Não faz sentido algum para mim um espaço tão nobre, talvez um dos mais nobres do Brasil, se você considerar que é um entroncamento da Carvalho Pinto e da Via Dutra, atrás da LG.

Vender por R$ 110 milhões vai pagar uma dívida, mas você perde uma área que pode redefinir a vocação de Taubaté ou trazer tantos benefícios a mais de empreendimentos. Nossa missão é fazer um estudo do que seria mais viável para a cidade e melhor ao longo do tempo. Não pode ser uma decisão de curto prazo ali.

Por isso que o orçamento está superestimado. Para a venda de imóveis, eram R$ 140 milhões, só que R$ 110 milhões é de um específico que não faz sentido vender. Tem outros três que girariam em torno de R$ 30 milhões. Vou tentar fazer o máximo possível de venda de ativos, para a gente levantar recursos.

 

A prefeitura hoje tem muitos ativos?

A gente tem mais de uma centena, porque a gente tem escolas. Todos são prédios próprios. Áreas têm bastante. O número deve ser expressivo, mas nem todas são vendáveis, digamos, são comercializáveis. Tem que estudar, fazer estudo de cada um. Às vezes dá mais trabalho fazer levantamento de preço, de valor, colocar venda e o valor de mercado ser muito baixo não faz sentido.

 

Nos primeiros dias de governo, o senhor também voltou a falar sobre a concessão dos parques municipais. A ideia é fazer a concessão de todos eles? E isso pode avançar já nos próximos meses?

Os estudos avançarão, com certeza, mas nem todos os parques devem ter uma viabilidade financeira. Então, é encontrar as melhores soluções para cada tamanho. Por exemplo, tem o Parque do Itaim, que é maior em termos de metro quadrado do que o Parque do Ibirapuera. Então, ele tem várias possibilidades, imagino que seja o que tem a maior viabilidade financeira e de impacto para o município. O Parque Jardim das Nações está numa área nova, o Horto Municipal é maravilhoso. Tem que avaliar como é fazer essa concessão, se a empresa assume e monta pequenos empreendimentos ou não, se vai ter que ser da prefeitura mesmo e a gente contrata alguém para gerir e abate o valor com os serviços prestados lá dentro. Então, não adianta falar da boca para fora, tem que fazer um estudo de viabilidade de cada um.

Mas é muito importante para a gente, e muita gente questionou. Os acessos continuariam gratuitos, o que a prefeitura ganha é menos espaço para zeladoria, para manutenção, para segurança, a empresa fica responsável por tudo isso e melhora a experiência do taubateano, do usuário, e melhora a prestação de serviços. Você pode continuar entrando lá e fazendo um piquenique com a sua família se você quiser. Agora, se você quiser alugar uma bike, se quiser sentar no restaurante, você paga. O acesso continua gratuito. Você paga o estacionamento, enfim, eles encontram maneiras de rentabilizar, de ganhar dinheiro, para ter a contrapartida de pagar a segurança, zeladoria e melhorar a experiência de quem está curtindo. Então, para mim esse é o melhor modelo. E aí a prefeitura pode focar no que ela deve fazer por obrigação.

Porque é muito difícil justificar a gente gastar tanto dinheiro e tanto tempo em áreas que podem ser geridas pelo privado. Desde que bem feito o contrato e bem fiscalizado, e a gente tem um hospital semifechado.

 

Qual é o papel da iniciativa privada no seu governo? Tem ideia de parcerias, de doações? E sobre a questão da revitalização do centro de Taubaté?

O melhor programa social é o emprego, então a gente respeita muito quem toma risco, quem investe o dinheiro, quem gera emprego. E aí normalmente tem um preconceito, mas 99% das empresas no Brasil são micro e pequenas empresas. Então, para você melhorar e desenvolver sua cidade, você tem que ajudar o pequeno empreendedor. Todo mundo que tem um familiar, que é pequeno empreendedor, sabe o quanto atrapalhar menos ou ajudar, se possível, impacta a capacidade de crescimento desses pequenos e microempreendedores.

A gente vê com muito bons olhos essas parcerias, como eu falei na hora da concessão, de PPPs. Por exemplo, o Tarcísio está testando e a gente está acompanhando de perto a PPP da Educação. No final do dia, já era uma empresa privada que fazia a manutenção. Quando eu faço uma licitação para fazer uma obra dentro da escola, já é uma empresa privada que está ganhando, só muda a modalidade. Na PPP tem outros incentivos que eu acredito que podem ser positivos. Como essa empresa vai ficar responsável pela manutenção ao longo do tempo, ela tem mais incentivos para fazer boas obras e não precisar ficar gastando dinheiro com pequenas manutenções, que é o que a gente está cansado de ver. A empresa ganha uma licitação e, se for mal fiscalizada, muitas vezes a empresa recebe todo o dinheiro antes de terminar a obra, que é um absurdo, e aqui em Taubaté até aconteceu várias vezes. A gente paga caro, não tem a obra e a empresa some.

Uma PPP ela vai ser responsável por aquela manutenção ao longo do tempo. Ela tem um incentivo para fazer uma obra melhor, uma manutenção adequada, porque as preventivas normalmente ajudam a ficar mais barato todo o processo. A gente não tem problema com a empresa ganhar dinheiro. Desde que seja justo, desde que seja um preço justo, desde que a entrega seja de qualidade, desde que a entrega seja de acordo com o que foi combinado e contratado. Enfim, a iniciativa privada vai ser parceira e a gente entende que todas as cidades e todos os países que desenvolveram foram através da geração de emprego.

 

E a reunião com o pessoal do centro, especificamente sobre revitalização do centro?

Foi boa. Reunião majoritariamente com pequenos comerciantes que estão no centro. Ali tem uma discussão mais conceitual. Há vários países e cidades fazendo o processo de revitalização do centro, e isso passa por todos na mesma mesa. A prefeitura tem que melhorar os nossos serviços de segurança pública, e a gente já voltou a fazer a ronda, inclusive a ronda pé, que a turma gosta bastante, da atividade delegada da Polícia Militar. A gente tem que melhorar a iluminação, a gente entende também, voltando à iniciativa privada, para que tenha mais vida noturna, então a gente quer também conceder o Teatro Metrópole para a iniciativa privada, para fazer o investimento, para a gente pode solicitar ali 50, 100 datas para ficar com a prefeitura, para escolher projetos sociais ou escola pública para atender. Mas imagina que ótimo se a gente tivesse 200 datas privadas ali, onde eles pudessem trabalhar shows, enfim, e ajudar a movimentar o centro.

Investimento de infraestrutura, a gente discutiu bastante também, apesar de ser um ponto talvez mais polêmico, a concessão do Mercadão. A gente vai começar um diálogo com eles o quanto antes. Ali tem um potencial incrível. Se a gente conseguir acertar a mão no Mercadão, no Mercado Municipal, eu acho que boa parte do movimento da vida da revitalização do centro passa por ele. Porque ele tem um potencial de deixar o centro movimentado o dia inteiro.

Inclusive, fui comer um pastel lá esses dias e a pessoa falou: ‘Cara, antigamente a gente abria muito cedo e fechava 5 horas, porque o grande movimento era cedo’. Agora inverteu, nas palavras de um dos permissionários. Não fui lá nesse horário, então é com a ressalva de que pode ter outro ponto de vista. Mas ele falou assim: ‘Olha, agora a gente chega aqui 6 horas, 7 horas, ainda está morno. Só que a gente fecha às 5 horas e você vê 4h30 que começa a ferver o movimento’. Às vezes tem uma discussão de mudar, ampliar um pouco o horário poderia ajudá-los ou não. Eu tenho quase certeza que boa parte da turma ali toparia abrir a noite.

Acho que é mais uma decisão da prefeitura de não ter apoio, então a gente vai começar essa discussão. Vou falar por mim como cliente, eu adoraria. Jantar ali ou ter algum tipo de entretenimento mais à noite, porque é o Mercado Municipal, é cultural, é gostoso, enfim. Hoje durante a semana eu não consigo ir lá, a não ser que seja a trabalho, para ir comer um pastel, mas à noite, saindo do trabalho, seria uma alternativa.

 

Sobre o funcionalismo, no governo anterior o número de comissionados na Prefeitura saltou de 100 para 175. As funções de confiança também aumentaram bastante. O senhor também pretende fazer cortes nisso?

A gente já fez. A gente já tem mais de 20% de economia nesses espaços, acho que quase 60% dos nomeados são servidores, que ajudam a fazer a máquina andar. O que acontece em Taubaté, particularmente, é que a gente não tem plano de carreira dos servidores. Então, boa parte dos servidores entra como escriturário e eles precisam de um cargo de confiança ou de comissão para poder executar outras funções.

A gente tem muitos talentos aqui dentro, só que muitas vezes o processo de entrada deles foi para um cargo que não faz jus à competência e não tem um plano de carreira para ele seguir esses trâmites. Então, a gente vai ter que fazer uma reforma administrativa, até porque esses cargos especificamente estão na justiça. A gente vai reduzir a quantidade, óbvio, mas acho que o mais importante é que esse ano a gente já tem uma consultoria contratada para ajudar a gente a tentar corrigir as distorções. A minha promessa, e eu espero que eu consiga executar no segundo ano, aí sim o plano de carreira. Porque isso faz toda a diferença para o bom andamento da máquina e, como eu falei, talvez com os servidores alocados devidamente na sua carreira sem tanto risco de perder boa parte do seu salário, porque se eles forem retirados esses cargos eles voltam para um salário muito inferior, talvez o nível de governança da prefeitura seria muito maior, não teria tanta disrupção do serviço nas trocas de gestão.

 

Nesse primeiro mês de governo, quantos dos cargos comissionados já foram preenchidos?

Ah, eu não lembro o valor exato, mas todo mundo tem a meta de 30%, mas o que a gente está vendo é que tem não só os cargos de comissão e depois tem os cargos de confiança. Então, cada secretaria está fazendo o seu processo interno para a execução de serviço. O grande desafio é que a demanda é muito grande e reprimida.

 

Mas você vai diminuir aqueles 175 do ano passado?

Definitivamente não vamos chegar [nesse número]. Como eu falei, já não lembro o valor exato, mas tem perto de 30%, tem mais de 20% com certeza, não sei se bateu 30% nesses cargos especiais, por exemplo, porque depois também tem a meta, que é redução global de 30%. Tem outras formas de redução. Até por isso que boa parte são servidores para ajudar a gente na manutenção do serviço. Como não tem plano de carreira, se ele não ficar em algum, se ele não tiver algum cargo ali, ele volta para escriturário e tem salários de, às vezes, a pessoa sai de R$ 8.000 de gestor para R$ 1.500.

 

A ideia, então, é fazer essa reforma administrativa?

A reforma administrativa ela só diz respeito a cargos. O mais importante para mim, vai ser uma medida melhor de longo prazo, é um bom plano de carreira e ter carreiras mais específicas. Não abrir mais concurso também para escriturário. Que a pessoa que entra ali e depois ela pode ser alocada em qualquer lugar. Isso é muito ruim, isso mina a continuidade, isso mina até uma clareza de propósito da pessoa dentro do serviço.

 

E a proposta é no segundo ano você fazer esse plano de carreira?

Essa é a nossa meta.

 

Na semana passada, o senhor falou sobre a intenção de abrir um PDV na Prefeitura, o que dependeria de aprovação dos vereadores. O senhor já tem uma ideia de quando esse projeto vai para a Câmara e de quando o PDV poderá ser aberto?

Deve entrar acho que até março a gente apresenta e aprova. Até porque a aprovação não deve ser tão complexa, porque, reforço, é um programa de demissão voluntária. Se zero pessoas quiser aderir, zero pessoas serão demitidas. Só que a gente recebeu no direct ou nas redes sociais pessoas que estão animadas porque já estavam pensando em sair, e com incentivos, de abonos e salários a serem pagos, essa pessoa está disposta a tomar essa decisão. Para quem não quiser sair, não vai mudar absolutamente nada. É um programa de demissão voluntária.

A pessoa que está querendo sair adere ao programa, recebe ali, e essa conta que está sendo feita. Ela recebe ali dias ou meses, dependendo do tempo de serviço, adicionais para pedir demissão. Então, é só uma adequação.

 

Na apresentação das dívidas, o senhor chegou a dizer que seria em torno de 10% dos servidores, o que dá em torno de 670. Essa é a meta?

Uma boa correção aqui, eu não falei que seriam 10%. Alguém ficou me perguntando: ‘Mas tem um número?’. Eu falei: ‘Olha, o PDV de Pindamonhangaba teve 10% de adesão, se aqui tiver 10% de adesão, seria uns 670’. Agora, vai ser tudo isso? Não, os moldes são diferentes. Lá tinha gente contratada por CLT, tinha um incentivo do fundo de garantia. Aqui, a gente tem que encontrar os incentivos corretos e tem que respeitar a nossa limitação orçamentária. Então, não dá para saber a estimativa.

O que eu quero é ter mais uma ferramenta para os servidores que estão preparados para tomar essa decisão, que a tomem, que possam ir buscar os seus caminhos para empreender, enfim. E depois dar uma clareza maior para a gente reorganizar a máquina também.

 

Considerando o PDV e os quatro concursos públicos cancelados em janeiro, não existe risco de faltar funcionário para prestar os serviços públicos ou está sobrando muita gente?

Não, a gente não sabe ainda. Estamos fazendo o diagnóstico e está para começar, não sei se já começou, a fazer o recadastramento de todos os funcionários. Porque como eu falei de governança, tem vários servidores no sistema alocados numa secretaria ou em outras, mas quando você vai procurá-los a não encontrou basicamente. Então, a gente está fazendo um recadastramento para chamar todo mundo novamente para se apresentar e falar onde está locado para a gente conseguir organizar a casa.

Inclusive, conversando com o governador Tarcísio ele disse que fez uma prova de vida no serviço público estadual e encontrou 2% de servidores inexistentes. Pode ser falha do sistema, pode ser má-fé, por ser uma máquina tão grande. Mas aqui a gente tem sistemas, a gente teve várias mudanças de sistemas precárias que podem ter afetado, pode ser, inclusive, que a pessoa já faleceu, mas continua ali dentro da folha de pagamento. Agora, novamente, dá para ter uma estimativa? Dá para saber se isso acontece em Taubaté? Não dá, mas a gente está fazendo o recadastramento porque para a gente conseguir garantir que a realidade do serviço esteja de acordo com a nossa legislação e com o nosso sistema. Porque hoje tem secretarias que aparecem com muito mais gente do que do que tem de fato. A gente vai fazer ao longo do tempo e por secretaria, com calma. Mas a gente vai divulgar para ter certeza, caso haja alguma discrepância.

 

Durante a campanha e em alguns outros momentos, o senhor falou muito em metas, que o senhor trabalha em cima de metas. Diante de todo o desafio, como é que você espera terminar o primeiro ano de mandato, que é o ano que você vai efetivamente construir o orçamento do segundo ano? Qual é o cenário financeiro e de serviços que você espera chegar ao final de 2025?

Olha, até por trabalhar bastante com metas, a gente está tendo dificuldade de com o tempo que a gente está tomando para conseguir organizar a casa. A gente revisitou quase todas as metas de 100 dias dada a situação que a gente encontrou aqui, e não só a financeira, mas do tempo que a gente está precisando para conseguir colocar os processos em ordem. Então, não adianta falar por falar um número e depois não ser factível. Então, a gente está revisando todas as metas para ser mais factível, e agora organizar processo passou a ser uma meta dentro dos 100 dias. Conseguir deixar um nível de governança estruturado dentro da Secretaria de Governo.

Tem algumas metas mais objetivas que a gente já está conversando. Mutirões de saúde, por exemplo, a gente já conseguiu retomar, com exames por mês adicionais dentro do HMUT e também alguns que não é possível fazer no hospital, mas numa clínica parceira. A gente saiu de três equipes próprias de zeladoria e uma da Eco Taubaté para essa semana completando oito.

Então hoje a cidade está um caos em termos de zeladoria porque a gente teve que tirar todo mundo e voltá-los para dentro das escolas, para conseguir entregar todas as escolas bem cuidadas no dia 6 de fevereiro. Então, encerrado esse serviço, voltam todas as equipes para rua. Foi uma opção nossa por não tinha um contrato vigente de capina, não tem o que fazer. A gente teve que escolher entre um e outro.

Tenho certeza que a gente já tem uma quantidade de equipes que vão fazer muita diferença. O caos que a gente está vendo em janeiro, até porque também é o mês mais difícil para zeladoria. Em fevereiro a gente já vai ver a cidade com outra cara, em termos de mato cortado e cidade bem cuidada. A gente tem uma meta importante. E hoje choveu e você deve ter visto mais problemas novamente na Avenida do Povo.

Tem duas obras de drenagem na Avenida do Povo e no Campos Elíseos. Então, dentro de 100 dias a gente vai ter licitado essa obra. A gente não consegue começar a executar a obra. Um processo licitatório é moroso, mas vamos ter licitado dentro dos 100 dias. Isso é processo, isso é governança, para um tamanho de alocação de capital é colocar gente boa para conseguir fazer as planilhas, fazer o estudo para soltar a licitação na rua.

Estudos de viabilidade para os parques, como falei, alguns já saem dentro de 100 dias. Então, a gente adiou a definição da meta de final de ano. E a gente sabe que vai ter ainda alguns restos a pagar. A gente está nesse momento sentando com todos os principais fornecedores e as maiores dívidas para renegociar para trás. Então, se eles toparem um parcelamento mais longo, isso me dá um respiro muito maior. Se eles não toparem, mas concederem um desconto e renegociarem em menos tempo, isso muda minha capacidade de investimento e resposta no primeiro ano, mas ao mesmo tempo eu tenho um desconto significativo no valor que eu devo.

Então, eu não estou preocupado com isso agora, porque a gente está fazendo micro metas e vivendo um dia de cada vez. No final de fevereiro, tenho certeza que a gente vai ter muito mais clareza do tamanho do passivo, de quanto a gente conseguiu alongar a dívida. Já vai ter mais clareza também nas previsões de queda de arrecadação. Então, a gente está fazendo o que é possível para agora.

 

Como é que vai ser sua pegada como prefeito? Você vai muito para rua, vai fazer encontros com a associação de bairro, população, contato direto com o povo?

Inclusive, eu estou sofrendo aqui nesse gabinete porque a gente acaba gastando muito tempo interno para revisão. Me faz bem sair para rua e com certeza vai ser assim. A coletiva de imprensa, de certa forma, foi uma primeira prestação de contas. E a gente quer fazer mais duas, uma para falar da infraestrutura, apresentar como estão nossos imóveis, porque isso toma muito tempo e recurso. O próprio atendimento ao cidadão ou ao próprio servidor está muito precarizado com a infraestrutura que a gente pegou.

E outra coletiva de saúde também, porque a saúde é a maior dor do taubateano. Hoje a gente tem uma série de desafios, de processos, de RH, de investimento errado, um hospital semifechado, então eu preciso apresentar um diagnóstico mais claro para a população e aí apresentar um plano mais factível do que é possível ajustar ao longo tempo. De novo, por que não volta o hospital universitário de uma vez 100% da capacidade. Porque exige uma capacidade de investimento mensal que a gente não tem. É matemática. Então, porque a gente quer apresentar um plano, até porque também depois de ter esse plano bem desenhado, a gente tem mais ferramentas para conversar com o governo do estado, com o governo federal. A gente está fazendo a tarefa de casa para quando a gente chegar para conversar com possíveis parceiros, demonstrar que a gente fez a tarefa de casa.

Eu fui deputado estadual, fui chefe de gabinete de um deputado parceiro, próximo ao governo governador Tarcísio, e acompanhava as reuniões com o secretariado e a desorganização de Taubaté era nítida e isso impedia vários tipos de parcerias de relacionamento. Então, a gente tem que mostrar que a chave virou e que a gente tem bons projetos e capacidade de receber mais verbas.

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