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21 de março de 2023

DIA DA MULHER

DIA DA MULHER

Vozes plurais: mulheres de São José falam sobre suas jornadas, desejos e feitos

Vozes plurais: mulheres de São José falam sobre suas jornadas, desejos e feitos

“Eu não esmoreço. Eu tenho meus ideais, luto por eles e não desisto. Isso me dá orgulho”, diz a cientista Luciana Gatti, uma das entrevistadas de OVALE

“Eu não esmoreço. Eu tenho meus ideais, luto por eles e não desisto. Isso me dá orgulho”, diz a cientista Luciana Gatti, uma das entrevistadas de OVALE

Por Thais Perez | 08/03/2023 | Tempo de leitura: 5 min
São José dos Campos
OVALE

Por Thais Perez
São José dos Campos

08/03/2023 - Tempo de leitura: 5 min
OVALE

Arquivo Pessoal

Mulheres com jornadas distintas e o mesmo desejo: uma sociedade igualitária

Na capital da RMVale (Região Metropolitana do Vale do Paraíba), São José dos Campos, existem mais mulheres do que homens. A população é composta por 51,01% de mulheres e 48,99% de homens. Marcada pelo desenvolvimento econômico e tecnológico, São José é formada por histórias de mulheres plurais, que lutam todos os dias por uma sociedade mais igualitária e justa.

OVALE
selecionou diferentes mulheres para falarem sobre suas perspectivas, conquistas e desejos neste Dia Internacional da Mulher. Mulheres que, a partir de suas vivências, compartilharam suas narrativas únicas com o público.

Luciana Gatti

O currículo da cientista não cabe neste espaço. Titular do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a doutora atua nas áreas de Geociências, Química da atmosfera, com ênfase em Análise de Gases e Química Ambiental. Sua pesquisa sobre o desmatamento da Amazônia e seus efeitos é de grande importância para chamar a atenção para os efeitos sobre as mudanças climáticas e a situação política que envolve garimpeiros na região.

Luciana se descreve como persistente e lutadora. Características que foram essenciais para seu crescimento e reconhecimento na profissão. “A minha principal dificuldade na jornada foi superar a discriminação, né? A maneira como somos olhadas é com superioridade, como se nós fôssemos inferiores, menos capazes”, explica ela. “Eu espero uma sociedade mais justa, igualitária, onde nós tenhamos exatamente as mesmas oportunidades que os homens”, completa.

Com suas contribuições para a ciência, exercendo um papel de protagonismo na sociedade, Luciana se põe como um exemplo e inspiração para outras mulheres. “Eu não esmoreço. Eu tenho meus ideais, luto por eles e não desisto. Isso me dá orgulho”, diz ela.

Ingrid de Sá

Jovem militante, preta e periférica. Ingrid é o retrato da mulher brasileira moderna, preocupada com questões sociais que para ela são muito mais do que pauta, mas vivências. É fundadora do Quilombo Abayomi, no Campo dos Alemães, onde oferece assistência para a comunidade, principalmente para mulheres em situação de violência.

Ingrid considera que seu maior desafio enquanto mulher na sociedade foi perceber que antes de enxergá-la como mulher, as pessoas a enxergavam como negra. “Para as mulheres negras seu lugar e mais inferiorizado ainda”, explica. “Quando você rejeita esse papel de opressão que já nasce com você, e escolhe estar nos lugares de decisão da sociedade é uma luta constante”, completa a educadora.

Em seu trabalho, ela enxerga seus feitos não só como vitórias individuais, mas coletivas. “Entender que as vitórias só se dão de forma coletiva molda minha existência, e meu propósito de vida. Entendo que não é apenas minha vitória individual que trará avanço pra sociedade. A partir disso, doou parte do meu tempo para impulsionar outras mulheres como eu”, explica.

Bruniely Lemos
Ser mulher fez com que Bruniely perdesse empregos, amigos e família. Contudo, os rótulos impostos pela sociedade sobre si e seu corpo nunca a derrubaram. Sua luta constante fez com que superasse as dificuldades multiplicadas que teve que enfrentar em sua jornada.

À frente da Associação Transbordando, Bruniely ajuda mulheres e homens como ela, que precisam enfrentar a dura realidade dos transexuais no Brasil. Tendo passado pelo presídio e pela prostituição, Bruniely atualmente também é distribuidora de uma marca famosa de cosméticos e teve sua história compartilhada em todo o Brasil.

“Eu espero de coração uma sociedade mais justa e igualitária para todas as pessoas,  desejo lugares seguros para todas as mulheres e que possamos viver livres, donas de si e sem o medo de sermos violentadas”, declara Bruniely.

Ela explica que desde cedo teve que se acostumar a uma vida cercada de violência, abandono, exclusão social e a falta de oportunidades. “O perigo é real e ele nos sonda o tempo todo, necessitei de coragem para chegar até aqui, para mim não foi nada fácil”, pontua.

Em sua associação, ela luta para diminuir as lacunas que cercam a vida de quem é trans. “Hoje eu trabalho todos os dias derrubando muros e construindo pontes, para incluir essas pessoas em todas as esferas da sociedade. Tenho muito orgulho de mim mesma pois eu nunca perdi a minha fé e não desisti de lutar, tenho orgulho de mim por ter transformado todo meu sofrimento em amor e ter revertido para a vida das pessoas que nunca tiveram oportunidades e apoio”, finaliza.


Cristina Moreira
Quando sua filha nasceu, Cristina compartilhou seu nome com ela em uma ligação que nunca poderá ser cortada, nem mesmo pela morte. Diane Cristina foi morta em 2021 pelo seu ex-companheiro, uma perda que Cristina sofre diariamente, mas enfrenta com a força e sangue de uma matriarca.

Cristina lutou pela condenação do assassino de sua filha com todas as duas forças. Não queria que o caso ficasse esquecido, que o nome da sua filha e o que aconteceu com ela fossem apagados.

“Minha jornada nunca foi fácil, sempre com bastante dificuldade e obstáculo, mas nada que me abalasse”, conta Cristina, que trabalhava para ajudar a filha e tinha uma vida simples, mas batalhadora. “A parte mais cruel dessa jornada foi quando perdi minha filha, pensei que não sobreviveria, tamanha a crueldade”, explica ela.

Diane recebeu 33 facadas do ex-companheiro, que não aceitou o fim do relacionamento. Ela foi morta dentro de casa, na frente de um de seus filhos pequenos. “Estou sobrevivendo a cada dia no meio de tanta dor, busco força nos meus pequeninos, meus quatro netos. O que me faz ter orgulho de mim mesmo é saber que sou capaz de vencer tantas dificuldades e ainda poder sorrir para quem precisa”, declarou.

Juliana Bogos
Juliana nunca imaginou que seu nome ganharia manchetes por um caso de violência. Nesta semana, sua história ficou conhecida pela sua coragem de denunciar e falar sobre seu caso abertamente. Uma violência brutal, sofria na própria casa, onde foi mantida presa pelo ex-companheiro.

O simples fato de dar um “não”, pode-se tornar um gatilho para a violência contra a mulher. No caso de Juliana, as marcas não sumiram tão cedo. As internas, ficarão para sempre dentro de si. O ex-namorado derramou água fervendo em seu rosto.

Hoje, ela tem orgulho de ser ela. Juliana. “Assim como tantas outras mulheres, eu sempre fui atrás do que era possível conquistar e hoje acredito que nada é impossível para uma mulher que luta por dignidade”, diz ela.

Atualmente ela vê sua contribuição na sociedade como mulher em sua profissão como educadora, mas também como um sinal de alerta. “Minha contribuição também é a de contar a triste situação que vivi para alertar outras mulheres a não passarem por essa situação e acreditarem na força que elas tem e buscar apoio”, finaliza.

Na capital da RMVale (Região Metropolitana do Vale do Paraíba), São José dos Campos, existem mais mulheres do que homens. A população é composta por 51,01% de mulheres e 48,99% de homens. Marcada pelo desenvolvimento econômico e tecnológico, São José é formada por histórias de mulheres plurais, que lutam todos os dias por uma sociedade mais igualitária e justa.

OVALE
selecionou diferentes mulheres para falarem sobre suas perspectivas, conquistas e desejos neste Dia Internacional da Mulher. Mulheres que, a partir de suas vivências, compartilharam suas narrativas únicas com o público.

Luciana Gatti

O currículo da cientista não cabe neste espaço. Titular do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a doutora atua nas áreas de Geociências, Química da atmosfera, com ênfase em Análise de Gases e Química Ambiental. Sua pesquisa sobre o desmatamento da Amazônia e seus efeitos é de grande importância para chamar a atenção para os efeitos sobre as mudanças climáticas e a situação política que envolve garimpeiros na região.

Luciana se descreve como persistente e lutadora. Características que foram essenciais para seu crescimento e reconhecimento na profissão. “A minha principal dificuldade na jornada foi superar a discriminação, né? A maneira como somos olhadas é com superioridade, como se nós fôssemos inferiores, menos capazes”, explica ela. “Eu espero uma sociedade mais justa, igualitária, onde nós tenhamos exatamente as mesmas oportunidades que os homens”, completa.

Com suas contribuições para a ciência, exercendo um papel de protagonismo na sociedade, Luciana se põe como um exemplo e inspiração para outras mulheres. “Eu não esmoreço. Eu tenho meus ideais, luto por eles e não desisto. Isso me dá orgulho”, diz ela.

Ingrid de Sá

Jovem militante, preta e periférica. Ingrid é o retrato da mulher brasileira moderna, preocupada com questões sociais que para ela são muito mais do que pauta, mas vivências. É fundadora do Quilombo Abayomi, no Campo dos Alemães, onde oferece assistência para a comunidade, principalmente para mulheres em situação de violência.

Ingrid considera que seu maior desafio enquanto mulher na sociedade foi perceber que antes de enxergá-la como mulher, as pessoas a enxergavam como negra. “Para as mulheres negras seu lugar e mais inferiorizado ainda”, explica. “Quando você rejeita esse papel de opressão que já nasce com você, e escolhe estar nos lugares de decisão da sociedade é uma luta constante”, completa a educadora.

Em seu trabalho, ela enxerga seus feitos não só como vitórias individuais, mas coletivas. “Entender que as vitórias só se dão de forma coletiva molda minha existência, e meu propósito de vida. Entendo que não é apenas minha vitória individual que trará avanço pra sociedade. A partir disso, doou parte do meu tempo para impulsionar outras mulheres como eu”, explica.

Bruniely Lemos
Ser mulher fez com que Bruniely perdesse empregos, amigos e família. Contudo, os rótulos impostos pela sociedade sobre si e seu corpo nunca a derrubaram. Sua luta constante fez com que superasse as dificuldades multiplicadas que teve que enfrentar em sua jornada.

À frente da Associação Transbordando, Bruniely ajuda mulheres e homens como ela, que precisam enfrentar a dura realidade dos transexuais no Brasil. Tendo passado pelo presídio e pela prostituição, Bruniely atualmente também é distribuidora de uma marca famosa de cosméticos e teve sua história compartilhada em todo o Brasil.

“Eu espero de coração uma sociedade mais justa e igualitária para todas as pessoas,  desejo lugares seguros para todas as mulheres e que possamos viver livres, donas de si e sem o medo de sermos violentadas”, declara Bruniely.

Ela explica que desde cedo teve que se acostumar a uma vida cercada de violência, abandono, exclusão social e a falta de oportunidades. “O perigo é real e ele nos sonda o tempo todo, necessitei de coragem para chegar até aqui, para mim não foi nada fácil”, pontua.

Em sua associação, ela luta para diminuir as lacunas que cercam a vida de quem é trans. “Hoje eu trabalho todos os dias derrubando muros e construindo pontes, para incluir essas pessoas em todas as esferas da sociedade. Tenho muito orgulho de mim mesma pois eu nunca perdi a minha fé e não desisti de lutar, tenho orgulho de mim por ter transformado todo meu sofrimento em amor e ter revertido para a vida das pessoas que nunca tiveram oportunidades e apoio”, finaliza.


Cristina Moreira
Quando sua filha nasceu, Cristina compartilhou seu nome com ela em uma ligação que nunca poderá ser cortada, nem mesmo pela morte. Diane Cristina foi morta em 2021 pelo seu ex-companheiro, uma perda que Cristina sofre diariamente, mas enfrenta com a força e sangue de uma matriarca.

Cristina lutou pela condenação do assassino de sua filha com todas as duas forças. Não queria que o caso ficasse esquecido, que o nome da sua filha e o que aconteceu com ela fossem apagados.

“Minha jornada nunca foi fácil, sempre com bastante dificuldade e obstáculo, mas nada que me abalasse”, conta Cristina, que trabalhava para ajudar a filha e tinha uma vida simples, mas batalhadora. “A parte mais cruel dessa jornada foi quando perdi minha filha, pensei que não sobreviveria, tamanha a crueldade”, explica ela.

Diane recebeu 33 facadas do ex-companheiro, que não aceitou o fim do relacionamento. Ela foi morta dentro de casa, na frente de um de seus filhos pequenos. “Estou sobrevivendo a cada dia no meio de tanta dor, busco força nos meus pequeninos, meus quatro netos. O que me faz ter orgulho de mim mesmo é saber que sou capaz de vencer tantas dificuldades e ainda poder sorrir para quem precisa”, declarou.

Juliana Bogos
Juliana nunca imaginou que seu nome ganharia manchetes por um caso de violência. Nesta semana, sua história ficou conhecida pela sua coragem de denunciar e falar sobre seu caso abertamente. Uma violência brutal, sofria na própria casa, onde foi mantida presa pelo ex-companheiro.

O simples fato de dar um “não”, pode-se tornar um gatilho para a violência contra a mulher. No caso de Juliana, as marcas não sumiram tão cedo. As internas, ficarão para sempre dentro de si. O ex-namorado derramou água fervendo em seu rosto.

Hoje, ela tem orgulho de ser ela. Juliana. “Assim como tantas outras mulheres, eu sempre fui atrás do que era possível conquistar e hoje acredito que nada é impossível para uma mulher que luta por dignidade”, diz ela.

Atualmente ela vê sua contribuição na sociedade como mulher em sua profissão como educadora, mas também como um sinal de alerta. “Minha contribuição também é a de contar a triste situação que vivi para alertar outras mulheres a não passarem por essa situação e acreditarem na força que elas tem e buscar apoio”, finaliza.

Luciana Gatti, cientista do INPE
Ingrid de Sá, educadora e militante
Bruniely Lemos, embaixadora trans da Avon e militante
Cristina Moreira, mãe de Diane Cristina
Juliana Bogos, educadora

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