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31 de março de 2023

CULTURA

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Projeto de lei quer proibir blocos de Carnaval em áreas residenciais de São José

Projeto de lei quer proibir blocos de Carnaval em áreas residenciais de São José

Segundo a justificativa do projeto, 'a festa pode vir a trazer problemas', proposta surge após críticas do prefeito sobre blocos ligados a partidos de esquerda

Segundo a justificativa do projeto, 'a festa pode vir a trazer problemas', proposta surge após críticas do prefeito sobre blocos ligados a partidos de esquerda

Por Thais Perez | 07/03/2023 | Tempo de leitura: 4 min

Por Thais Perez
07/03/2023 - Tempo de leitura: 4 min

Divulgação

Bloco Capivara Neon foi alvo de críticas do prefeito

Um projeto de lei em São José dos Campos tem como objetivo proibir blocos de Carnaval em áreas hospitalares e residenciais. Criada pelo vereador Marcão da Academia (PSD), liderança do governo na Câmara Municipal, a proposta foi lida em plenário no dia 1º de março e está em fase de apresentações de emendas.

Segundo a justificativa do projeto, “a festa pode vir a trazer problemas para quem vive ou trabalha em determinado bairro e, quem sofre com isso, são os moradores dos condomínios e casas”.

A proposta vem após críticas do prefeito Anderson Farias (PSD) ao bloco Capivara Neon, que desfilou no dia 19 de fevereiro nas ruas do Jardim Maringá, saindo da Praça Pedro Américo.

Na quinta-feira pós-Carnaval, o prefeito deu uma entrevista à rádio Jovem Pan afirmando que um dos blocos havia causado problemas, citando um episódio de furto a um posto de gasolina em que duas pessoas foram detidas.

"Dos demais, correu tudo muito bem. Foi um bloco pequeno, com poucas pessoas, mas com grandes problemas. Um bloco inclusive ligado a um partido político", disse Farias.

O vereador argumenta que, junto com a diversão “o blocos trazem muito barulho, sujeira e brigas”, além de incomodar pessoas com Espectro Autista e idosos.

“O som (barulho) causa estresse em idosos e nas pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), principalmente as crianças, pois tem hipersensibilidade a sons, onde o barulho provoca uma sobrecarga aos seus sentidos, ao mesmo tempo ocasionando crises como choros, além de instabilidade emocional e comportamental”, finaliza.

REBATE.
O Bloco Capivara Neon foi formado neste ano por moradores da região, para realizar dois desfiles, um no dia 19 de fevereiro em São José e outro no dia 20, em Jacareí, cidade em que fora selecionado através de um edital.

Participam do grupo cerca de 50 pessoas, entre ritmistas, apoio, núcleo artístico e organização. No domingo de Carnaval, o bloco reuniu cerca de 3 mil pessoas no trajeto que saiu da Praça Pedro Américo, até a Avenida Serimbura, no Jardim Maringá. O bloco começou a concentração por volta das 16h e teve seu encerramento às 20h.

No final da tarde, diversos jovens se reuniram na Praça Pedro Américo, que nos finais de semana costuma ser local dos chamados “fluxos”, com carro de som e jovens consumindo bebidas ao ar livre. Esse tipo de reunião tem acontecido nas sextas e sábados, mas durante o Carnaval, se estendeu.

“O bloco não tem relação com o fluxo ou com outras manifestações que aconteceram no local naquele dia”, disse Amanda Menconi, mestra e compositora do bloco Capivara Neon.

“A gente defende que o poder público incentive políticas públicas de cultura para os jovens que frequentam os fluxos”, pontuou.

O bloco teve seu encerramento em frente a um bar, dos muitos que aproveitaram a passagem do grupo carnavalesco para faturar. Para participar do Carnaval de São José nas ruas, os organizadores conseguiram autorização prévia com a prefeitura e pagaram uma taxa de R$ 300 para custear a estrutura de agentes de trânsito, coletores de lixo e banheiros químicos que haviam no local.

“Somos um bloco independente, não perguntamos para ninguém que quer participar se possui filiação política. Nós somos a favor da constituição democrática, contra censura, a favor da liberdade de associação. O Capivara Neon não é um partido político e sim um bloco de Carnaval”, completa Amanda. Ela e o grupo se posicionam contra a proposta que tramita na Câmara Municipal.

“Somos contra essa tentativa de criminalização do carnaval. Acreditamos que o poder público e legislativo devia apresentar propostas para a cultura popular na cidade, invés de proibir”, finaliza.

Renata Belzunces, de 45 anos, é moradora da região onde o Bloco Capivara Neon passou e participou da festa. “Esse carnaval foi melhor carnaval que eu passei aqui em São José. Foi muito bonito ver quanto a gente tem de cultura na cidade. O que aconteceu é que falta uma pública para a juventude nessa cidade. A juventude que tem acesso à cultura e lazer, é  juventude que não vai dar respostas como essas que vimos no Carnaval”, completa.

OUTROS BLOCOS.

O Bloco Balaio é promovido pelo Ponto de Cultura Espaço Balaioo há 5 anos e passa por ruas residenciais na região do Putim. Jéssica Souza, gestora cultural do espaço, acredita que o projeto vai contra a cultura popular do Carnaval de rua que vem crescendo em São José dos Campos.

“A mais de dez anos São José deixou de ter o carnaval com desfiles de escolas, e desde então os blocos de rua resistem. Infelizmente estamos acompanhando a prefeitura ‘comercializar e terceirizar’ os blocos, concentrando em uma região, de difícil acesso às comunidades periféricas e rurais como a nossa”, explica Jéssica.

“Nunca houve nenhuma ocorrência registrada, nem antes, nem durante e nem após os nossos desfiles. Penso que este seja o momento do executivo e legislativo abrir diálogo com os grupos, que já estão articulados, e também com a população para pensar em novas maneiras de fomentar o carnaval de rua”, completa.

Há quase 10 anos, o Bloco do Brabuleta desfila na zona sul da cidade. Neste ano, o bloco fez o percurso e fez a dispersão por volta das 19h30. Após esse horário, jovens se reuniram na praça para continuar a festa de Carnaval, mesmo não estando ligados ao bloco. Por volta das 22h, a GCM (Guarda Civil Municipal) e a PM dispersaram o fluxo de pessoas no local.

Um projeto de lei em São José dos Campos tem como objetivo proibir blocos de Carnaval em áreas hospitalares e residenciais. Criada pelo vereador Marcão da Academia (PSD), liderança do governo na Câmara Municipal, a proposta foi lida em plenário no dia 1º de março e está em fase de apresentações de emendas.

Segundo a justificativa do projeto, “a festa pode vir a trazer problemas para quem vive ou trabalha em determinado bairro e, quem sofre com isso, são os moradores dos condomínios e casas”.

A proposta vem após críticas do prefeito Anderson Farias (PSD) ao bloco Capivara Neon, que desfilou no dia 19 de fevereiro nas ruas do Jardim Maringá, saindo da Praça Pedro Américo.

Na quinta-feira pós-Carnaval, o prefeito deu uma entrevista à rádio Jovem Pan afirmando que um dos blocos havia causado problemas, citando um episódio de furto a um posto de gasolina em que duas pessoas foram detidas.

"Dos demais, correu tudo muito bem. Foi um bloco pequeno, com poucas pessoas, mas com grandes problemas. Um bloco inclusive ligado a um partido político", disse Farias.

O vereador argumenta que, junto com a diversão “o blocos trazem muito barulho, sujeira e brigas”, além de incomodar pessoas com Espectro Autista e idosos.

“O som (barulho) causa estresse em idosos e nas pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), principalmente as crianças, pois tem hipersensibilidade a sons, onde o barulho provoca uma sobrecarga aos seus sentidos, ao mesmo tempo ocasionando crises como choros, além de instabilidade emocional e comportamental”, finaliza.

REBATE.
O Bloco Capivara Neon foi formado neste ano por moradores da região, para realizar dois desfiles, um no dia 19 de fevereiro em São José e outro no dia 20, em Jacareí, cidade em que fora selecionado através de um edital.

Participam do grupo cerca de 50 pessoas, entre ritmistas, apoio, núcleo artístico e organização. No domingo de Carnaval, o bloco reuniu cerca de 3 mil pessoas no trajeto que saiu da Praça Pedro Américo, até a Avenida Serimbura, no Jardim Maringá. O bloco começou a concentração por volta das 16h e teve seu encerramento às 20h.

No final da tarde, diversos jovens se reuniram na Praça Pedro Américo, que nos finais de semana costuma ser local dos chamados “fluxos”, com carro de som e jovens consumindo bebidas ao ar livre. Esse tipo de reunião tem acontecido nas sextas e sábados, mas durante o Carnaval, se estendeu.

“O bloco não tem relação com o fluxo ou com outras manifestações que aconteceram no local naquele dia”, disse Amanda Menconi, mestra e compositora do bloco Capivara Neon.

“A gente defende que o poder público incentive políticas públicas de cultura para os jovens que frequentam os fluxos”, pontuou.

O bloco teve seu encerramento em frente a um bar, dos muitos que aproveitaram a passagem do grupo carnavalesco para faturar. Para participar do Carnaval de São José nas ruas, os organizadores conseguiram autorização prévia com a prefeitura e pagaram uma taxa de R$ 300 para custear a estrutura de agentes de trânsito, coletores de lixo e banheiros químicos que haviam no local.

“Somos um bloco independente, não perguntamos para ninguém que quer participar se possui filiação política. Nós somos a favor da constituição democrática, contra censura, a favor da liberdade de associação. O Capivara Neon não é um partido político e sim um bloco de Carnaval”, completa Amanda. Ela e o grupo se posicionam contra a proposta que tramita na Câmara Municipal.

“Somos contra essa tentativa de criminalização do carnaval. Acreditamos que o poder público e legislativo devia apresentar propostas para a cultura popular na cidade, invés de proibir”, finaliza.

Renata Belzunces, de 45 anos, é moradora da região onde o Bloco Capivara Neon passou e participou da festa. “Esse carnaval foi melhor carnaval que eu passei aqui em São José. Foi muito bonito ver quanto a gente tem de cultura na cidade. O que aconteceu é que falta uma pública para a juventude nessa cidade. A juventude que tem acesso à cultura e lazer, é  juventude que não vai dar respostas como essas que vimos no Carnaval”, completa.

OUTROS BLOCOS.

O Bloco Balaio é promovido pelo Ponto de Cultura Espaço Balaioo há 5 anos e passa por ruas residenciais na região do Putim. Jéssica Souza, gestora cultural do espaço, acredita que o projeto vai contra a cultura popular do Carnaval de rua que vem crescendo em São José dos Campos.

“A mais de dez anos São José deixou de ter o carnaval com desfiles de escolas, e desde então os blocos de rua resistem. Infelizmente estamos acompanhando a prefeitura ‘comercializar e terceirizar’ os blocos, concentrando em uma região, de difícil acesso às comunidades periféricas e rurais como a nossa”, explica Jéssica.

“Nunca houve nenhuma ocorrência registrada, nem antes, nem durante e nem após os nossos desfiles. Penso que este seja o momento do executivo e legislativo abrir diálogo com os grupos, que já estão articulados, e também com a população para pensar em novas maneiras de fomentar o carnaval de rua”, completa.

Há quase 10 anos, o Bloco do Brabuleta desfila na zona sul da cidade. Neste ano, o bloco fez o percurso e fez a dispersão por volta das 19h30. Após esse horário, jovens se reuniram na praça para continuar a festa de Carnaval, mesmo não estando ligados ao bloco. Por volta das 22h, a GCM (Guarda Civil Municipal) e a PM dispersaram o fluxo de pessoas no local.

3 COMENTÁRIOS

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  • Laurence Benatti
    08/03/2023
    Apoio totalmente. Aliás, poderia proibir em qualquer lugar. Bando de arruaceiros desocupados.
  • Pedro Luís Sobral Escada
    08/03/2023
    Lamentável esse projeto de Lei, o Carnaval é uma festa popular e democrática, os problemas são decorrentes de poucos e muitos vão ficar sem por conta disso? Talvez os eleitores que foram nestes blocos devam não votar e fazer campanha contra aos que propõe medidas impopulares...
  • Luis Sendretto
    08/03/2023
    Parabéns a todos os blocos de Carnaval que fizeram uma festa linda esse ano em São José, particularmente participei do desfile do bloco \"Só Fia da Vida\", \"Acorda Peão\" e a belíssima estreia do \"Capivara Neon\", que essa linda imagem por si só já desmente todas as acusações infundadas do nosso prefeito! A cidade precisa discussões elevadas de politicas publicas inclusivas para engrandecer ainda mais nosso Carnaval e não projetos de lei de cerceamento a cultura.