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O que ninguém conta sobre ter próteses de silicone e sobre explantes

Dos riscos à saúde até limitações para atividades comuns do dia a dia. Mulheres que explantaram próteses de silicone compartilham experiências

Por OVALEBrandstudio | 23/01/2023 | Tempo de leitura: 10 min
São José dos Campos
OVALEBrandstudio

Divulgação

Dra. Fabiana Catherino
Dra. Fabiana Catherino

Este não é mais um texto reunindo tudo o que você certamente já leu e releu na internet sobre as próteses de silicone e os riscos que elas oferecem à saúde. O que você vai ler a seguir são depoimentos reais, de mulheres que passaram pela remoção do implante de mamas e decidiram compartilhar tudo aquilo que ninguém contou para elas na hora de decidirem pela cirurgia de implante de silicone, muito menos sobre as doenças e as restrições que um par de próteses impõe à vida.

Se há exatos nove anos tivessem dito à terapeuta ayurveda Maria Gabriella Pinheiro, de Brasília, que o silicone gerava muito desconforto para coisas simples do dia a dia, como abraçar, dormir de bruços - a posição favorita dela -, ou praticar ioga, talvez a decisão dela pudesse ter sido diferente sobre implantar 285 ml de silicone em cada uma das mamas. Mais especificamente falando, foram 300 ml, pois durante a cirurgia, sem o consentimento dela, optaram por aumentar o que havia sido previamente combinado no consultório.

Recentemente, em uma rede social, a terapeuta compartilhou um vídeo, que já tem milhares de visualizações, como forma de alertar outras mulheres que, ao optarem por uma cirurgia plástica, quase sempre são vítimas da desinformação. Ela afirma que não vale a pena passar por tudo isso em prol de um padrão de beleza imposto, pontuando coisas básicas que foram relegadas pelas próteses que ela descreve como “superficial, insustentável e nada saudável”.

“Neste vídeo eu cito, por exemplo, a questão do abraço. Quando abraçamos com as próteses, elas parecem que vão explodir. Então, você acaba se distanciando das pessoas porque há uma barreira física, que atrapalha a conexão. Também pratiquei muitas modalidades esportivas e em todas elas, sentia o desconforto da prótese se mexer.  Para dormir, criei uma técnica: usava dois travesseiros para a cabeça ficar bem alta e não deixar o peito na cama”, contou Gabriella, que tem recebido mensagens de muitas mulheres desde que compartilhou o conteúdo.

Assim como tantas outras, a principal motivação da terapeuta para o implante das próteses mamárias foi melhorar a autoestima. “Eu acreditava que para ter um corpo bonito, dentro do padrão de beleza que é estipulado, eu precisava colocar silicone. Fui feliz durante o período em que coloquei, mas naquele momento, eu tinha uma ideia de beleza diferente da que eu tenho hoje. Quando entendi que beleza está muito além de padrão, a prótese não fez mais sentido”.

Em busca de ajuda. Se faltou informação quando Gabriella decidiu fazer o implante, na hora do explante das próteses não foi diferente. Além disso, na atualidade, são pouquíssimos os cirurgiões plásticos que absorvem este tipo de demanda, dedicando-se a acolher, a diagnosticar e a acompanhar os estudos que dizem respeito à Doença do Silicone e à Síndrome Asia, ambas ainda não reconhecidas pela OMS (Organização Mundial da Saúde).

Diante deste cenário, Gabriella viajou cerca de 1.100 quilômetros, de Brasília até Taubaté, no interior de São Paulo, para fazer a cirurgia de explante com a médica e cirurgiã plástica Fabiana Catherino, que ela encontrou depois de muita pesquisa sobre o assunto e que também passou pela remoção do silicone após ter o diagnóstico da Doença do Silicone e da Síndrome Asia.

Pelo perfil acolhedor e por ser uma estudiosa do assunto, a médica tem sido requisitada por pacientes de diversas regiões do Brasil e do mundo, geralmente, assumindo casos graves e complicados porque, muitas mulheres, em busca de diagnóstico, passam pelo consultório de inúmeros profissionais da saúde, mas sem sucesso. “Quando essa paciente chega aqui ela já ouviu ‘eu não faço explante’, ‘você vai ficar parecendo um homem se tirar as próteses’ ou ainda ‘isso é coisa da sua cabeça, você precisa de um psiquiatra’. Nesta condição, a pessoa precisa de alguém para escutá-la e para validar as dores dela”, disse Fabiana.

Explante. Foi essa segurança que também fez com que a consultora de imagem Camila Marques Campos viajasse 190 quilômetros, de Campinas a Taubaté, para se tratar com a cirurgiã plástica. Segundo ela, são poucos os médicos que dão atenção ao assunto e a maioria dos cirurgiões acredita que doenças relacionadas às próteses de silicone são casos isolados.

“No estado de São Paulo eu não encontrei mais ninguém que dê atenção à doença além da doutora Fabiana. Alguns acreditam que pode acontecer e tem os que não acreditam de maneira nenhuma. Daí você vai ao mastologista, faz uma radiografia e se estiver tudo bem, você segue a sua vida. Só que não está tudo bem”, desabafou a consultora, que foi diagnosticada com a Síndrome Asia e, pouco tempo depois do implante, passou a ter sintomas severos.

“Sentia dores articulares nos pés, nas mãos e nos joelhos. A região maxilar também doía muito. O que mais me incomodava era a sudorese noturna, toda noite eu acordava molhada. Tinha uma irritação significativa nos olhos que ficavam secos. Sem falar de outros sintomas multifatoriais como dificuldade para emagrecer, queda de cabelo e aumento de peso”, contou.

Certamente, um dos fatores que não contaram à Camila na hora em que ela optou pelas próteses, e, que também causou bastante sofrimento, foi sobre a amamentação. E ser mãe sempre esteve nos planos da consultora de imagem. “Engravidei com a prótese e a amamentação não rolou. Eu fiz de tudo: pediatra, osteopata, consultora e, ainda assim, amamentei com dificuldade. Hoje sei que pode acontecer uma atrofia nessa região e a mama perde a função. Eu tinha leite, mas a minha filha não ganhava peso”, relembrou.

Mãe da Helena, de 1 ano e 5 meses, e gestando a segunda filha, desta vez sem as próteses, Camila afirma que não tem nutrido a expectativa de amamentar, apesar dos ganhos significativos de saúde desde que realizou a cirurgia de explante em abril deste ano. “Minha prótese era pesada, 380 ml de cada lado. Isso significava quase 1kg a mais na região do tronco. Estou totalmente recuperada e, apesar da decisão mexer muito com o emocional da mulher, eu sabia que estava fazendo a coisa certa. É realmente difícil achar um médico que acredite em você, essa falta de informação é real. Por isso, fiz muitas amizades com mulheres na mesma situação”.

Simbologia. Gabriella, de Brasília, também passou pelo explante há 4 meses e enfrentou dificuldades até chegar à cirurgia. Primeiro precisou cuidar da questão emocional, por recomendação da própria cirurgiã plástica. Neste ano, após ter covid, passou a ter dores articulares muito fortes, a ponto de nenhum remédio fazer efeito. Tinha chegado a hora.

“Quando procurei a doutora Fabiana em 2021, tive uma conexão muito forte com ela. Tivemos uma conversa e ela percebeu que não era a hora do meu explante. De fato, eu não estava bem emocionalmente para viver um processo tão profundo. Ela poderia ter me incentivado a fazer, mas demonstrou preocupação e me incentivou a voltar para a terapia”.

A médica reforça o ponto de vista da paciente, de que passar pela remoção das próteses de silicone é um processo que requer preparo. “A mama é uma referência. Toda aquela imagem que você tem do seu corpo vai embora, alguém vai tirar isso de você. Dentre os inúmeros casos já atendidos, há situações complexas, pois há mulheres que mesmo doentes não estão seguras para explantar. Retirar as próteses ativa gatilhos emocionais antigos e vai fazer com que ela tenha que sair da zona de conforto”, disse Fabiana.

Falta de informação. A questão emocional das pacientes é um fator que a cirurgiã plástica de Taubaté conduz com bastante acolhimento e seriedade, sendo enfática e rigorosa ao compartilhar informações com todas que vão ao consultório convencidas de determinados protocolos do explante.

“A internet tem muita coisa boa, mas também tem muita coisa ruim. As pessoas consomem um conteúdo e acham que aquilo é uma verdade absoluta. Daí, chegam até aqui dizendo que querem fazer o explante, mas que eu tenho que seguir à risca o que ela viu na internet. Eu peço calma e explico que não é bem assim, pois minha avaliação e proposta de tratamento não são sobre um par de próteses, nem apenas sobre operar. Vai muito além, porque por trás de tudo aquilo, existe uma pessoa com sentimentos, com uma história e com inúmeras inseguranças”.

Segundo Fabiana, um tema bastante recorrente no consultório dela é sobre remover a prótese com a cápsula, uma película que o organismo forma em torno do “corpo estranho” para isolá-lo, e, de onde é possível detectar possíveis doenças como linfomas, o que significa que o explante deve ser feito em bloco, ou seja, em peça única.

“Existe realmente este protocolo, eu preconizo isso. Só que no intraoperatório, a cápsula, às vezes, é fina ou está aderida no tórax, o que pode aumentar os riscos de lesão. Por isso, nem sempre vai se conseguir fazer em bloco”, explicou a médica, que recentemente participou de um encontro internacional que contou com 140 participantes do mundo, sobre a Doença do Silicone e a Síndrome Asia, com a presença de apenas dois médicos brasileiros – um radiologista e ela como a única cirurgiã plástica -, fato que registra o quanto ainda faltam discussões sobre o assunto, considerando que no país temos cerca de 6 mil cirurgiões plásticos.

“Foram quatro dias de imersão. Em uma das palestras, foi abordado exatamente isso, um estudo sobre pacientes que retiraram a cápsula em bloco e as que retiraram sem ser em bloco. A diferença na resposta clínica não mudou. A porcentagem de mulheres que melhoraram, independente do protocolo adotado, foi a mesma”, disse.

Em tempos onde as notícias falsas circulam mais rapidamente que as verdadeiras, e que a desinformação é um mal social que prejudica muita gente, Fabiana Catherino recomenda que pessoas que desejarem saber mais sobre o assunto busquem sempre fontes seguras como a FDA (Food and Drug Administration), agência reguladora norte-americana que recentemente emitiu um alerta sobre casos de cânceres por conta do uso de próteses de silicone.

“Sempre falo para as minhas pacientes: aprendam a questionar. Parem de aceitar tudo o que chega até vocês. Questionem os conteúdos que vocês acessam e até mesmo o que eu falo, pois a medicina é dinâmica. O tempo todo há novidades, estudos e tratamentos são atualizados”, reforçou a médica.

Por fim, outro conselho, não menos importante que sempre buscar a orientação de um profissional de saúde sério, vem da terapeuta ayurveda Gabriella e vai ao encontro de algo que a médica sempre reforça nas redes sociais que é o fato de o “explante não ser uma promessa de melhora, mas uma expectativa de não piora”.

“Ainda não estou 100%. Durante todos esses meses, tenho tido o apoio da doutora Fabiana. O suporte dela é como médica, mulher e explantada. A todo momento, ela sabe exatamente como me sinto. Passar por tudo isso é um renascimento. É uma mudança física e mental, mas as pessoas não conversam sobre isso, só falam das coisas boas. As próteses foram uma solução superficial para a melhora da autoestima. Busque mais quem você é e menos como você está”.

Fabiana Catherino finaliza com uma reflexão, vinda a partir de experiências que, diariamente, ela acompanha no consultório: “O explante é um processo e não um procedimento. É preciso reconhecer e aceitar a nova identidade que irá surgir, e, muitas vezes, desapegar-se da imagem de que para ser bonita precisa ter volume. Não é sobre volume, é sobre quem você é! Eu digo que é um processo semelhante a uma borboleta, você só irá abrir as suas lindas asas após ser apertada no casulo.”

IMPORTANTE: a colaboração das participantes na produção desta matéria foi totalmente espontânea e a veiculação é de total responsabilidade deste veículo de comunicação.

Camila Marques antes do explante. Foto : Arquivo pessoal
Camila Marques antes do explante. Foto : Arquivo pessoal
Camila Marques 6 meses depois do explante. Foto: Arquivo Pessoal
Camila Marques 6 meses depois do explante. Foto: Arquivo Pessoal
Maria Gabriella Pinheiro. Foto: Arquivo Pessoal
Maria Gabriella Pinheiro. Foto: Arquivo Pessoal

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