21 de dezembro de 2025
PETS

Fogos, estresse e riscos invisíveis para cães e gatos

Folhapress
| Tempo de leitura: 5 min

Enquanto a chegada do fim de ano é sinônimo de celebração para muitas pessoas, para cães e gatos ela pode representar um momento de medo intenso, desorientação e até risco de morte.

Apesar da proibição ou restrição de fogos de artifício com estampido em diversas cidades brasileiras, a prática ainda persiste e traz consequências graves para os animais.

Além do barulho extremo, há mudanças de rotina, agitação, luzes intensas, cheiros diferentes e um ambiente geralmente pouco previsível para os pets.

A médica-veterinária Farah de Andrade, consultora da rede de farmácias de manipulação veterinária DrogaVET, explica que a audição de cães e gatos é muito mais sensível do que a dos humanos.

Enquanto ouvimos até 20.000 Hz, os cães captam frequências de 60.000 Hz e os gatos, até 85.000 Hz. Na prática, isso significa que os sons dos fogos são percebidos como explosões intensas, abruptas e ameaçadoras.

"A gente celebra, mas eles não entendem. Para um pet, fogos são ameaça, não comemoração. E se o fim de ano termina com trauma ou morte, estamos celebrando o quê?", questiona.

Segundo a veterinária, a exposição a esses estímulos pode desencadear tremores, tentativas de fuga, agressividade, convulsões, automutilação, intercorrências em pacientes com comorbidades e até óbito.

Prevenção é a chave para evitar o sofrimento


A recomendação da especialista é que os tutores não deixem para agir na última hora. "O ideal é começar o preparo com dias de antecedência. Isso inclui desde a dessensibilização sonora até a avaliação veterinária para identificar o nível de ansiedade do animal", explica Farah.

A dessensibilização sonora consiste em acostumar gradualmente o animal a sons semelhantes aos dos fogos, sempre os associando a experiências positivas, como brincadeiras, petiscos e carinho. Ainda assim, uma consulta com o médico-veterinário é indispensável para avaliar o grau de ansiedade do animal e considerar a indicação de medicamentos naturais ou controlados.

Florais de Bach, nutracêuticos e fitoterápicos, como valeriana, kawa-kawa, passiflora, L-triptofano e melatonina são algumas opções naturais com ação calmante que podem ser manipuladas em formatos facilitados, como biscoitos, glóbulos ou molhos saborizados.

"Animais muito ansiosos, ou com condições clínicas específicas, podem precisar de medicamentos controlados. Nesse caso, a manipulação é uma alternativa segura porque permite adequar a dosagem com precisão ao peso do animal e ao tempo de uso, além de facilitar a aceitação com formas farmacêuticas palatáveis, especialmente importantes no caso dos gatos", complementa Farah.

No dia da celebração, manter o pet dentro de casa, em local seguro e tranquilo, com portas e janelas fechadas e acesso a itens familiares, como brinquedos e roupas com o cheiro do tutor, além do uso de difusores com feromônios sintéticos no ambiente (mas fora do alcance dos animais) ajuda a minimizar o impacto. Sons ambientes, como TV ou música, também auxiliam a disfarçar o ruído dos fogos. Se possível, o ideal é que o animal não fique sozinho, já que a presença do tutor transmite segurança e pode reduzir o nível de estresse.

Festas, comida e decoração: perigos nem sempre conhecidos


Além do barulho, os tutores devem estar atentos a outros perigos comuns nessa época do ano. Decoração natalina com fios elétricos, enfeites pequenos e plantas tóxicas, como a flor-de-natal, representam riscos de intoxicação, choques ou obstruções. A ceia também é um ponto de atenção: alimentos como uvas e uvas-passas, carambola, chocolate, cebola, alho e restos de ossos podem causar desde problemas gastrointestinais até insuficiência renal aguda, anemia hemolítica e engasgos graves.

"Muitos tutores oferecem um pedacinho de comida como forma de carinho, mas desconhecem os riscos. Um pet intoxicado por algo da ceia é mais comum do que se imagina, e geralmente acontece por acidente ou desinformação", alerta a veterinária.

Fogos podem matar passarinhos e outras aves

Os fogos de artifício podem matar passarinhos e outras aves. O barulho intenso e inesperado provoca pânico, fazendo com que as aves voem desorientadas, colidam com edifícios e outras estruturas, ou sofram ataques cardíacos devido ao estresse severo.

Casos notáveis, como a morte de centenas de pássaros em Roma após as celebrações de Ano Novo, ilustram de forma dramática as consequências do uso de fogos de artifício na vida selvagem.

Organizações e especialistas em bem-estar animal promovem a conscientização sobre esses efeitos e incentivam o uso de alternativas mais silenciosas para proteger a fauna.

IMPACTOS

Pânico e desorientação: As aves têm uma audição muito mais apurada que a dos humanos, e o som alto dos fogos (que pode ultrapassar 150 decibéis) é extremamente assustador para elas. Em pânico, elas voam em massa e sem direção, o que pode levar a colisões fatais.

Problemas de saúde agudos: O medo extremo e a descarga de adrenalina e cortisol resultantes do susto podem causar mal súbito, ataques cardíacos e hemorragias nas aves, resultando em morte imediata.

Danos físicos: Durante a fuga descontrolada, as aves podem sofrer hematomas, fraturas e outros ferimentos ao se debaterem ou colidirem com obstáculos, especialmente no escuro.

Perturbação do habitat: Os fogos de artifício perturbam gravemente o comportamento das aves, especialmente em áreas urbanas ou próximas a zonas de descanso e alimentação, prejudicando milhões de pássaros durante eventos festivos como o Ano Novo.

Até os peixes e a vida marinha podem ser prejudicados

Os fogos de artifício podem prejudicar e até matar peixes e outras formas de vida aquática. Os impactos negativos ocorrem devido à poluição sonora e à contaminação química da água.

Especialistas em meio ambiente e bem-estar animal recomendam a substituição de fogos de artifício tradicionais por alternativas mais ecológicas, como exibições de drones ou lasers, para evitar esses efeitos "extremamente nocivos" à vida selvagem e aos ecossistemas aquáticos.

Leis municipais e estaduais em diversos locais do Brasil e do mundo já proíbem ou restringem o uso de fogos de artifício ruidosos, visando proteger pessoas, animais e o meio ambiente

É PREJUDICIAL

Poluição Sonora: Os peixes têm uma audição sensível e o barulho alto e repentino das explosões (que podem ultrapassar 150 decibéis) pode causar estresse severo, pânico e desorientação. Isso pode levá-los a nadar descontroladamente, colidir com obstáculos ou tentar fugir para áreas inadequadas, resultando em ferimentos ou morte.

Contaminação Química da Água: Os fogos de artifício contêm várias substâncias químicas para produzir cores e explosões, como nitrato de potássio, enxofre, carvão e sais de diferentes metais (estrôncio, cobre, bário, etc.). Quando a queima de fogos ocorre sobre ou perto de corpos d'água, esses resíduos químicos (incluindo percloratos e metais pesados) caem na água, alterando sua composição química e qualidade, o que pode ser tóxico para a vida aquática.