21 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Memória histórica da cidade


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Sociedades civilizadas conseguem preservar a memória histórica de suas cidades. As menos adiantadas adotam a demolição como estratégia única. Substituem os marcos visuais que davam identidade às suas urbes e vão destruindo, sem piedade, expressões arquitetônicas de várias épocas.

É o que acontece em Jundiaí, cidade que teve início no século XVII, mas que aos poucos se torna menos bonita em seu centro histórico. Exemplares magníficos de construções de época desaparecem para dar lugar a uma padronização feia. Nada mais elegante. Os centros vão se tornando iguais em sua feiura. Comércio que desconhece design ou estética. Mediocridade generalizada.

Não se compreende que uma cidade que teve arquitetos como Ariosto Mila e ainda os tem como Araken Martinho, Paulo Sérgio Latorre de França Silveira, Eduardo Carlos Pereira, não adote padrões estéticos que preservem a alma de Jundiaí.

Por que não formar um conjunto de urbanistas, arquitetos e paisagistas e formar uma entidade não governamental, zelosa na defesa da paisagem urbana? Ela poderia oferecer à cidade um projeto que faça um tratamento estético agradável, com planos de arborização, espaços públicos para lazer e entretenimento, aproveitamento daquilo que a natureza ofereceu gratuitamente, que são as elevações, os córregos, os riachos enterrados e canalizados?

É preciso reunir pessoas sensíveis, munidos de idealismo e criatividade e sem ideias preconcebidas. Seu dinamismo conferiria estilo ao centro que já foi habitado, que já foi elegante, que já foi acolhedor. Há tantas coisas belas acontecendo no restante do mundo. Ainda há pouco mencionávamos Konjian Yu, que na China concebeu as “Cidades Esponja”, para que a água seja considerada um elemento natural e aproveitável na paisagem das zonas urbanas. Mais de mil projetos ele realizou, não só na China, como na Tailândia e na Indonésia. Tive a oportunidade de visitar um deles e fiquei maravilhado. Não há excesso de concreto, de cimento, de ferro. A natureza é respeitada. Principalmente a água, fonte de vida.

Ele iria fazer algo em São Paulo, mas lamentavelmente morreu carbonizado num acidente de avião, enquanto fazia documentário no Pantanal.

Há muitas outras ideias aproveitáveis e já bem-sucedidas em outras partes do planeta, que sabem que o menos dispendioso não precisa ser também feio. Que já não é conveniente cimentar margens de rios, mas o importante é deixar área de drenagem para que a água escoe, se infiltre e realimente lençois freáticos. Que quanto mais verde melhor. Que as enchentes são naturais, porque os rios têm oscilante o seu volume d’água, a depender das estações.

É urgente enfrentar o desafio da excessiva produção de resíduos sólidos. Nossa sociedade contemporânea consome demais, desperdiça demais e não sabe separar aquilo que desperdiça. Por isso a reciclagem é mais uma ficção do que uma realidade. Enquanto outros países conseguem reaproveitar até 90% daquilo que descartam, aqui o percentual não chega a dois dígitos.

Se a cidade é suja, se a água foi escondida, se há poucas árvores, ela é insuscetível de ser amada. E uma cidade que não é amada por seus moradores fica imunda, fica parecendo abandonada, ainda que a coleta passe regularmente por suas ruas.

É perfeitamente possível melhorar a qualidade de vida de nossa cidade, se houver vontade política e conscientização da população. Ainda que Jundiaí tenha recebido legiões de forasteiros, quando eles escolhem nossa cidade para residir, passam a ser também responsáveis pela preservação de sua História e de seus monumentos arquitetônicos. Como fazer para que se conscientizem disso?


José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo