Motoristas e cobradores recolheram os ônibus em São Paulo e iniciaram paralisação após as empresas adiarem o pagamento do 13° salário. O movimento começou na tarde desta terça-feira (9) e foi ganhando adesão de diversas viações.
Devido à greve, a prefeitura anunciou a suspensão do rodízio de veículos na tarde desta terça. A paralisação se transformou em uma guerra de versões entre prefeitura e viações.
As empresas responsáveis pelo transporte coletivo na cidade enviaram pela manhã uma carta ao sindicato dos motoristas e trabalhadores em transporte rodoviário urbano pedindo mais prazo para realizar o depósito. Após uma negociação anterior, ele estava previsto para esta sexta-feira (12).
Segundo o presidente do sindicato, Valdemir dos Santos Soares, a proposta desagradou parte dos funcionários, que começou a recolher os ônibus para as garagens e interromper o atendimento à população.
O sindicato planeja realizar assembleias na madrugada desta quarta-feira (10) para discutir o pedido das empresas. Há possibilidade de uma greve formal ser votada.
A paralisação começou na garagem da viação Sambaíba, no Tremembé, na zona norte na capital. Logo, na estação Tucuruvi, por exemplo, os passageiros começara a ser avisados sobre a situação.
Também há registros de falta de ônibus no terminal Grajaú, na zona sul, e no terminal Campo Limpo, na mesma região. Por lá, parte da frota é operada pela SPTrans, controlada pelo município.
Empresas como Campo Belo, KBPX e Mobibrasil, responsáveis por algumas linhas na capital, também tiveram ônibus recolhidos, assim como a Viação Sudeste, que possui linhas nas zonas leste e sudeste da cidade.
Em grupos no WhatsApp, os motoristas estão sendo orientados por líderes sindicais a obrigar o desembarque de passageiros.
Em pouco tempo, a manifestação teve reflexo em todas as regiões da cidade.
No terminal Parque Dom Pedro 2º, um dos maiores da cidade, alguns passageiros esperavam seus ônibus para casa no início da noite, mesmo sabendo que eles podem não chegar.
A operação segue normal em algumas linhas. Outras não funcionam há mais de uma hora.
É o caso da utilizada por Claudia Ferreira, 55, que vai para São Mateus. "Não sei o que faço. Uber não dá pra pagar." Um carro por aplicativo para o bairro, que normalmente custa R$ 55, segundo ela, está R$ 240, aproximadamente.
Muitos paulistanos têm optado pelo sistema sobre trilhos para chegar em casa. A estação da Sé, também no centro, tem filas para passar pela catraca e entrar num vagão pode demorar.
No Metro, as escadas rolantes que dão acesso à estação Vila Prudente, da linha 15-prata do monotrilho, foram desligadas em razão de excesso de passageiros. Mensagens no sistema de som informavam que a medida ocorria para conter o alto fluxo de pessoas por causa da greve de ônibus.
Segundo o sindicato dos motoristas, o atraso no pagamento do 13º salário está atrelado ao processo de revisão quadrienal dos contratos de concessão das empresas de ônibus, que será julgado nesta quarta-feira (10) pelo TCM (Tribunal de Contas do Município).
Segundo a SPUrbanus (Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo), as empresas têm mantido diálogos constantes com a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana e Transporte para finalizar os acertos para a revisão quadrienal dos contratos firmados com o município, "recompondo o equilíbrio econômico-financeiro do sistema, de forma a se evitar qualquer movimento paredista dos trabalhadores do transporte coletivo, que venha a causar prejuízos à população que depende desse serviço essencial e estratégico".
Em nota, o sindicato patronal afirma que as empresas operadoras associadas à entidade "não estão poupando esforços para honrar com suas obrigações trabalhistas com os empregados do setor, inclusive solicitando um maior prazo para o pagamento do 13º salário, em conformidade com o que a legislação estabelece".
Em nota, a Prefeitura de São Paulo afirma que os repasses às empresas de ônibus estão em dia e o pagamento do 13º salário dos trabalhadores é de responsabilidade exclusiva das concessionárias.
No texto, a Secretaria Municipal de Transportes e Mobilidade e SPTrans afirmam que, a pedido do prefeito Ricardo Nunes (MDB), registraram boletim de ocorrência contra as empresas que aderiram a "uma paralisação sem aviso prévio, ferindo gravemente a legislação".
A gestão afirma ainda que se solidariza com todos os usuários que dependem do transporte público e que hoje sofrem com o descaso, irresponsabilidade e falta de compromisso dessas companhias com a população.
Em vídeo, o prefeito afirmou que o reajuste quadrienal "nada tem a ver com a obrigação de todos os empresários de pagarem em dia seus colaboradores". "A questão desses empresários irresponsáveis, quem vai tratar com eles sou eu", disse.
Na semana pasada, ao ser questionado pela Folha sobre possível reajuste na passagem de ônibus, a partir de janeiro próximo, Nunes afirmou que a revisão quadrienal pode influenciar na decisão sobre aumento das tarifas, mas que era cedo para falar do assunto.
Passageiros que precisam de transporte ferroviário também enfrentam uma terça-feira difícil. Por volta das 14h55, a linha 11-coral registrou falha de sinalização entre as estações Palmeiras-Barra Funda e Luz.
Enquanto as equipes de manutenção da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) atuam no local, alguns trens estão circulando até a Luz, sem seguir até a Barra Funda.
Os trens do Expresso Aeroporto também embarcam e desembarcam da estação da Luz desde as 16h. Não há alteração nos intervalos programados para o horário de pico entre as estações da Luz e Estudantes. "A CPTM pede desculpas pelos transtornos causados aos passageiros".
Com tantos problemas no transporte coletivo, os cidadãos que tentam pedir um carro de aplicativo acabam levando outro susto, com valores muito acima do normal para o horário, devido ao que é chamado de preço dinâmico, quando o valor aumenta com a demanda.