Ingredientes
Dia desses, recebi a visita de amiga de quem gosto muito. Ela é pessoa de personalidade forte, mas ao mesmo tempo guarda em si uma ternura que nem sempre se divisa. Entretanto, a doçura está na alma dela e aparece em determinadas ocasiões. Por exemplo, quando fala de sua infância em São Gotardo, num pequeno sítio onde o pai cultivava ‘umas vacas e um cafezinho’. Pelo seu relato tudo era difícil, mas havia o encantamento que só as crianças percebem.
Minha amiga retornou a São Gotardo, cidade natal, no mês passado, com toda sua família, muitos irmãos e sobrinhos. Foram rever suas origens e esse tipo de resgate nutriu nossa conversa. No item ‘sabores que moram no coração’, ela me disse que a mãe, para conseguir preparar alimentos saborosos e nutritivos, precisava se virar nos trinta. E a necessidade, sabemos, é a mãe das invenções.
Então, a criatividade na cozinha dava origem a iguarias que mostravam como fazer muito com pouco. Havia, por exemplo, certa bolacha de rapadura que continua sendo uma das iguarias da cidade, apreciada por turistas; e um virado de vagem cuja técnica eu desconhecia. Sempre fiz virado da maneira como minha mãe, também mineira como a da amiga, preparava com legumes, ovos e farinha de milho. Então quis experimentar a receita diferente descrita no bate-papo. É virado mas não leva farinha. Menos calórico, mais leve, super gostoso. Veja que fácil.
Lave, limpe e corte as vagens em pedaços de três centímetros, mais ou menos. Leve água a ferver com sal numa panela. Junte a vagem, a pitada de bicarbonato de sódio (para manter o verde, não amarelar) e deixe ferver até que elas fiquem al dente. Retire, escorra em peneira e passe pela água fria para manter a crocância.
Na mesma panela coloque o azeite, frite a cebola cortada em cubinhos e depois o alho. Refogue até que fiquem transparentes. Junte a vagem, mexa, coloque água (uma xícara de chá) só para formar um caldinho, deixe ferver e mantenha em fogo baixo.
Bata os ovos como se fossem para omelete. Agregue o cheiro verde picadinho, a pimenta, o sal. Passe a mistura de ovos a uma frigideira untada com azeite e mexa sem deixar ficar muito seco. Junte o mexido de ovos às vagens, mexa rapidamente e sirva.
Para usar expressão que ainda se mantém entre nós, é uma ‘mistura’ deliciosa para juntar ao nosso tradicional arroz com feijão.
Sonia Machiavelli é professora, jornalista, escritora; membro da Academia Francana de Letras.