A Justiça de Bauru converteu em preventivas nesta quarta-feira (11) as prisões das nove pessoas suspeitas de participação nos desvios milionários no caixa da Apae Bauru. Elas já estavam presas temporariamente, condição que tem prazo de validade.
A decisão atende a pedido do delegado Glaucio Stocco, titular do Setor Especializado de Combate aos Crimes de Corrupção, Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro (Seccold). A requisição à Justiça ocorreu um dia após a Polícia Civil concluir os interrogatórios de oito deles, ocorridos entre segunda (9) e terça-feira. Ex-presidente da Apae, Roberto Franceschetti Filho ainda não foi ouvido pela unidade especializada.
Interrogados teriam rejeitado a proposta de delação premiada, recurso no qual o investigado recebe um benefício em troca de informações que colaborem com as investigações — um dos advogados, porém, contesta a afirmação sobre as delações (leia nesta página). Segundo o delegado responsável pelo inquérito que investiga a prática de crimes de peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa, os suspeitos negaram envolvimento no esquema de desvio de verbas da Apae.
Dois admitiram ter ciência de condutas suspeitas na entidade. Um deles é Renato Tadeu de Campos, policial militar reformado detido no Presídio Militar Romão Gomes, na Capital, e ouvido pelo Seccold por videoconferência nesta terça. De acordo com as investigações, ele prestava serviço de segurança privada à Apae por uma empresa registrada em nome de um parente.
O contrato era de R$ 12 mil mensais, mas o ex-PM restituía R$ 10 mil em uma conta 'fantasma' da instituição, que não entrava na contabilidade e era de acesso exclusivo do ex-presidente da entidade. "Ele negou envolvimento ou participação no esquema de desvio, mas confirmou que deu nota com valor maior, devolvendo a diferença do serviço à Apae, sem obter vantagem alguma", informou.
Também investigado neste inquérito, Franceschetti é réu pela morte de Claudia Lobo, ex-secretária executiva da entidade. Preso desde 15 de agosto, nove dias após o desaparecimento de Claudia, ele foi transferido em novembro para Guarulhos.
As investigações do Seccold apontam que Franceschetti e Claudia desviaram mais de R$ 7,5 milhões dos cofres da associação em 5 anos, período sob análise da Polícia. Deste total, R$ 5,8 milhões teriam sido retirados do caixa da entidade pelo ex-presidente e R$ 1,8 milhão, pela ex-secretária executiva.
Presos desde 3 de dezembro, também são investigados Diamantino Passos Campagnucci Júnior e Ellen Siuza Rocha Lobo, cunhado e irmã de Claudia; a filha da ex-secretária, Letícia da Rocha Lobo Prado; Renato Tadeu de Campos, policial militar aposentado; Maria Lúcia Miranda, ex-contadora e coordenadora financeira da Apae Bauru; Pérsio de Jesus Prado Júnior, ex-marido de Claudia e pai de Letícia; Renato Golino, ex-coordenador financeiro da Apae; e Felipe Figueiredo Simões, empresário.
Em nota encaminhada ao JC, o advogado Alisson Caridi, que defende familiares de Claudia Lobo, diz que a proposta de delação premiada "nunca chegou a ser feita a eles pelo Delegado de Polícia, não sendo, portanto, verdadeira essa informação". "É certo que os investigados esclareceram não terem praticado qualquer crime, mas jamais lhes foram feitas propostas de delação premiada", acrescentou.
Ele também afirmou ter recebido com perplexidade a decisão e que "não estão presentes os requisitos para que os suspeitos permaneçam reclusos durante a investigação e uma eventual ação penal que ainda sequer existe".