27 de dezembro de 2024
ABUSO DE PODER

Juíza condena Caiado a 8 anos de inelegibilidade 

Por Ranier Bragon | da Folhapress
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução/Valter Camargo/Agência Brasil
O governador de Goiás é um dos nomes da direita cotados para disputar a Presidência da República em 2026.

A juíza eleitoral Maria Umbelina Zorzetti condenou na manhã desta quarta-feira (11) o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), e o prefeito eleito de Goiânia, Sandro Mabel (União Brasil), por abuso de poder político, com a consequente inelegibilidade de ambos por oito anos.

Leia também: Ronaldo Caiado é reeleito governador de Goiás

Caiado, que é pré-candidato à Presidência da República em 2026, promoveu no Palácio das Esmeraldas, sede do Executivo de Goiás, dois jantares com o objetivo de angariar apoio a Mabel.

Os encontros com vereadores eleitos, não eleitos e outros líderes políticos da cidade ocorreram logo após o resultado do primeiro turno, que levou para a segunda etapa Mabel e o ex-deputado estadual Fred Rodrigues (PL), nome apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Resta claro pela prova constante nos autos que o investigado Ronaldo pediu aos vereadores eleitos e seus suplentes que voltassem em suas regiões para pedir votos para o investigado Sandro e que deveriam contar para os eleitores que seus problemas estariam resolvidos caso Sandro fosse eleito já que ele tinha o apoio incondicional do governador do Estado", escreveu a juíza em sua decisão.

"Da mesma forma, o investigado Sandro de forma disfarçada pediu o apoio dos vereadores eleitos e seus suplentes quando disse 'a esperança que eu tenho com vocês é que eu quero dizer pra vocês que o sonho não terminou (?) junto com vocês nós vamos construir a melhor capital do Brasil'."

A mesma juíza já havia concedido entre o primeiro e o segundo turnos liminar à campanha de Fred proibindo o governador de realizar campanha nas dependências de órgãos públicos estaduais.

"A imponência do prédio, a grandiosidade dos salões, a presença da força de segurança, e sobretudo a presença do governador do estado cria uma condição psicológica de vantagem para o candidato apoiado pelo governador do estado, privilégio que não foi ofertado ao seu adversário", prosseguiu Maria Umbelina na decisão desta quarta.
A juíza também condenou Caiado a pagar multa de R$ 60 mil e Mabel, de R$ 40 mil.

A Folha de S.Paulo procurou as assessorias de Caiado e Mabel na manhã desta quarta e aguarda um posicionamento.

Em um dos vídeos dos jantares aos quais a Folha de S.Paulo teve acesso e que também circula nas redes sociais, Caiado discursa aos vereadores e aos suplentes de vereador (aqueles que não conseguiram se eleger) dizendo que eles não estavam ali como pessoas físicas, mas como líderes comunitários. Em seguida, dá um exemplo de como os vereadores não eleitos devem abordar os eleitores dali em diante.

"Então se vista dessa credencial [de líderes comunitários] e vão, com muita humildade, agradecer o voto. 'Não fui eleito, mas você pode saber que eu continuarei a luta política porque eu, ao ter o Sandro Mabel lá na prefeitura, eu tenho acesso para resolver os problemas da minha região. E ele vai vai resolver porque ele tem o apoio do governador Ronaldo Caiado'", discursou Caiado aos convidados.

Nesses encontros, Mabel também falou ao microfone e fez pedido indireto de apoio.
"Não se espera de um político da sua envergadura [Caiado] tamanho descaso com a legislação eleitoral, inclusive, porque está assessorado de advogados com larga experiência em matéria eleitoral", disse ainda a juíza, em sua decisão.

A eleição em Goiânia teve como pano de fundo a queda de braço entre os dois padrinhos dos candidatos. Bolsonaro, de um lado, e o governador Ronaldo Caiado, de outro. O ex-presidente chegou a acompanhar a votação do segundo turno em Goiânia.

Após a vitória sobre Bolsonaro na capital de Goiás, Caiado afirmou que seu jeito de fazer política venceu o do ex-presidente e que a população está cansada do modo como o bolsonarismo age.

O governador de Goiás é um dos nomes da direita cotados para disputar a Presidência da República em 2026, tendo já tornado pública essa pretensão. Bolsonaro está inelegível devido a duas condenações no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).