20 de outubro de 2024
CRIME ORGANIZADO

Tribunal do crime: PCC é investigado por desaparecimentos no Vale

Por Da redação | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução
Casos estão sendo investigados

Mais temida facção criminosa do país, o PCC (Primeiro Comando da Capital) é investigado pelo desaparecimento de pelo menos quatro jovens no Vale do Paraíba, de acordo com fontes policiais ouvidas por OVALE.

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A suspeita é que os jovens desaparecidos tenha sido condenados à morte no 'tribunal do crime'. OVALE não divulgará a cidade ou informações sobre as vítimas a pedido da polícia, para não atrapalhar as investigações. Os crimes teriam sido praticados por criminosos envolvidos com o tráfico de drogas, carro-chefe da organização criminosa. Operações estão em curso para solucionar os casos, ocorridos nos últimos meses.

"Temos três casos de rapazes desaparecidos nesta cidade, e que a Polícia Civil suspeita de terem sido vítimas de 'tribunal do crime' de facção criminosa", afirmou a OVALE um policial ligado à investigação.

O número de 'julgamentos', porém, certamente é ainda maior.

Tabuleiro.

Xeque-mate. Com a sua própria lei, o PCC movimenta os seus peões no espaço deixado vago pelo Estado, avançando por casas e casas perigosamente na direção ao rei e à legislação vigente. O tribunal do crime é montado diariamente na RMVale, onde nasceu a facção, criada em 31 de agosto de 1993, na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté.

No jargão da organização criminosa, trata-se do ‘tabuleiro’ -- nome para os tribunais, onde a definição sobre quem viverá ou morrerá é feita como o lançar de dados. “Eles [PCC] montam o tabuleiro todos os dias. Mas matar alguém é raro, hoje bater é o mais comum”, diz um agente especializado no combate à facção criminosa no Vale.

"Quando o cara [o 'réu'] é sequestrado, nem dão o direito dele falar. Ele fica amarrado, com alguém tomando conta. Aí vem a ordem para matar e eles dão o 'ok' para o sequestrador. Depois a gente acha o corpo. O PCC não cobra só se fizer algo para alguém da facção. Se fizer qualquer coisa na quebrada deles, eles cobram", diz uma fonte policial ouvida por OVALE.

O júri é composto por irmãos presos e que estão nas ruas. Os 'crimes' mais graves são estupro e roubo dentro do PCC, em geral ligado aos dividendos obtidos com a venda de drogas. O tribunal -- ou tabuleiro, porém, é usado para decidir imbróglios nas 'quebradas', incluindo até os problemas dos moradores. Em geral, o tribunal tem acusador, defensor e júri, sendo transmitido por meio de celular.

Pena de morte.

Aplicada nos tabuleiros, a pena de morte é chamada de 'decreto'. No entanto, ela seria rara. "Até para matar 'jack' [a gíria para estuprador] está difícil. É preciso pedir autorização", afirmou um homem ligado ao tráfico de drogas em São José, autor de ao menos três homicídios.

 "Aqui, levaram um cara para lá [tabuleiro], acusaram ele de ser dedu-duro da polícia. Foi levado, mas não conseguiram provar. E o PCC não deixou matar. Daí, o rapaz [traficante que pediu o julgamento] ficou chateado, porque não pôde 'fazer' [matar]", disse outro homem ligado ao tráfico.

Nas chamadas 'quebradas', o tráfico atribui ao PCC a redução drástica na quantidade de homicídios -- a posição é atestada por parte dos especialistas em setor, e questionada por outra parcela, assim como pelo Estado.

Em áreas como a região sul de São José, a ordem é conhecida como 'Bandeira Branca'. As fontes policiais, agentes, ex-presos e pessoas ligadas ao crime foram ouvidas na condição de serem mantidas em sigilo.