19 de julho de 2024
EM CAMPANHA

Boulos promete não criar novas taxas em SP

Por Joelmir Tavares | da Folhapress
| Tempo de leitura: 5 min
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados/Agência Câmara
Guilherme Boulos (PSOL) pretende pleitear a Prefeitura de São Paulo nas eleições

O pré-candidato Guilherme Boulos (PSOL) antecipou nesta quinta-feira (18) propostas em cinco áreas para sua campanha à Prefeitura de São Paulo, entre elas segurança urbana, apontada como um dos principais problemas da cidade e tema em que a esquerda tem tido dificuldade para se posicionar.

Boulos disse em entrevista que defenderá a ampliação e o fortalecimento da GCM (Guarda Civil Metropolitana), com foco em policiamento comunitário. Ele afirmou querer combater a ideia de que "promover segurança é promover violência" e defendeu políticas que respeitem os direitos humanos.

Apoiado por Lula (PT), o deputado federal terá a candidatura oficializada em convenção partidária neste sábado (20) com a presença do presidente e da escolhida por ele para a vice na chapa, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT). A expectativa é reunir 10 mil pessoas em um centro de convenções na zona norte.

A coligação, majoritariamente de esquerda e até aqui com sete partidos, foi batizada como "Amor por São Paulo" e deverá incorporar mais uma legenda, o PCB (Partido Comunista Brasileiro), que está perto de fechar um acordo para a aliança.

Boulos também anunciou propostas para saúde, educação, criação de oportunidades e meio ambiente. Segundo ele, os cinco eixos foram escolhidos porque são os temas em que a equipe que formula seu programa de governo mais avançou, mas outras iniciativas ainda serão anunciadas e detalhadas.

O pré-candidato, que aproveitou o discurso sobre a situação da capital para criticar o prefeito Ricardo Nunes (MDB), aspirante à reeleição e seu principal adversário, disse que o orçamento do município comporta as iniciativas que está propondo e que também buscará recursos estaduais e federais.

"Nós não vamos criar nenhum tipo de taxa", afirmou, ao ser questionado sobre como custeará suas promessas, que envolvem, por exemplo, abertura de concurso público para novos agentes da GCM, implementação do ensino de tempo integral em todas as escolas municipais, contratação de médicos para o atendimento de especialidades e abertura de centros para capacitação profissional de jovens.

Marta, que perdeu a reeleição em 2004 e será vice na chapa, ganhou de adversários o apelido de "Martaxa" após ter criado cobranças como a taxa do lixo -ela já disse ter se arrependido das medidas.

"Hoje, São Paulo não precisa disso [taxas]", afirmou Boulos, dizendo que a cidade tem recursos em caixa e que a condição das finanças é sadia "não graças a essa gestão", de Nunes, mas à de Fernando Haddad (PT), seu apoiador, que renegociou a dívida do município com a União quando foi prefeito.

Ao falar sobre segurança, o pré-candidato lembrou que a questão é de responsabilidade do governo estadual, mas disse que a prefeitura não pode se omitir. Um dos colaboradores de Boulos sobre o tema é o coronel Alexandre Gasparian, ex-comandante da Rota (batalhão de elite da PM conhecido pelo histórico de letalidade e truculência).

O deputado prometeu dobrar o efetivo da GCM, hoje de pouco mais de 7.000 membros, ao longo do mandato, caso seja eleito, e se mostrou favorável ao uso de câmeras corporais pelos agentes. Ele pregou um modelo de proximidade com a comunidade e a criação de rondas em bairros e nas proximidades de escolas, na periferia e também na região central.

Outra expectativa da campanha é a de formar uma força-tarefa com órgãos das três esferas de poder para combater o roubo e furto de celulares, usando a atribuição municipal de fiscalizar pontos de venda para sufocar a receptação de aparelhos e lançando mão de inteligência e tecnologia contra esse mercado.

Na saúde, o destaque da campanha será num projeto para zerar a fila de exames e procedimentos na rede pública e na criação de uma versão local do programa Mais Médicos, com foco em especialidades.

Para educação, o plano de pôr ensino integral em todas as escolas municipais será concretizado de forma gradual, segundo Boulos, que falou em colocar no contraturno atividades esportivas e culturais, resgatando o espírito original dos CEUs, uma das marcas da gestão Marta. Também foi prometido que toda escola municipal terá um psicólogo e a valorização dos professores, sem detalhes adicionais.

O pré-candidato citou a fama de "terra das oportunidades" para lamentar a ausência de ações do governo municipal sobretudo para jovens na periferia, que "estão jogados à própria sorte", em suas palavras.

O programa Centro de Oportunidades, citado entre as propostas, prevê a abertura de unidades para dar capacitação profissional na área de serviços e tecnologia, com cursos de robótica, design, moda, audiovisual, turismo e gastronomia, além de estímulo ao empreendedorismo.

Na temática ambiental, além de ações para ampliar áreas verdes e parques, a principal aposta da candidatura para adotar "o projeto mais ousado de sustentabilidade urbana do país", é a redução das emissões de carbono no transporte público, com mais ônibus elétricos e híbridos circulando.

Boulos disse que só está apresentando ideias que conseguirá realizar caso vença o pleito e que "é diferente quando existe "consciência e confiança de que você vai ganhar a eleição". Ele alfinetou Nunes, citando promessas de campanha que teriam sido descumpridas pelo prefeito e afirmando que não pode "fazer igual" a ele, porque isso contribuiria para um sentimento de descrédito da política.

"O que nós vamos falar na campanha nós faremos no governo", disse o deputado, que se referiu a Nunes como "prefeito fraco" ao afirmar que ele apoiou a privatização da Sabesp em troca do apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Também provocou o emedebista ao apontar incompetência e falar que São Paulo "precisa de ousadia e mudança, não só recapeamento asfáltico em véspera de eleição".

Boulos disse que seu programa de governo terá como mote central o combate às desigualdades, o que, em sua visão, "é bom para todos" porque leva a "uma sociedade mais segura e civilizada". Para o deputado, o conjunto de propostas o ajudará em segmentos do eleitorado resistentes a seu nome -33% dos eleitores dizem que não votariam nele de jeito nenhum, segundo pesquisa Datafolha deste mês.