A Coreia do Sul anunciou nesta segunda-feira (3) que vai suspender um acordo militar com a Coreia do Norte após Pyongyang enviar centenas de balões com lixo pela fronteira e abrir uma crise diplomática com o país vizinho. Segundo o Conselho de Segurança Nacional sul-coreano, o plano será colocado em pauta para aprovação nesta terça-feira (4).
Assinado em 2018, o Acordo Militar de 19 de setembro é fruto das históricas reuniões entre as duas Coreias há seis anos e tem o objetivo de reduzir as tensões entre os países. O texto, no entanto, já estava debilitado - no ano passado, Seul o suspendeu parcialmente quando a Coreia do Norte colocou um satélite espião em órbita, ao que o regime de Kim Jong-un respondeu com a completa desvinculação.
Agora, o conselho disse que recomendará ao governo sul-coreano "suspender com todos os efeitos" o pacto "até que a confiança mútua entre as duas Coreias seja restabelecida".
A paralisação abrirá caminho para Seul realizar treinamentos perto da fronteira e tomar "medidas suficientes e imediatas" em resposta à provocação da última semana da Coreia do Norte, disse o órgão em um comunicado, sem especificar quais seriam essas ações.
Desde que se desvinculou do texto, o Norte implantou tropas e armas em postos de guarda perto da fronteira militar. Ao continuar a cumprir o pacto, disse o Conselho, Seul teve "problemas consideráveis na postura de prontidão" de suas Forças Armadas.
O anúncio é o último capítulo de uma crise que começou na semana passada, quando a Coreia do Norte enviou 15 toneladas de lixo por meio de 3.500 balões à Coreia do Sul, segundo declaração do vice-ministro da Defesa norte-coreano, Kim Kang-il, no último domingo (2).
Provocações entre os dois países são comuns - desde o armistício da Guerra da Coreia, em 1953, as duas nações permanecem tecnicamente em conflito e estão separadas por uma zona desmilitarizada. No entanto, as ações normalmente envolvem exercícios militares e lançamentos de foguetes, como aconteceu na última quinta-feira (30), quando a Coreia do Norte disparou cerca de dez mísseis balísticos de curto alcance nas águas ao leste da península, segundo Seul.
Ao enviar os panfletos políticos, bituca de cigarro, plástico e até mesmo fezes de animais ao espaço aéreo vizinho, Pyongyang afirmou que estava devolvendo "na mesma moeda" o envio de "panfletos e várias coisas sujas" na fronteira.
A justificativa é uma referência à ação de ativistas sul-coreanos e desertores que enviam regularmente infláveis contendo panfletos anti-Pyongyang, comida, remédios, dinheiro e pen drives com vídeos de música k-pop.
Os balões com lixo, que a Coreia do Norte chamou de "presentes de sinceridade", começaram a ser vistos na Coreia do Sul na noite de terça-feira (28). Após pelo menos outros três envios, que chegaram até a parte sul da península, o gabinete do presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, afirmou que Seul começaria a tomar "medidas que a Coreia do Norte consideraria insuportáveis".
Na ocasião, o gabinete afirmou que as medidas poderiam incluir a transmissão de propaganda e música k-pop por alto-falantes ao longo da fronteira - ação que o ditador norte coreano, Kim Jong-un, considerou tão ameaçadora que certa vez chamou de "cancro cruel".