As brasileiras Kátyna Baía e Jeanne Paolini serão indenizadas pelo estado alemão de Hessen, conforme decisão da Justiça da Alemanha. As duas, que são casadas, permaneceram 38 dias presas em Frankfurt sob a acusação de levarem 40 kg de cocaína na bagagem - segundo a Polícia Federal do Brasil, que investigou o esquema no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo, as malas não eram delas. As brasileiras foram detidas em 5 de março do ano passado.
O casal embarcou para férias de 20 dias na Europa. Elas viajariam por Alemanha, Bélgica e Holanda, em comemoração da conclusão da residência veterinária que Paolini fazia na UnB (Universidade de Brasília). "Ainda iremos discutir que valores serão pagos e isso irá acontecer na segunda parte do processo", afirmou à Folha de S.Paulo a advogada Chayane Kuss de Souza, que representa as brasileiras na Alemanha.
De acordo com a defensora, cada uma delas terá, no mínimo, direito a 75 euros por dia de prisão injusta, conforme determina a legislação local. Assim, cada uma deverá receber ao menos 2.850 euros, aproximadamente R$ 15,3 mil, na cotação desta segunda-feira (4).
A defensora diz acreditar que o Ministério Público não irá recorrer da decisão, já que os promotores consideraram as brasileiras inocentes e pediram o arquivamento das investigações contra as duas. "É muito improvável que eles recorram dessa decisão", afirmou. A ação criminal contra as brasileiras na Justiça alemã foi encerrada em dezembro do ano passado.
O inquérito que apontou a inocência de Kátyna e Jeanne incluiu imagens que comprovariam que as bagagens despachadas por elas no aeroporto de Goiânia tiveram as etiquetas trocadas em Guarulhos, onde fizeram escala.
No aeroporto de Frankfurt (que fica no estado de Hessen), a polícia alemã mostrou às duas quais malas tinham sido apreendidas com a droga e as etiquetas no nome delas. Segundo a defesa das brasileiras, Kátyna e Jeanne viram de imediato que a bagagem era completamente diferente da delas.
Elas mostraram aos agentes, então, a informação sobre o peso das malas registrado pela companhia aérea no momento em que foram despachadas: uma pesava 16 kg e a outra 17 kg, valores inferiores aos 20 kg de cocaína encontrados pela polícia em cada uma das bagagens. Mesmo assim, os policiais disseram que aquela era apenas uma das provas e por isso ficariam presas.
As imagens anexadas ao processo apontaram que a mala despachada por Katyna era preta, decorada com alto-relevo geométrico, enquanto a de Jeanne era rosa claro, com zíper da mesma cor. Já uma das bagagens atribuídas a elas em Frankfurt era cinza e não tinha relevo decorativo, enquanto a outra era de um tom rosa metálico, com zíper preto.
Também foram incluídas no processo imagens de um funcionário do aeroporto de Guarulhos mexendo nas etiquetas das duas malas. Ele era contratado de uma empresa terceirizada que atuava no terminal aéreo e acabou preso.
O caso virou alvo da Operação Iraúna, da Polícia Federal em Goiás, que prendeu seis suspeitos de participarem do esquema que troca etiquetas de bagagens para enviar drogas ao exterior. O método de ação dos criminosos, segundo as autoridades, consiste em retirar aleatoriamente etiquetas de bagagens despachadas e colocá-las em malas que contêm drogas.
A operação já era conhecida pela PF, que investigava a quadrilha desde 2019, e há suspeita de ligação com a facção PCC (Primeiro Comando da Capital).
Em outro caso semelhante, o casal líbio-brasileiro Ahmed Hasan e Malak Hasan foi preso em novembro passado na Turquia, por suspeita de tráfico de cocaína. A defesa dos dois sustenta que eles foram vítimas de troca de etiquetas de bagagens no aeroporto de Guarulhos.
Segundo a advogada brasileira Luna Provázio, que defende o casal no Brasil, a prisão foi decretada durante julgamento no Tribunal Criminal da Turquia. Os advogados do casal vão recorrer da decisão.