Ingredientes
Na mesa junina o milho marca ponto importante desde o período colonial. Seja no Nordeste, seja no Sudeste, regiões onde as festas em louvor aos santos do mês são mais celebradas, o cereal aparece em pratos típicos, doces e salgados. Dos bolos que somam muitos, a outras quitandas populares, os grãos realçam cor e sabor em receitas que têm lastro profundo na nossa culinária. Eles meio que contam nossa história.
Ralados, viram pamonha enrolada na palha, delícia rústica difícil de descrever para um estrangeiro apenas com palavras. Como subproduto, o fubá, misturam-se a ovos e leite e se transformam em broas temperadas com erva-doce à moda das iguarias portuguesas. Esmagados e coados dão à luz a polenta que imigrantes italianos colocavam na mesa cotidiana. E o que dizer da canjica, da pipoca, da espiga apenas cozida (ou assada na fogueira) e devorada depois de pincelada com manteiga? Tudo que se faz com milho é bom.
O mingau de milho verde é outra gostosura desse cardápio. O nome “mingau” é melhor opção que “curau”, eu acho. Primeiro, porque “ming’au” estava no léxico indígena desde que Anchieta decidiu transcrever palavras do tupi e compor um dicionário, e de “curau” nenhum filólogo encontrou a raiz. Segundo, por conta da tradução exata do termo que seria algo como “comida mole”. Porque acontece muito o seguinte: o curau que neste período do ano nos é oferecido em geral está no ponto de corte, acondicionado em copinhos descartáveis, enquanto a se perseverar a essência da iguaria, sua textura é aquela boa para a gente comer de colher. Delicioso é um mingau de milho verde feito com espigas maduras, amarelinhas, grãos bem granados mas não duros. Ah, e nada de acrescentar amido de milho, o que descaracteriza totalmente o prato. Quanto à canela em pó, é imprescindível.
Compre seu milho, descasque as espigas, limpe-as retirando totalmente seus cabelos. Depois, com o auxílio de uma faca de lâmina bem afiada, corte os grãos bem rente do sabugo. Leve-os ao liquidificador com 500 ml de leite e bata por três minutos. Em seguida passe essa massa de milho por peneira de trama fininha ou por um pano de prato limpo. Nesse processo, vá acrescentando aos poucos o leite restante, para extrair totalmente o amido. Na zona rural as mulheres ainda usam as mãos para apertar os grãos na peneira ou no pano. Mas uma colher dá conta do recado. Depois de passar todo o milho pela peneira ou pano, despeje o líquido em panela, acrescente o açúcar e o sal, leve ao fogo médio e não descuide. Mexa sem parar até engrossar, o que deve levar cerca de quinze minutos. E então baixe o fogo e deixe cozinhar por mais dez, mexendo sem parar. Experimente o tempero para ver se está do seu agrado. Se o mingau estiver a gosto, desligue o fogo e despeje ainda quente em tigelas, pratinhos de sobremesa ou travessa. Polvilhe a canela e sinta os aromas misturados antes de cair de boca na iguaria. Pode ser servida quente ou fria.