12 de dezembro de 2024
É NATAL

Nany People lança música natalina com padre Fábio de Melo; OUÇA

Por Naiara Andrade | da Agência O Globo
| Tempo de leitura: 5 min
Divulgação
Nany People e o padre Fábio de Melo

Nany People, atriz, humorista e cantora — com ênfase nesta última função artística, neste momento em que ela lança single e se prepara para apresentar o álbum “Nany People (en)Canta” em 2023 — chega a embargar a voz e não esconde as lágrimas ao relembrar histórias difíceis do passado, mas logo se recompõe e relaxa ao rir de si mesma, relatando situações cotidianas.

"Eu não suporto vinho seco. Mas em toda cidade que chego, sempre tem um enólogo disposto a me apresentar sua melhor safra. Por isso eu carrego um adoçante comigo na bolsa. Nos jantares, despejo 15 gotas na taça, sou dessas. De seca, basta a vida", conta, às gargalhadas.

Às vésperas do Natal, a mineira de 57 anos lança sua versão do clássico “Para não ser triste”, marcante em um comercial do Banco Nacional, nos anos 80, e que agora também ganha a voz de padre Fábio de Melo num feat especial com a artista.

"Essa música é um mantra. E eu sou muito fã do Padre Fábio. Ele me desarmou na pandemia, durante uma live, quando falou: “Minha filha, você me ganhou no dia em que disse numa entrevista que teve que brigar muito para ter o direito de ser quem você é. E você sabe que, aos olhos de Deus, somos todos iguais”. Fiquei muito surpresa e comecei a chorar. Respondi: “O senhor me descontrolou agora”. E ele: “E quando é que você foi controlada, minha filha?”", detalha Nany, que se autointitula “um paradoxo”. "Sou uma mulher trans, mas muito religiosa. Se compro um carro, levo para benzer. Se compro um imóvel, chamo um padre para visitar. Tenho um oratório em casa que nem sacristia de igreja tem. E tatuagens relativas à religião: o Salmo 23 gravado no braço, Nossa Senhora Aparecida na nuca, o Sagrado Coração de Jesus..."

Padre Fábio devolve a admiração pela excêntrica parceira de gravação. "A querida Nany People muito me ensina sobre generosidade. Quem não mora bem em si é uma péssima vizinhança para os outros."

Nany entrega que fica mais sensível nesta época do ano. E não segura o choro ao falar sobre um Natal inesquecível, o de dezembro de 1969, quando tinha 4 anos. "Escrevi uma carta para Papai Noel com o sonho de ganhar uma bola gigante, de plástico, toda colorida, como as meninas tinham. Mas aconteceu que meu avô estava com câncer, e o marido da minha tia, com enfisema. Um morreu no dia 4 de dezembro, aniversário de titia, e o outro na semana seguinte. Ela tinha um armarinho, cheio de produtos de Natal, que queria deixar fechado, em sinal de luto. Mas o padre a incentivou a reabrir o comércio. A família inteira foi pra lá ajudar, e vendemos tudo. Na noite de Natal, meu pai chegou com um frango, que ele tinha comprado no bar, acordou eu e meus irmãos, e fomos pra casa de titia. Eu levei uma florzinha pra ela. Nove pessoas comeram aquele frango, chorando em silêncio. E os vizinhos começaram a bater à porta, oferecendo um pedaço de empadão, outro de pernil... Acabamos fazendo uma ceia maravilhosa. Eu não ganhei a bola, mas foi o Natal mais feliz da minha vida. Aprendi ali que, por pior que seja o obstáculo, é preciso celebrar e agradecer."

Foi com a mesma idade, 4 anos, que Nany cantou pela primeira vez em público. "Subi num palanque de quermesse e arrebentei interpretando “A última canção”. Minha meta era ganhar um cartucho cor-de-rosa cheio de doce. Foi a minha estreia na música. Depois, morando em Poços de Caldas (MG), passei a me apresentar em vários concursos de calouros, e vencia todos. A Caravana do Chacrinha passou por lá duas vezes, cantei e ganhei uma televisão como prêmio. Meu bem, ganhar uma TV nos anos 70 era o equivalente a um “iPhone 28” hoje. Ninguém tinha."

Com o passar dos anos, Nany se encantou pelo teatro e foi inserindo a música de forma secundária em suas apresentações. Seu reencontro com ela foi no reality “PopStar”, da Globo, em 2019.

"Ali foi o grande estouro do champagne. Pude me apresentar para todo o Brasil, ao vivo, sem recursos de equalização da voz, só no gogó. Cantei Fafá de Belém, uma das minhas grandes musas ao lado de minha mãe, Hebe, Lilia Cabral e Rogéria. Realizei o meu sonho de criança de cantar na televisão", lembra.

Com a passagem pelo programa, surgiu a ideia de fazer um espetáculo solo chamado “Nany é pop”, em que a artista cantaria o amor nos três estágios da água: sólido, líquido e gasoso. Com tudo pronto para estrear, veio a pandemia da Covid e estagnou os planos. Meses depois, ela foi convidada pelo humorista Patrick Maia a se apresentar com a Banda Que Nunca Se Viu (formada por músicos que ficaram isolados em suas casas durante a pandemia) para um projeto musical, lançado em uma transmissão no TikTok em novembro. Agora, “Nany People (en)Canta” vai virar show, estreando em São Paulo no dia 19 de janeiro, além de três EPs.

"Minha vida sempre foi feita em cima do “não”: não pode, não é viável, não é possível, não é legal, não é normativo. Desde a minha condição de mulher trans até viver de arte. E eu sempre devolvi com uma pergunta muito simples: “Por que não?”", questiona ela, feliz com as novas escolhas profissionais, que ainda incluem, para o ano que vem, uma nova temporada como jurada do “Caldeirola”, do “Caldeirão do Huck”; quatro lançamentos de filmes (“O troco”, “Barraco de família”, “De repente, miss!” e “Um dia cinco estrelas”), três projetos em streaming, outra temporada no “Vai que cola”, do Multishow, e a série “Musa música”, do Globoplay. "Faço a mãe da musa. E cantei em cena, numa performance de “Mistério do planeta”, dos Novos Baianos. Mais do que isso, não posso adiantar."