25 de novembro de 2024
RECEITA

O verdadeiro fidalgo

Por Sonia Machiavelli | especial para o GCN
| Tempo de leitura: 3 min

Ingredientes:

Andei atrás da receita de fidalgo, essa torta que estava presente com certa frequência nas reuniões informais dos anos 90. De massa levedada, recheio de presunto, queijo e ameixas...“tinha também creme de leite”, me disse a amiga Dulce. “Era cortada em retângulos”, lembrou-me minha irmã. “Ficava leve, com sabor suave, nem muito doce nem salgada”, observou a Talita. “Nunca comi”, observou a jovem Keila. Para as da geração dela, fidalgo é apenas qualificação de algum personagem de romance ou série.

Fui ao Google, oráculo do nosso tempo, capaz de responder a qualquer coisa que lhe perguntemos. Pois acreditam que nem ele soube encontrar para mim a receita? Achei dezenas de fidalgos: bolos, pães, roscas, manjares, biscoitos, trouxinhas e até tortas. Mas estas não correspondiam ao que eu queria. Massa batida em liquidificador? Não era a original. Recheio que incluía milho? Jamais. Tinha uma vaga ideia de ouvir vizinha de tempos de antanho, rua Manacá, 83, listar batatinhas cozidas entre os ingredientes.

Já estava acreditando que os fidalgos haviam desaparecido da face da Terra como os dinossauros, quando me veio uma luz. Quem sabe poderia achar vestígio deles o Face? Entrei na página Apaixonados por Franca. Alguém ali teria memória do fidalgo? Descrito com invejável força pela Ádria Tristão Comparini, cujos dotes culinários e poéticos são por demais conhecidos dos francanos, ali estava o que eu procurava.

Obrigada, Ádria. Desde que você me passou as dicas, já fiz várias vezes. A receita, retirada do caderno de sua mãe, ficou perfeita. Apenas suprimi as uvas-passas para ceder mais espaço às ameixas, que deixei de molho em vinho a fim de que ficassem mais macias. Segui suas indicações de quantidade e tempo. Da primeira vez, tive dificuldade com o ponto da massa, porque não poderia ficar dura como pão nem mole como bolo. Da segunda acertei melhor a textura de visgo e entendi que deveria espalhar na forma com auxílio de colher.

Bom. Agora vamos à fórmula que considerava perdida. Comecei cozinhando quatro batatas, tamanho médio, descascadas. Depois, passei pelo espremedor. Enquanto amornavam, pois calor em excesso mata os microorganismos do fermento, misturei a este duas colheres de açúcar. Em dois minutos formou-se um mingauzinho: eram os micros devorando glicose. Purê de batata morno, juntei-o à mistura de fermento e açúcar e mexi. Depois foi a vez do leite (morno também!), dos ovos batidos, da manteiga, do sal. Aí chegou a hora da farinha para espessar até o tal ponto elástico. Untei uma assadeira de 20x25 e polvilhei farinha. Espalhei com colher metade da massa. Dispus o recheio, pela ordem de entrada: presunto, ameixas, creme de leite (bem misturado com seu soro) e muçarela. Cobri com o restante da massa. Pincelei gema diluída em leite e deixei crescer, o que levou trinta minutos. Forno quente por meia hora e pronto. Duro foi esperar esfriar para degustar.