Por que essa correria toda? Onde pensamos que vamos chegar? Acaso você está correndo porque acha que alguém vai chegar primeiro? Chegar primeiro aonde? O mundo não é uma maratona nem uma corrida de mil metros. Aquele soldado grego chamado Fidipides correu 42 km de Maratona até Atenas para anunciar a vitória do exército grego sobre os persas em 490 a.C. Essa história, cercada de muita lenda, conta que ao chegar ao seu destino e dar a notícia o soldado morreu exausto. Verdade ou mentira, fiquemos com a moral da história que enfatiza a importância da missão. Quero dizer, o recado está dado. E daí? Daí que, em não restando mais nada a fazer, o arauto morre. Tanta correria para quê?
Desculpe amigo leitor se empanei o brilho dessa linda historinha cantada em prosa e verso. Sim, mas fiz de propósito. É que, às vezes, é preciso suavizar certos padrões estereotipados para amadurecer um pouco o contraditório. Se você acha que, mesmo morrendo depois de dar a notícia, sem nenhum segundo para comemorar, se mesmo assim valeu a pena, eu respeito seu ponto de vista. Caso contrário, continue acompanhando meu raciocínio.
Insisto na pergunta, para que tanta correria? Para chegar ao destino e mal ter tempo para comemorar? Ora, meu amigo leitor, este mundo e esta vida têm prazo de validade. Um dia, tudo acaba, até mesmo este planeta. Está errada então a leitura que estamos fazendo das coisas. Tudo tem começo, meio e fim. Tudo que existe sob a face da terra tem seu ciclo. O homo sapiens não está encarando os recursos do planeta como exauríveis, incentivando um crescimento incessante, galopante, como se tudo não tivesse um basta, apostando em algoritmos desumanos para aumentar a produtividade, relegando a um segundo plano as soluções políticas de bem-estar. Muitas empresas sabem disso, e em privado dizem que gostariam de ir mais devagar, mas isso quer dizer que seu competidor vai chegar mais rápido. Chegar mais rápido onde, cara-pálida? A corrida está tão descontrolada e desgastante que está difícil de colocar o pé no freio. Essa era de crescimento incessante precisa dar um tempo, caso contrário o planeta não terá como evitar uma antecipada destruição. Poderemos dilatar o prazo de validade, se tivermos juízo.
De uma vez por todas, esse jorro de informações que circula por aí não leva a nada. Pelo contrário, muita informação é mentirosa. A verdade custa caro e a ficção é barata. Noah Harari chega a rotular de lixo certas informações dadas como valiosas e pertinentes. Precisamos nos cuidar contra esse desenvolvimento incessante que não enxerga o mundo como ele realmente é.
É claro que você poderá ser feliz cedendo sua autoridade para os algoritmos. Se é assim, não precisa fazer nada a respeito. Os algoritmos decidirão por você e pelo resto do mundo. Então, apenas relaxe, como aconselha Noah Harari, e aproveite a viagem. Os algoritmos cuidarão de tudo. Se, porém, deseja manter um discreto controle sobre sua vida e sobre seu futuro, aí então terá de correr mais rápido e melhor que o Amazon e o governo, conseguir conhecer-se melhor do que eles conhecem. Usar as armas do adversário (?). Não seria isso uma utopia? Haja fôlego, hein amigo? Mas, você tem o direito de buscar uma alternativa. Para correr tão rápido não leve muita bagagem e deixe os sonhos para trás. Não será moleza encontrar um terreno sólido num mundo que suspeita de todos os deuses e ideologias, que gira muito além de nossos horizontes... Correr, talvez. Mas, sem muitas ilusões. Elas pesam demais.
A autora é pedagoga, jornalista, advogada e profa. doutora aposentada - Unesp
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