
Um estudo recente conduzido por especialistas do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), organização mundial que reúne cientistas que tratam da tecnologia em benefício da humanidade, pode ser parâmetro para que o poder público em Bauru invista em soluções que desafogam o estrangulado tráfego urbano no município.
O levantamento foi realizado por profissionais da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e utiliza tecnologias que incluem técnicas matemáticas da área de inteligência computacional para otimizar o gerenciamento de semáforos.
O problema central do estudo - simulado em programas de computadores - envolveu uma ambulância que saiu do ponto de um acidente até um hospital num trajeto que passa inevitavelmente por uma extensa e movimentada via de Campinas, a avenida John Boyd Dunlop.
A ideia, explica o professor colaborador da Unicamp e membro do IEEE Gabriel Gomes de Oliveira, envolveu controlar em tempo real de semáforos conectados a um servidor através de telemetria para avaliar como essa gestão a distância poderia auxiliar a gestão do tráfego.
Na prática, a ambulância traça um trajeto através de aplicativo e já emite o sinal para a central de controle - que, por sua vez, inicia o trabalho de controle dos semáforos, abrindo os faróis para abrir caminho ao veículo de emergência.
O resultado surpreende: o tempo de deslocamento da ambulância até o hospital de emergência foi reduzido em 30% com a iniciativa. O diferencial, destaca Gabriel, é a utilização de softwares brasileiros e gratuitos.
Se um trajeto é de 10 minutos, por exemplo, a ambulância consegue chegar à unidade hospitalar com três minutos de antecedência. "Isso pode salvar vidas num contexto de emergência", pondera o pesquisador.
Embora a simulação tenha se baseado em Campinas, a tecnologia pode se estender a todas as grandes cidades de médio ou grande porte, incluindo Bauru.
"Escolhemos esse trajeto porque acontece em todas as grandes cidades. Uma ambulância que sai do ponto A e precisa ir ao ponto B através de um trecho naturalmente movimentado", contou Gabriel em entrevista ao JC.
"Mesmo que a cidade tenha faixa para ônibus por onde a ambulância passa, como São Paulo, o controle semafórico ainda assim é válido", acrescenta. As câmeras acopladas ao semáforo captam o momento em que a ambulância passa e já na sequência volta o farol ao funcionamento normal.
Além de melhorar a mobilidade urbana, a tecnologia contribui para a construção de cidades mais sustentáveis e eficientes. Isso significa que a iniciativa não se limita às emergências, para viaturas policiais ou ambulâncias. Pode auxiliar também na própria gestão de tráfego.
A começar nas vias de grande fluxo. Não é incomum, por exemplo, ver veículos parados em cruzamentos da avenida Rodrigues Alves em horários de pico aguardando que ônibus manobrem entre um lado ou outro da pista.
Cenas assim se repetem diariamente, mesmo quando o semáforo para quem cruza a Rodrigues está aberto e veículos são impedidos de passar pelo engarrafamento.
"Mobilidade urbana hoje significa também qualidade de vida. Se o trânsito vai bem, a própria cidade funciona melhor", lembra Gabriel.