Moraes critica inércia do Exército sobre acampamento golpista
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Em evento promovido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em memória dos ataques de 8 de janeiro de 2023, o ministro Alexandre de Moraes falou em tom crítico sobre a omissão do Exército que permitiu a instalação de acampamentos golpistas diante de seus quartéis, há dois anos.
"Houve inércia, houve omissão de se deixar acampamentos serem montados à frente dos quartéis pedindo intervenção, pedindo golpe. Isso é crime. E hoje ninguém mais pode dizer que não sabe disso, são crimes de incitação, de organização criminosa por estarem à frente dos quartéis", disse.
Foi do acampamento montado em frente ao QG do Exército em Brasília que saíram os bolsonaristas que depredaram os prédios dos três Poderes há dois anos.
De acordo com Moraes, não houve manifestação democrática naqueles atos. Isso porque os próprios envolvidos relataram que a ordem era aguardar as Forças Armadas serem convocadas para perpetrar um golpe de Estado.
O ministro disse que, após discursos e ataques golpistas ao longo de 2022, imaginou que o país teria superado o golpismo com a posse de Lula (PT) m 1º de janeiro de 2023. O que se mostrou um equívoco.
"Todos nós achávamos que o golpismo tinha se dado por vencido. Nós erramos, porque não estava vencido e não está vencido. Não estava vencido no dia 8 de janeiro, isso foi demonstrado. Já há ações penais contra a cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal, contra altas autoridades civis."
O ministro chamou também a PRF (Polícia Rodoviária Federal) de omissa ao citar o episódio no qual, no dia do segundo turno do pleito de 2022, ainda sob o governo de Jair Bolsonaro (PL), a corporação fez blitze em redutos de eleitores de Lula. Ex-diretor-geral do órgão, Silvinei Vasques ficou preso preventivamente por quase um ano por suposta tentativa de interferir no pleito.
No discurso, Moraes afirmou ainda ser importante reafirmar a necessidade de se equacionar a participação militar na política.
Mais cedo, no Palácio do Planalto, o ministro da Defesa, José Múcio, disse que espera o fim das apurações da Polícia Federal sobre a suposta tentativa de golpe em 2022 para punir culpados e, por outro lado, eliminar suspeitas sobre inocentes.
A declaração foi dada após a cerimônia que marcou os dois anos dos ataques golpistas às sedes dos três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Todo o evento foi marcado por manifestações como gritos de "sem anistia".
"A coisa está a mais pacífica possível. É o ministério mais tranquilo que você pode imaginar. Nosso espírito é colaborar. A grande festa nossa é quando esse inquérito terminar e os culpados forem punidos, quando essa nuvem de suspeição sair de cima dos inocentes", afirmou a jornalistas.
No final do ano passado, a PF indiciou o ex-presidente Bolsonaro e outras 36 pessoas no caso. Dentre esses, haviam generais, como o ex-ministro Walter Braga Netto. O fato gerou mal-estar entre militares, que buscam se afastar das apurações.
Em dezembro passado, a PF prendeu Braga Netto sob suspeita de interferir em investigação de trama golpista. O general foi o primeiro quatro estrelas a ser preso por ordem do Judiciário.
Nesta quarta, Múcio estava acompanhado no evento dos comandantes das três Forças -Marcos Olsen (Marinha), Tomás Paiva (Exército) Marcelo Damasceno (Aeronáutica). A presença deles foi nominalmente agradecida pelo pelo presidente Lula em seu discurso.
"Eu quero agradecer ao Múcio que trouxe os três comandantes das Forças Armadas para mostrar a esse país que é possível a gente construir as Forças Armadas com a proposta de defender a soberania nacional", afirmou.
No ano passado, Lula falou em "militares legalistas", o que gerou mal-estar na caserna. Neste ano, se limitou ao agradecimento da presença. Antes do evento, havia receio de que discursos inflamados acirrem os ânimos no meio militar, já abalado com a prisão de oficiais de alta patente.
Na reunião em que convidou seus ministros para o ato, Lula falou da importância da defesa da democracia e mencionou a prisão de Braga Netto. O presidente disse ter ficado feliz, por representar ação contra impunidade.
Apesar disso, militares do governo avaliam que o mal-estar está precificado e o comandante do Exército, Tomás Paiva, deve sofrer críticas de integrantes mais radicais da reserva. Ainda assim, o momento de maior tensão foi o das prisões dos generais no ano passado e o relatório da PF.