No final de 2023, tive uma breve, mas marcante conversa com uma figura experiente da política campineira. “No primeiro mandato, a escolha é óbvia. É no segundo que o prefeito precisa administrar os ânimos”, afirmou. A explicação é clara: durante o primeiro mandato, a escolha do nome à reeleição é natural. O prefeito em busca do segundo mandato tem o direito à candidatura, articula alianças de forma coesa e engata mais uma disputa eleitoral. Foi o que aconteceu: Dário Saadi encabeçou a chapa com Wandão como vice, Luiz Rossini mantido na presidência da Câmara e um primeiro escalão com apenas três mudanças.
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Mas, a partir de agora, o horizonte é de menor visibilidade. Dário não pode mais se candidatar, e, não se enganem, as peças já começaram a se movimentar – ou já estavam em ação – em busca de visibilidade. Nada disso é por acaso.
No grupo de secretários, há nomes com trajetória política, embora a viabilidade eleitoral de cada um seja outra questão. A análise aqui é sobre quem pode ter intenção de disputar ou quem conta com o apoio de seu grupo político, sem avaliar necessariamente as chances de sucesso.
O primeiro nome que vem à mente é o mais óbvio: Wanderley de Almeida (PSB), o Wandão. Atual vice-prefeito e ocupando seu quarto mandato na prefeitura, ele também foi secretário de Relações Institucionais nos governos Jonas Donizette e Dário Saadi. Experiência política não falta, mas seu potencial eleitoral é incerto. Cogitado como sucessor de Jonas em 2020, Wandão foi preterido pelo grupo, que avaliou que seu nome poderia enfrentar rejeição. Ele não nega ser um político de esquerda, atuou pela eleição de Lula em 2022 e integrou, inclusive, a equipe de transição do atual presidente. No entanto, Campinas mantém um perfil conservador de eleitorado, o que pode dificultar sua candidatura.
Adriana Flosi, secretária de Desenvolvimento Econômico, Tecnologia e Inovação e presidente da ACIC, também desponta como possibilidade. Com uma trajetória de peso na articulação política e empresarial, ela comandou projetos relevantes para a recuperação econômica pós-pandemia e ganhou visibilidade em eventos de sucesso. Politicamente, já esteve nesta estrada, tendo sido candidata a vice-prefeita em 2012 pelo PT, na chapa de Marcio Pochmann. Hoje, com forte influência no PSD e a confiança de Gilberto Kassab, Adriana é uma figura respeitada. Contudo, sua falta de teste nas urnas e o perfil elitizado podem ser barreiras junto à população mais vulnerável.
Por fim, a secretária de Desenvolvimento e Assistência Social, Vandecleya Moro, também chama atenção. Relativamente desconhecida ao ser nomeada, Vandecleya ganhou protagonismo durante a pandemia, com projetos sociais e forte atuação em comunicação. Filiada ao Republicanos e ligada à Igreja Universal, ela demonstrou habilidade política e visibilidade, especialmente por meio de uma comunicação estratégica nas redes sociais. No entanto, enfrenta críticas devido ao aumento das pessoas em situação de rua e por não ousar mais na abordagem desse tema. Além disso, sua trajetória política muito recente e o fato de ser considerada uma “forasteira” podem pesar contra ela.
Vale lembrar que esta é uma análise pessoal. Não se sabe se os nomes citados têm ambição de concorrer ou mesmo se estão sendo preparados para tal. Como bem disse Dário Saadi: “A política é como uma nuvem”. E, em 2026, algumas nuvens já começarão a se mexer.
Coração de mãe
E o prefeito de Sumaré, Henrique do Paraíso (Republicanos), que nomeou sua mãe, Noemi Stein, como secretária de Inclusão Social. Eleito no segundo turno com 58,22% dos votos, Henrique apresentou Noemi como parte do secretariado, destacando sua atuação no Fundo Social de Sumaré e apoio a ações sociais, sem detalhar formação acadêmica ou projetos específicos.
A gestão defendeu a legalidade da nomeação, citando que cargos de secretariado são considerados agentes políticos, o que exclui a prática de nepotismo, segundo entendimento do STF.
Em Limeira, Murilo Félix (Podemos), novo prefeito da cidade, gerou polêmica ao também nomear sua mãe, Constância Berbert Dutra, como Secretária de Habitação. Em publicação nas redes sociais, Murilo justificou a escolha como uma necessidade de compromisso com seu plano de governo.
Constância, ex-vereadora por dois mandatos, já teve mandato cassado, foi reconduzida ao cargo e não foi reeleita em 2024. Ela também liderou o Fundo Social de Solidariedade durante a gestão do marido, Silvio Félix, que enfrentou cassação por improbidade administrativa, mas foi posteriormente inocentado pela Justiça.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.