OPERAÇÃO APAE

Desvios atingiram verba pública; dupla tinha pretensões políticas

Por André Fleury Moraes | da Redação
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Arquivo no celular de Roberto mostra ampla reforma na casa de Franceschetti; no deck à esquerda há até uma banheira de hidromassagem
Arquivo no celular de Roberto mostra ampla reforma na casa de Franceschetti; no deck à esquerda há até uma banheira de hidromassagem

Se antes as hipóteses eram de que apenas recursos de doações privadas haviam sido desviados, hoje o Seccold já não trabalha mais nessa linha. A Polícia encontrou indícios de que a corrupção na Apae atingia também dinheiro público que a entidade recebia a partir de convênios firmados com Estado, União ou mesmo o município de Bauru.

O esquema envolvia a emissão de notas fiscais frias - algumas das quais a partir da empresa Prime Piscinas, de Felipe Figueiredo Simões, e das empresas de dedetização de Diamantino Campagnucci Júnior - para justificar despesas oriundas de caixas públicos.

Em abril deste ano, por exemplo, Roberto enviou a Claudia dados necessários para constar da nota fiscal de um convênio firmado entre a Apae e a Secretaria de Educação do Estado.

"Depreende-se que esses dados eram para constar nas notas fiscais emitidas pela empresa Prime Piscinas, demonstradas na conversa entre eles do dia 21/05/2024, e que possivelmente estariam sendo emitidas de forma fraudulenta", afirma relatório do Seccold.

"Assim como as notas da empresa do Diamantino, uma vez que a Apae já nos confirmou não ter recebido os materiais referentes à nota fiscal dos R$120.000,00 emitida pelo Diamantino", acrescenta o documento, em referência a uma das dezenas ou centenas de notas cujo serviço pago nunca foi efetivamente prestado.

A dupla Roberto e Claudia, em conjunto com outros investigados, desviou pelo menos R$ 7 milhões dos cofres da Apae. Cerca de R$ 5,5 milhões foram repassados a Franceschetti; a Claudia, R$ 1,8 milhão, aponta a Polícia Civil. Enquanto operavam o esquema de corrupção, Roberto e Claudia também mencionavam pretensões políticas.

Eles já se envolviam no círculo da política local, estadual e federal. As conversas revelam menções ao vereador Pastor Bira (Podemos) por suas supostas indicações de pessoal para trabalhar na Apae.

Ao JC, o parlamentar disse que "indicações eram para participação de processos seletivos. "Indiquei duas sobrinhas para participarem da seleção. Ambas são formadas e tinham condições de disputar as vagas".

Os diálogos revelam também comemorações de Roberto e Claudia quando da confirmação de emendas parlamentares a serem destinadas à entidade. Eles celebraram, por exemplo, a conquista de emendas impositivas de dois vereadores de Bauru e também de um deputado - não está claro se federal ou estadual.

Noutra ponta, porém, costuravam uma possível candidatura. Claudia chegou a se reunir no começo deste ano com um dirigente partidário de Bauru para sondar uma possível candidatura - que, porém, não foi adiante.

Já Roberto chegou a pensar em uma candidatura a prefeito - ressaltou, porém, que "se entrar para a política não volto nunca mais para a Apae".

Em outro diálogo, Roberto envia a Claudia uma foto sua na Feira da Bondade na qual se exibe de braços abertos. Brinca com a colega, dizendo que isso causaria mal-estar em certos setores da política local, e diz que "Bauru: estou de braços abertos para receber seus votos".

Ao JC, a defesa de Roberto, representada no caso de corrupção por um advogado de Ribeirão Preto, afirmou que não vai se manifestar porque dedicaria suas energias ao processo do ex-presidente. Ao JC, o advogado Alisson Caridi, que defende acusados da família Lobo, afirmou que "os fatos apontados pela Polícia Civil serão objeto de debate e julgamento pelo Poder Judiciário, que é quem detém competência para julgar". Disse ainda que"a defesa tem plena confiança de que, durante o eventual processo, os fatos serão devidamente esclarecidos e ficará evidente a não participação dos invesigados".

Ele contesta a versão da Polícia e nega envolvimento de seus clientes nos desvios da Apae. "Os fatos ainda estão sendo apurados e não temos condições de afirmar até esse momento que houve desvio de dinheiro público", ressaltou.

"No entanto, é preciso não perder de vista que a responsabilidade penal é  pessoal, ou seja, só atinge a pessoa que efetivamente cometeu um crime. Meus clientes negam a prática de qualquer crime. Dessa forma, se, após o regular trâmite do devido processo legal, ficar provado que alguém cometeu desvio de recursos públicos, tal conduta não pode gerar responsabilidade aos meus clientes, os quais  não tiveram qualquer participação", acrescenta. A reportagem enviou mensagem a Gisele, ex-presidente, que não retornou.

Justiça mantém prisão de investigados no caso Apae

A Justiça atendeu ao pedido da Polícia Civil e determinou mais cinco dias de prisão temporária para os oito presos na Operação Apae. Eles são suspeitos de cometer os crimes de peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa. O inquérito é conduzido pelo delegado Glaucio Stocco, titular do Seccold. Após o término da prisão temporária, é possível que a Polícia peça a prisão preventiva.

A prorrogação da prisão temporária complementa os primeiros cinco dias de detenção, permitindo que os policiais civis avancem na investigação sem virtuais interferências ou prejuízos causados pelos suspeitos à apuração.

São eles Diamantino Passos Campagnucci Júnior e Ellen Siuza Rocha Lobo, cunhado e irmã de Claudia Lobo, a filha de Cláudia, Letícia da Rocha Prado Lobo; Renato Tadeu de Campos, policial militar aposentado; Maria Lúcia Miranda, ex-contadora e coordenadora financeira da Apae Bauru; Pérsio de Jesus Prado Júnior, ex-marido de Claudia Lobo e pai de Letícia; Renato Golino, ex-coordenador financeiro da Apae; e Felipe Figueiredo Simões, empresário.

Um dos orçamentos da empresa de Diamantino: nota era elaborada e paga, mas serviços não eram entregues
Um dos orçamentos da empresa de Diamantino: nota era elaborada e paga, mas serviços não eram entregues

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