O ex-presidente da Apae Roberto Franceschetti, preso pelo homicídio de Claudia Lobo, desviou cerca de R$ 5,8 milhões da entidade, em cinco anos. Já a secretária-executiva, que segundo a Polícia Civil foi morta por ele, teria retirado R$ 1,8 milhão dos cofres da associação, no mesmo período. As cifras foram passadas por autoridades policiais em coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira (4), na sede do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), em Bauru.
Conforme o JCNET divulgou, o Diretor do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior 4 (Deinter-4), Ricardo Martines, acompanhado pelos delegados Marcelo Thomas Goes, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) e Glaucio Stocco, titular do Setor Especializado de Combate aos Crimes de Corrupção, Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro (Seccold), reuniram jornalistas para passar detalhes do caso, que resultou na prisão de oito pessoas.
Todas são acusadas de se beneficiarem, direta ou indiretamente, de desvios de valores dos caixas da Apae do município. A diligência desencadeada pelo Seccold, sob a coordenação de Stocco, foi denominada "Operação Apae".
Entre os detidos está a filha de Claudia, Letícia Lobo, que tinha um emprego considerado ‘fantasma’ na entidade e recebia mensalmente, aproximadamente, R$ 2.500. No entanto, apenas neste ano, fez três viagens internacionais para os Estados Unidos.
Também foram detidos a irmã de Claudia, Ellen Siuza Rocha Lobo, seu marido Diamantino Campagnucci e o ex-companheiro da própria Claudia Pérsio Prado. Foram presos ainda Renato Tadeu de Campos, policial militar reformado e ligado a uma empresa de segurança, Maria Lúcia Miranda, contadora e coordenadora financeira da Apae Bauru, e Renato Golino, ex-coordenador financeiro da Apae.
Maria Lúcia ainda atuava na entidade. O JC questionou a Apae na noite de ontem (3) sobre se ela participou da sindicância que a instituição disse ter aberto em agosto, mas não obteve retorno.
Roberto Franceschetti Filho, ex-presidente da Apae e acusado de assassinar Claudia Lobo, também foi alvo do mandado - mas ele já está preso desde agosto, tendo sido recentemente transferido para Guarulhos.
A Polícia não localizou um nono envolvido, Felipe Figueiredo Simões, cuja prisão também foi decretada. Ele se apresentou à polícia em Pirajuí, nesta quarta (4).
Todos são investigados pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
A chamada Operação Apae recolheu armas e celulares, através de mandados de busca e apreensão cumpridos em 18 endereços. Segundo Stocco, as prisões temporárias, válidas por cinco dias, foram concedidas pela Justiça para que as investigações continuem em andamento sem intercorrências.
Ele aponta para uma organização criminosa instalada na Apae, inclusive com envolvimento de empresários, com divisão de tarefas.
Os presos passaram por audiência de custódia, na manhã desta quarta (4), conforme adiantou o advogado que representa os familiares de Claudia Lobo. O JC não localizou a defesa dos demais envolvidos até a conclusão desta edição.
BLOQUEIO
Além das prisões, a Justiça também decretou 18 bloqueios de bens, entre pessoas físicas e jurídicas, no âmbito das investigações relativas ao caso Claudia Lobo.
Segundo o delegado Glaucio Stocco, a medida visa justamente garantir o ressarcimento da Apae, alvo de desvios de verba por um grupo de pessoas apontado por ele como organização criminosa.
"Fizeram a Apae sangrar em milhões de reais", acrescentou o chefe do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), delegado Ricardo Dias.
PARENTES
Todos os parentes de Claudia Lobo presos na operação desta terça-feira (3) prestavam serviços à entidade. A filha Letícia Lobo e Pérsio, seu pai e ex-marido da ex-secretária executiva, nem contrato formal tinham, segundo a Polícia Civil.
Já Ellen Lobo e o esposo dela, Diamantino, seriam proprietários de uma empresa em Agudos, que emitia notas frias para a Apae.
Também há suspeita nesse sentido envolvendo uma empresa de limpeza, que teria recebido depósito na ordem de R$ 120 mil ao mesmo tempo em que não há comprovação, segundo a Polícia, de que o material tenha sido realmente entregue ao almoxarifado.
O setor era supervisionado por Dilomar Batista, também denunciado por ocultação de cadáver no âmbito do assassinato da ex-secretária.
ARMA
Um "arsenal" de armas foi apreendido com o policial militar aposentado, que fazia a segurança para a Apae. Ele foi autuado em flagrante pelo problema. Possuía, inclusive, algumas de uso restrito.
Durante a operação, que contou com 62 policiais, também foram apreendidos joias e celulares, muitos deles iPhone 15, que eram comprados pela entidade e entregues a alguns funcionários.