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Representatividade: Jundiaí volta a ter três mulheres na Câmara

Por Nathália Sousa |
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Divulgação/Reprodução
Mariana Janeiro (esq.), Quézia de Lucca (centro) e Carla Basílio (dir.) são as mulheres eleitas para a Câmara Municipal de Jundiaí
Mariana Janeiro (esq.), Quézia de Lucca (centro) e Carla Basílio (dir.) são as mulheres eleitas para a Câmara Municipal de Jundiaí

Em 2016, Jundiaí não elegeu nenhuma mulher para a Câmara Municipal. Em 2020, apenas uma mulher foi eleita na cidade: Quézia de Lucca (PL). Neste ano, além da reeleição da vereadora Quézia, com votação recorde, mais duas mulheres vão compor o mandato de 2025 a 2028 em Jundiaí: Carla Basílio (PSD) e Mariana Janeiro (PT). Ainda assim, o número é minoria, pois há 19 cadeiras no Legislativo Municipal. Segundo o último Censo do IBGE, Jundiaí tem 443.221 habitantes, dos quais 52% são mulheres, mas ainda há pouca representatividade feminina na política da cidade.

Para as três mulheres que vão compor a vereança jundiaiense no próximo mandato, além dos desafios do cargo, há o desafio de gênero. Na hora da campanha, no pós-eleição e também durante o ofício, há a luta contra o machismo. Mas elas pretendem representar as jundiaienses, em pautas como combate à violência doméstica, ações de acolhimento e também garantia de direitos.

O trabalho

Carla Basílio é uma mulher trans, será a primeira na Câmara Municipal de Jundiaí, teve uma série de desafios para conseguir ser eleita e comenta sobre essas dificuldades. "Temos 19 vereadores e só três mulheres eleitas, então você vê como é na política. A própria mulher não vota em mulher, mesmo sendo mulheres que muitas vezes se sobressaem em tarefas, cuidam da casa, dos filhos, trabalham. Mesmo assim sofremos esse preconceito. Mesmo sendo homens a maioria dos vereadores, conseguimos três cadeiras."

"Na campanha, sofri perseguição, humilhação. Você não sabe como é para uma mulher ir para a rua e pedir voto. Não podemos entrar em um bar, em uma oficina mecânica, na rede social tem comentários ruins, e às vezes você vai ler e foi escrito por mulher", lembra.

Agora, já eleita, Carla pretende ser voz. "Eu sou uma mulher trans e quero fazer a diferença, cuidar das trans. Eu sei como é, porque já enfrentei muitas pedras, mas graças ao meu bom Deus estou aqui. Quero ser a voz desse povo que sofre tanto preconceito, quero fazer a diferença, ser representativa. Durante a campanha, também recebi mulheres que falavam que sofriam violência, então essa também será uma das minhas prioridades, porque inclusive já passei por isso. Represento com orgulho as mulheres e precisaremos nos unir na Câmara para ser voz feminina", afirma.

Mariana Janeiro é a mais jovem das mulheres eleitas e também a primeira vereadora preta em Jundiaí e, como pioneira, o caminho também foi complicado. "Jundiaí é uma cidade que, até o último dia 6, havia eleito apenas nove vereadoras em toda a sua história no Legislativo. Fui a décima mulher eleita e a primeira negra. Isso significa muito e, evidentemente, os desafios também foram vários."

"Ultrapassar as barreiras que as regras eleitorais acertadamente impõe exige um esforço muito grande para todos os candidatos, porém, quando se é mulher, é necessário ainda romper as barreiras da desconfiança sobre a nossa capacidade, trabalho e articulação, além de precisarmos encarar a dupla e a tripla jornada - com os filhos, com as tarefas domésticas e toda a vida cotidiana que existe para além da disputa eleitoral. Com pessoas negras, há ainda a necessidade de romper com o racismo. Não é tarefa simples", diz ela que, sendo de esquerda, é oposição à futura gestão do Executivo, visto que os dois candidatos no segundo turno da eleição (José Parimoschi e Gustavo Martinelli) são de direita.

Já em relação ao mandato, Mariana diz que uma das diretrizes buscadas será representar as demandas de mulheres. "O meu primeiro e principal trabalho, dentro dos movimentos sociais, é com mulheres. Especialmente aquelas que estão vulneráveis e/ou vítimas de violências (doméstica, de gênero, psicológica, entre outras). Por esse motivo, um dos cinco pilares do nosso mandato será, justamente, atuar no acolhimento, na defesa e na ampliação dos direitos das mulheres, meninas e crianças da nossa cidade."

Quézia de Lucca foi a única mulher no mandato atual (2021-2024) e conseguiu a reeleição com recorde de votos na história da cidade (8.020). Para ela, isso é reflexo da mudança de concepção política da sociedade. "O resultado histórico é uma mudança da concepção do voto, da busca de informação do eleitor sobre o trabalho de cada candidato a vereador e principalmente a questão do voto na mulher. Em 2016, não elegemos nenhuma mulher, em 2020, somente eu, e agora, em 2024, somos três mulheres, e eu a mais votada da história de Jundiaí."

Durante o primeiro mandato, Quézia chegou a sofrer violência política de gênero, mas enxerga com otimismo a nova formação da Câmara. "Estamos em ascendência, não só aqui, mas em toda estrutura política nacional e mundial. Muito longe do ideal, mas é uma crescente. Em 2020, quando fui eleita eu era apenas a sétima mulher vereadora da nossa cidade, esse ano já elegemos a oitava e a nona. Desde a legislatura de 2005-2008 não tínhamos três mulheres eleitas, hoje voltamos a ter três, sendo que eu me tornei a mais votada da história. Isso mostra uma mudança do comportamento do eleitorado. Quem sabe Jundiaí não possa eleger uma prefeita nos próximos anos."

Para o segundo mandato, Quézia tem, entre as prioridades, o atendimento a mulheres. "Há algumas prioridades de indicações que já fiz no meu primeiro mandato e vou batalhar para sair do papel: a base-fixa da Guarda Municipal na Ponte São João, o Centro de Referência de Tratamento ao Autista e a criação de um local exclusivo para atendimento de mulheres vítimas de violência na nossa cidade."

Carla, Mariana e Quézia tomam posse para o mandato 2025-2028 no dia 1º de janeiro do próximo ano.

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