OPINIÃO

Uma eleição definida nas estratégias

Por Arnon Gomes | especial para a Folha da Região
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução/Facebook
Lucas Zanatta (PL), o prefeito eleito, como maior acertador
Lucas Zanatta (PL), o prefeito eleito, como maior acertador

Foi uma disputa atípica se comparada às eleições anteriores, quando o eleitor foi para as urnas com pelo menos dois nomes com grandes chances de vencer. Ao mesmo tempo, a eleição de 2024 em Araçatuba foi definida nas estratégias, as quais tiveram Lucas Zanatta (PL), o prefeito eleito, como maior acertador.

Seus adversários diretos, Felipe Fornari (PP) e Deocleciano Borella (PSD), erraram e pagaram caro pelo erro. Tanto o pepista quanto o candidato apoiado pelo prefeito Dilador Borges (PSDB) procuraram, através da divulgação de pesquisas, denúncias e da troca de farpas em debates, mostrar ao eleitor que a corrida ao Paço Municipal girava em torno de suas candidaturas. Puro engano.

Ambos ignoraram a força local do bolsonarismo, corrente majoritariamente identificada com o representante do Partido Liberal dentre os cinco nomes que concorriam ao Executivo municipal. Não observaram que, do outro lado, havia um vereador de oposição em segundo mandato que, a cada pleito, via sua votação crescer. Além disso, em 2022, quando o então presidente Jair Bolsonaro recebeu 65% dos votos em Araçatuba em sua tentativa de se reeleger, Zanatta fora candidato a deputado federal, tendo obtido votação superior a 40 mil votos.

Por outro lado, há de se destacar os erros de estratégias dos dois oponentes do candidato bolsonarista cometidos durante o período pré-eleitoral.

Enquanto Zanatta optou por não fazer alianças partidárias, Fornari recorreu à velha política de formação de coligações extensas, daquelas que, quando terminam com resultados triunfais no pleito, trazem a “conta” para o prefeito na formação da equipe de governo e definição de cargos comissionados. Não obstante, o passado controverso de figuras muito próximas ao postulante do PP foi fortemente explorado por seus adversários.

Enquanto Zanatta foi o único a trazer uma mulher (diga-se de passagem, negra) para a eleição majoritária – no caso sua vice, Maria Ionice Zucon – Borella era apresentado ao cenário eleitoral como uma escolha pessoal de Dilador, que preteriu o lançamento da atual vice-prefeita Edna Flor (Podemos), dona de um potente capital eleitoral na cidade, em prol da indicação de seu chefe de gabinete, um homem, até então, mais conhecido nos bastidores políticos.

Assim, mais do que pedir votos, a campanha de Borella teve a missão de, em pouco tempo, tornar conhecido o candidato junto ao eleitorado de modo que a expressiva votação obtida por Dilador nos pleitos de 2016 e 2020 pudesse ser transferida ao indicado à sua sucessão. Entretanto, a julgar pelo resultado das urnas nesse domingo, é notório que esse objetivo não foi alcançado. Apesar da máquina pública a seu favor, Borella foi apenas o terceiro colocado, com 26,94% dos votos, atrás de Fornari (29,85%) e Zanatta (35,82%).

Sendo assim, o novo prefeito de Araçatuba correu por fora e soube capitalizar com os erros adversários. Foi diferente dos demais concorrentes nas estratégias, porém, desfrutou de uma campanha milionária, algo que, infelizmente, ainda muito influencia os rumos de eleições.

Agora eleito, Zanatta tem inúmeros desafios pela frente. Como será o relacionamento com a Câmara do prefeito que, enquanto parlamentar de oposição, muitas vezes, terminava isolado em votações? Crítico da formação de bancadas governistas, Zanatta recorrerá a esse expediente para formar base de sustentação no Legislativo, ficando refém de vereadores sedentos por cargos e outras benesses, como ocorreu com seus antecessores Dilador e Cido Sério?

Apesar de o prefeito eleito ser crítico dessa prática, tudo indica que Zanatta precisará dialogar bem para se relacionar com o parlamento, considerando-se que somente três dos 15 vereadores da próxima legislatura pertencem ao seu grupo político.

Ainda no campo da articulação, Zanatta terá de esquecer seu lado militante – aquele que o levava com toda a galhardia para frente da Havan em manifestações bolsonaristas – e entender que é prefeito de uma cidade com muitas demandas. Sendo assim, será necessário estabelecer canais com o Governo Lula a fim de conquistar recursos federais para o município. Da mesma forma, a nova administração municipal precisará dar respostas ao araçatubense nos campos da saúde, educação e assistência social, oportunidade para desmistificar a máxima de que Zanatta e seu grupo político estão ligados a setores da elite da cidade.

Dessa forma, abre-se um novo ciclo na história política local. Das disputas entre Sylvio Venturolli e João Batista Botelho da década de 1960, passando pelo período da UPA (União Pró-Araçatuba) dos anos 1970, a era dos grupos tradicionais (Venturolli, Andorfato e Maluly) entre os anos 1980 e 2000 e as rixas entre PT (Cido Sério) e PSDB (Dilador) nos últimos 16 anos, Zanatta abrirá, no âmbito municipal, um período decorrente do avanço da nova direita que se estabeleceu no país da última década para cá.

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