ELEIÇÕES

Agressões marcam novo debate entre candidatos de SP

Por Ana Luiza Albuquerque | da Folhapress
| Tempo de leitura: 6 min
Clima ficou tenso
Clima ficou tenso

 Os pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo trocaram agressões e apresentaram propostas rasas em novo debate na manhã desta quarta-feira (14).

O conflito chegou quase ao contato físico em embate entre o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e o influenciador Pablo Marçal (PRTB), que levantou uma carteira de trabalho na altura de seu rosto. Marçal o chamou de "vagabundo", e o psolista disse que ele é um "mentiroso compulsivo" e que tem dúvidas se é "mau caráter" ou "psicopata".

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e a deputada federal Tabata Amaral (PSB) também trocaram farpas. Ela disse que o emedebista é "recordista de obras sem licitação" e sugeriu que ele adotasse o slogan "Rouba e não faz". Nunes a chamou de "mal informada" e disse que Tabata é "muito brava".

O debate foi promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo, em parceria com o Portal Terra e com a Fundação Armando Alvares Penteado (Faap). Participaram seis candidatos: Nunes, Boulos, Tabata, Marçal, o apresentador de TV José Luiz Datena (PSDB) e a economista Marina Helena (Novo).

Com o debate dominado pelos confrontos e trocas de acusação entre os pré-candidatos, a exposição de propostas para os problemas da cidade ficou em segundo plano e não foi aprofundada por eles.

O confronto entre Boulos e Marçal começou quando o deputado federal afirmou que o empresário não deveria estar ali. Isso porque no último debate televisivo, da Band, o influenciador disse que deixaria a disputa caso alguém mostrasse que ele já foi condenado pela Justiça.

Marçal foi condenado a 4 anos e 5 meses de reclusão em 2010 pela Justiça Federal sob acusação de furto qualificado, por participação, quando tinha 18 anos, em uma quadrilha especializada em golpes digitais. Boulos publicou trecho da sentença nas redes sociais.

"Mais uma vez você está me confundindo com o quadrilheiro chamado Luiz Inácio Lula da Silva, pessoas que você tanto apoia, Genoino, Dirceu, Dilma. Você é o PT kids nessa Prefeitura de São Paulo. A esquerda já não presta, imagina a escória da esquerda", respondeu Marçal.

O influenciador voltou a dizer que não houve crime e que ele trabalhou "para um cara consertando computadores". Marçal também acusou Boulos de ter sido preso três vezes.

"Você é um mentiroso compulsivo, viciado em mentir, é impressionante. Você é o padre Kelmon dessa eleição, vem para o debate para tumultuar", respondeu o deputado em referência ao candidato do PTB à Presidência em 2022, que ganhou fama em debates ao fazer dobradinha com o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Marçal disse então que era, sim, o Padre Kelmon: "Eu vou exorcizar o demônio com a carteira de trabalho, que você nunca trabalhou. Um grande vagabundo dessa nação".

No início do embate, a equipe do influenciador entregou a Marçal uma carteira de trabalho. Depois de duelarem em relação ao tempo, guardando segundos para falarem por último, o conflito escalou e chegou quase ao contato físico, quando Marçal seguiu Boulos pelo palco mostrando o documento.

Ambos sentaram lado a lado, e o ex-coach continou a mostrar o documento para Boulos que, irritado, tentou tirá-lo das mãos do adversário.

No confronto entre Nunes e Tabata, a deputada disse que o prefeito é recordista em obras sem licitação e sem planejamento, e citou denúncias de superfaturamento para favorecer empreiteiras.

"Você está mal informada, anda indo muito para outros estados, deputada", respondeu Nunes, pedindo para que Tabata não cometesse "esse tipo de leviandade".

"Sabe qual a diferença entre mim e esses candidatos? Eu não estou só lendo e estudando ou turistando na periferia. O que acha de adotar o seguinte slogan 'Rouba e não faz'", rebateu a deputada.

Em seu direito de resposta, Nunes citou o caso Americanas para criticar Tabata. "Você é muito brava aqui, mas, para falar da Americanas, que é teu tutor e financiador, que prejudicou milhares de trabalhadores, você não se pronunciou."

A afirmação reflete a associação, feita por críticos da deputada, entre ela e Jorge Paulo Lemann, um dos sócios de referência da rede varejista objeto de fraude bilionária. O pano de fundo dessa ligação é o fato de Fundação Estudar, que é parcialmente financiada por Lemann, ter pago uma ajuda de custo à deputada quando ela estudava na Universidade de Harvard.

Nunes e Boulos também trocaram farpas. O mdbista foi perguntando se concordava com algumas icônicas frases do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por exemplo, sobre não confiar em urnas eletrônicas e apoio à ditadura. Em resposta, Nunes disse que não era comentarista político e perguntou Boulos sobre apoiar o regime de governo da Venezuela.

"A Venezuela não é meu modelo de democracia, já coloquei isso mais de uma vez. A Venezuela está a mais de 4 mil km de distância de São Paulo. Agora, Paraisópolis está logo aqui e que você não fez a UPA que deveria ter feito lá", disse Boulos, que alegou que o prefeito não tem o que falar sobre a cidade, que só joga "coisas aleatórias".

"Eu fico imaginando você e o Bolsonaro. Quem é que iria mandar? Você, lamentavelmente, está à frente de uma cidade como fantoche de outro e agora quer trazer o Bolsonaro para São Paulo", continuou o candidato psolista.

Nunes respondeu que Boulos já foi preso três vezes. "A gente fala de tantas questões de segurança, você já teve várias condenações, atingiu viaturas da Polícia Militar, atacou. Seu comportamento, meu irmão, tem muito a aprender."

Por fim, Boulos respondeu que o prefeito vai ter que se explicar sobre quem estava ao lado quando ele deu um tiro na porta de uma boate. "Tem boletim de ocorrência e matéria provando", afirmou o psolista. Nunes foi denunciado por acusação de porte ilegal e disparo de arma de fogo em 1996, prefeito já relatou que se trata de um episódio antigo e que o disparo foi acidental.

Datena e Tabata fizeram dobradinha ao questionar Ricardo Nunes (MDB) e Pablo Marçal (PRTB) sobre acusações de envolvimento com o PCC (Primeiro Comando da Capital).

"Estamos virando no Brasil uma Colômbia na época do Pablo Escobar, São Paulo não é diferente. Tem gente sendo eleita com financiamento do crime organizado, do PCC, milícias e tudo mais. Se não pararmos com essa gente agora e não tivermos coragem para combater o crime organizado nós vamos virar um estado criminoso."

A pré-candidata Marina Helena também acusou o deputado estadual Antonio Donato (PT), coordenador da campanha de Boulos, de ter envolvimento com o PCC.

"Você faz acusações de que o crime organizado, o PCC está infiltrado aqui na cidade. Quero saber que moral você tem se um coordenador da sua pré-campanha, Antonio Donato, do PT, é acusado de receber R$ 75 mil de doação do chefe das máfias dos transportes?", questionou.

Os R$ 75 mil mencionados pela pré-candidata do Novo se referem a doação eleitoral declarada em 2020 por Donato, feita por Luiz Carlos Efigênio Pacheco, dono da empresa de ônibus Transwolff preso em abril durante operação do Ministério Público contra empresas suspeitas de ligação com o PCC.

Quando o repasse foi divulgado, Donato afirmou que não era próximo do empresário e que o havia visto apenas algumas vezes nos últimos anos.

O deputado respondeu que quem acusa a gestão atual não é ele, mas o Ministério Público e a Polícia Civil. "Talvez você tenha me confundido com outro candidato que tem o presidente do seu partido como confesso ligado ao tráfico de drogas e agora um assessor condenado preso por sequestro. É isso", respondeu Boulos, citando reportagens que apontam relações do PRTB de Marçal com o crime.

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