OPINIÃO

Café da manhã em família

24/04/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Quando eu era criança minha mãe preparava o café da manhã antes de ir pra escola.

Suco de laranja e sanduíche de queijo. Ficava comendo e assistindo desenhos, aquele que o Dick Vigarista tenta pegar o pombo era o meu favorito.

Eu não tinha dificuldade em acordar cedo, já minha irmã brigava com a cama e acabava por ter que comer apressada pra não se atrasar.

Observando isso passei a achar que algumas pessoas têm facilidade pra despertar pela manhã e outras não. Minha irmã sempre foi mais noturna, ficava até tarde pra ver os filmes da Tela quente enquanto eu pagava no sono antes do primeiro intervalo. Me lembro que nas férias tentamos assistir a série Lost. Mas passava depois da meia noite. Ela esperava ansiosa o boa noite do William Waack pra saber mais sobre Jack, Kate e Sayid, eu já estava no segundo sono.

Mas de manhã eu acordava com toda animação, assistia até o Telecurso 2000 enquanto ela ainda estava grogue, só querendo que o despertador calasse a boca e a deixasse dormir mais meia hora.

Essa era nossa rotina.

O tempo foi passando e passamos a não tomar mais café juntos. Não porque não queríamos, mas porque cada um tinha sua agenda. A vida mudou, nós crescemos!

Com horários e vidas tão diferentes cada um tinha seu despertador.

Às vezes mesmo aos fins de semana era difícil reunir a família. Tinha vezes que um queria dormir até mais tarde. O outro estava deitado por conta da ressaca e assim só ficávamos juntos para o almoço.

Desse meu pai não abria mão!

Pra ele era sagrado. Almoço ao meio-dia com a família em volta da mesa.

Mas até esse ritual se desfez. Bem... Eu me mudei, não moro mais com eles. Estar a treze horas de viajem fez com que o almoço em família ficasse com uma cadeira a menos.

Mas alguns hábitos nos marcam. Até hoje ainda tenho o costume de almoçar no mesmo horário que aprendi com meu pai e concordo que almoço é sagrado. É o momento de reunir a família, falar sobre a vida. Nada de televisão ligada. Sem piloto automático. Tem-se que estar ali, presente ao momento.

Sempre que vou visitá-los eu tento reviver esses hábitos que me moldaram. O café da manhã, o almoço no horário.

Mas alguma parte de mim sabe que não é mais a mesma coisa. Quando estou lá ainda durmo no mesmo quarto, mas não é mais o meu! É apenas o quarto de hóspedes. E é estranho ver que agora sou visitante na casa que cresci. Ainda mais porque minha irmã apesar de mais velha ainda mora lá. E que bom que eles a tem pra cuidar deles.

Na minha última estada me lembro de sentar à mesa logo cedo e minha mãe me perguntar se eu queria café com leite ou suco de laranja. Logo veio o questionamento da minha irmã:

"Mãe, porque apesar de ele não ser mais aquele garotinho de oito anos ainda pode escolher o que comer ou beber no café da manhã?"

Antes mesmo de minha mãe esboçar uma resposta eu intervi:

"Bem, essa é fácil. Saia de casa e vire visita. Logo a mãe e o pai irão te tratar com toda essa mordomia."

Falei rindo, claro que eu ocultei a parte que isso só acontece porque eu fico ali por uma semana. Mais que isso e as coisas seriam diferentes.

Mas tem coisas que a gente guarda, não sai revelando o segredo.

Sair de casa e morar longe dos pais já é difícil por si só.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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