EMPODERAMENTO

Literatura pode valorizar a ancestralidade

A pluralidade de ideias sobre questões raciais levanta uma dúvida: a literatura pode trazer um sentimento de representatividade e valorização da ancestralidade?

Por Letícia Malatesta | 19/04/2024 | Tempo de leitura: 2 min
Jornal de Jundiaí

Arquivo pessoal

 Graciele Savio, educadora, contadora de história de 34 anos, com seu filho Akin Savio de 7 meses
Graciele Savio, educadora, contadora de história de 34 anos, com seu filho Akin Savio de 7 meses

A pluralidade de ideias sobre questões raciais levanta uma dúvida: a literatura para o público infantojuvenil pode desempenhar um papel importante tanto na educação para as crianças quanto para um sentimento de representatividade e valorização da ancestralidade?

“A representatividade nos livros traz o negro nas mesmas perspectivas que estamos acostumados a ver pessoas brancas, heróis, princesas. A representatividade traz identidade racial, cultural e valoriza a ancestralidade. Falar sobre a ancestralidade é totalmente necessário, é por isso que a gente tem tantas pessoas negras preocupadas em levar a literatura negra para dentro das escolas”, relata Graciele Savio, educadora, contadora de história de 34 anos e mãe do Akin Savio de 7 meses.

A educação racial serve para auxiliar as crianças a entender como suas emoções surgem conforme o racismo estrutural ocorre durante a infância, adolescência, idade adulta e velhice.

Graciele conta sobre a importância da educação racial dentro de escolas: “Eu tenho muitos amigos professores e professoras que fazem um trabalho excelente nas instituições, que trabalham com educação racial e antirracista, que fazem questão de trazer em pauta, mas tem professores que não ligam, porque é um assunto que para ser dito, precisa ser pesquisado. Quando você vê uma criança abrindo um livro onde tem uma pessoa negra numa perspectiva de grandeza e você olha para ela e vê ela se enxergando, você vê ela se valorizando, a autoestima dela eleva, ela dá mais valor para o que pode se tornar no futuro.”

Segundo o IBGE, apenas 7,4% dos professores brasileiros são negros e indígenas, portanto, a importância dessa temática muitas vezes é deixada à margem das escolas, pela falta de experiência e conhecimento de professores brancos. A escolaridade brasileira é formada majoritariamente por pessoas brancas. Desde os professores às pessoas com cargos mais altos, a branquitude ocupa maior espaço.

No setor educacional, a falta de preparação das escolas e professores gera instabilidade. A educadora relembra sua infância: “Eu não tive contato com livros que pudessem me trazer representatividade. Eu não me lembro de ter lido um livro com um personagem de pele preta. Depois de muito tempo, eu fui entendendo que a minha baixa autoestima era por conta disso. Sem a representação você não se enxerga, você não se vê em livros, filmes e só se vê sendo retratado sempre de uma forma estereotipada. Você é bandido ou é sempre empregado doméstico, sempre a pessoa que está numa situação vulnerável e isso faz muito mal para uma criança, isso faz com que, mais uma vez, ela acredite que o lugar dela é sempre negativo, de pobre, de bandido, de faxineira, de situações vulneráveis. Olha, as pessoas iguais a mim estão sempre nessa luta para mudar as coisas. A gente já encontra negro em outras perspectivas, poucas, mas encontra e isso faz total diferença para uma criança.”

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