MEMÓRIA

Incêndio destrói museu com painéis de Carlos Lamarca no Vale do Ribeira

O local abrigava painéis que retratavam a passagem pela região do capitão Carlos Lamarca (1937-1971).

Por Marcelo Toledo | 30/03/2023 | Tempo de leitura: 3 min
da Folhapress

Reprodução/Ailton Martins/Agência Pública

Acervo foi alvo de polêmica quando Ricardo Salles mandou que fossem retirados um busto e citações sobre o Lamarca.
Acervo foi alvo de polêmica quando Ricardo Salles mandou que fossem retirados um busto e citações sobre o Lamarca.

Um incêndio registrado no último domingo (26) destruiu a estrutura física e o acervo do Museu da Capelinha, que fica dentro do parque estadual do Rio Turvo, em Cajati, no Vale do Ribeira (SP).

O local abrigava painéis que retratavam a passagem pela região do capitão Carlos Lamarca (1937-1971) e foi alvo de polêmica em 2017, quando o ex-secretário do Meio Ambiente de São Paulo Ricardo Salles, hoje deputado federal pelo PL, mandou que fossem retirados um busto de Lamarca e citações sobre o guerrilheiro.

Há a suspeita de que o fogo tenha sido criminoso. Ele destruiu ou comprometeu seriamente o acervo existente no local, com painéis, livros e móveis, além de atingir uma área em que animais empalhados eram exibidos aos frequentadores. Vidros foram quebrados e houve o desabamento do telhado.

Segundo a Fundação Florestal, o museu não tinha materiais originais, documentos ou peças do acervo pessoal de Lamarca, e sim "painéis relativos a eventos ocorridos no âmbito do parque", produzidos pela gestão do local, com imagens de reprodução. Outros documentos originais sobre descobertas arqueológicas na região também não estavam lá, conforme o estado -foram transferidos para a USP há 23 anos.

O museu, inaugurado em 2012, fica num local afastado da entrada do parque e, quando o fogo foi detectado, não foi possível ser contido pelo funcionário que estava no local no momento. A estimativa é que o incêndio tenha durado duas horas. Não houve feridos.

A Fundação Florestal informou ainda que a gestão da unidade de conservação acionou a Polícia Civil após o incêndio no centro de exposição temático, que realizou perícia no local, e que a equipe local está preparando um relatório sobre os danos causados no local para embasar as ações futuras a serem tomadas.

Por meio de uma nota, a Prefeitura de Cajati repudiou o incêndio e pediu que os responsáveis sejam punidos pelos atos de vandalismo. O caso é investigado pela Polícia Civil.

Segundo a administração, o espaço abrigava exposições temáticas com informações sobre o parque estadual, o mosaico de unidades de conservação do Jacupiranga, a Mata Atlântica e o Vale do Ribeira, além de réplicas de animais existentes na mata.

**GUERRILHA**
Salles foi acusado de crime contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural pela decisão retirar do museu do busto e dos painéis que retratavam a passagem de Lamarca pela região.

O ex-ministro foi denunciado pelo Ministério Público em novembro de 2019 e, no mês seguinte, a Justiça aceitou a denúncia e o transformou em réu. O TJ (Tribunal de Justiça) de São Paulo, no ano seguinte, decidiu trancar a ação penal.

O busto e os painéis removidos por ordem de Salles faziam referência ao capitão do Exército Carlos Lamarca. Entre 1969 e 1970, ele e outros 16 integrantes da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) fizeram treinamento de guerrilha em grutas, em meio à Mata Atlântica, no Sítio Capelinha, onde hoje fica o parque. Lamarca foi morto numa operação militar na Bahia, em 17 de setembro de 1971.

O parque estadual recebe, em média, 20 mil visitantes por ano. Criado em 2008 nos municípios de Cajati, Jacupiranga e Barra do Turvo, ele tem área de 73 mil hectares (o equivalente a 102.240 campos de futebol) repleta de palmiteiros e araucárias e com uma fauna composta por invertebrados, anfíbios, répteis, aves e mamíferos.

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.