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Há 40 anos, seleção entrava em crise com trocas de técnicos, vaias e reclamações

No espaço de quase dois anos, a seleção teve três treinadores.

Por Alex Sabino | 28/03/2023 | Tempo de leitura: 4 min
da Folhapress

Reprodução/CBF

Aconteceu de tudo. Futebol ruim, resultados inesperados, boicote dos jogadores à imprensa, crises matrimoniais, derrotas no Maracanã e mais.
Aconteceu de tudo. Futebol ruim, resultados inesperados, boicote dos jogadores à imprensa, crises matrimoniais, derrotas no Maracanã e mais.

Tal qual em 2023, há 40 anos o Brasil vivia impasse sobre o cargo de técnico da seleção. Se agora o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ednaldo Rodrigues, imagina qual é a melhor opção para substituir Tite após Copa do Mundo do Qatar, em 1983 Giulite Coutinho pensava no que fazer com a vaga aberta com a saída de Telê Santana depois do Mundial da Espanha.

Rodrigues quer iniciar o ciclo para o torneio de 2026 com um novo projeto pronto. O italiano Carlo Ancelotti é o favorito da diretoria da confederação e de parte dos jogadores. Tudo o que eles devem evitar é repetir o que ocorreu há quatro décadas. No espaço de quase dois anos, a seleção teve três treinadores.

Aconteceu de tudo. Futebol ruim, resultados inesperados, boicote dos jogadores à imprensa, crises matrimoniais, derrotas no Maracanã, xingamentos do presidente da CBF e um processo de crise quase permanente. A principal vitória brasileira no período ocorreu no cara ou coroa.

"Sem um projeto de longo prazo, é difícil obter sucesso. Os dirigentes precisam saber o que querem", disse Carlos Alberto Parreira, ao ser demitido em novembro de 1983.

Sua contratação havia sido uma guinada e tanto. Se Ednaldo Rodrigues garante que vai escolher sozinho o novo técnico da seleção, Parreira ser contratado foi decisão pessoal de Coutinho, então recém-eleito. "Ele vai ser o nosso treinador no México, em 1986", afirmou Coutinho.

Não foi. Nem sequer chegou perto disso. Parreira tinha um plano de renovação da equipe, mas durou 11 meses no emprego. Jornais como a Folha de S.Paulo chamaram seu trabalho, após o primeiro treino, de "revolução".

"Considero a escolha de Parreira um desrespeito com os treinadores que já trabalham há muitos anos no Brasil", disparou Aymoré Moreira, técnico campeão mundial de 1962. É uma crítica que Ednaldo Rodrigues vai escutar se o nome selecionado agora for o de um estrangeiro.

Em 14 jogos, Parreira ganhou cinco, empatou sete e perdeu dois. O que selou seu destino foi a Copa América de 1983, com partidas eliminatórias em sistema de ida e volta.

O Brasil foi batido na final pelo Uruguai depois de perder em Montevidéu e empatar em Salvador. Chegou à decisão apenas porque, na semifinal, após dois empates com o Paraguai, classificou-se no sorteio do cara ou coroa.

"Eu tenho certeza de que a equipe vai melhorar", defendeu após a perda do torneio continental, como que a pedir tempo.

Coutinho decidiu que a seleção, como teria meses pela frente até o amistoso seguinte, precisava de um recomeço. Parreira foi para o Fluminense ser campeão brasileiro de 1984 e retomar o caminho que o faria voltar à CBF para ganhar a Copa de 1994.

"Estou impressionado com a desenvoltura dele. Tem tudo para ser o nosso treinador no Mundial no México", elogiou o diretor de futebol da CBF, Dilson Guedes.

O alvo dos elogios era Edu Coimbra, artilheiro histórico do America-RJ e irmão de Zico. Ele foi o substituto de Parreira. Apesar de tamanha confiança, recebeu contrato de apenas um mês. Ficou encarregado de comandar a seleção em três amistosos em 1984. Seria um teste. "Estou confiante de que vai dar certo e vou continuar", disse Edu. Ele, na época, era também técnico do Vasco.

As palavras não tiveram ressonância dentro de campo. A equipe saiu vaiada de dois dos três jogos sob seu comando. E levou um dos gols mais bonitos da história do Maracanã quando John Barnes costurou a zaga brasileira, driblou o goleiro Roberto Costa e abriu o placar da vitória inglesa por 2 a 0. Roberto Dinamite afirmou que as vaias foram por causa da crise econômica no país, não pelo futebol ruim.

Edu deixaria o time do Brasil após empate sem gols com a Argentina e vitória por 1 a 0 sobre o Uruguai, gol de Arturzinho. "Vou escrever relatório recomendando a permanência do Edu", elogiou Guedes de novo.

Coutinho não quis saber daquela conversa e o trocou por Evaristo de Macedo, que dirigiu a seleção em um período pobre em resultados (três vitórias e três derrotas) e rico em confusões. Foi o que fez naufragar mais um plano de trabalho de preparação para as Eliminatórias.

Casagrande reclamou de esquema tático, Sócrates foi à imprensa queixar-se por não ser chamado. Convocados e Evaristo se irritaram com a cobertura da imprensa. Antes de amistoso com o Chile, em 1985, os atletas divulgaram manifesto em que afirmavam que não falariam mais com os jornalistas. Giulite Coutinho viajou ao Chile para apaziguar os ânimos e foi flagrado xingando os jornalistas.

O técnico detonou crise conjugal em casamentos de jogadores. Ao ser lembrado de que os atletas estavam havia muito tempo fora de casa e sem sexo, respondeu que aquele problema vinha "sendo resolvido da melhor maneira".

O Brasil perdeu para o Chile, e Evaristo acabou demitido no voo que levava a delegação de volta a São Paulo. De acordo com o jornalista Juca Kfouri, colunista da Folha de S.Paulo, o substituto também estava a bordo. Comentarista do SBT, Telê Santana acompanhava as partidas da seleção e foi convidado a voltar por Giulite Coutinho. Era ele quem lideraria a seleção na Copa do México, em 1986, trazendo a estabilidade que a CBF buscava.

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