Todo fim de ano convida a balanços, mas 2025 exige mais do que otimismo artificial. Exige honestidade. E, sobretudo, maturidade para olhar o que foi vivido sem tentar dourar derrotas nem dramatizar escolhas.
No campo profissional, assumir a gestão da comunicação da Cúria Diocesana de Jundiaí, a convite de Dom Arnaldo Carvalheiro Neto, foi um dos maiores exercícios de responsabilidade que já vivi. A Cúria é o núcleo administrativo da Diocese: ali se articulam as pastorais, se organizam as diretrizes de evangelização, se responde às demandas de paróquias e se mantém a unidade de um território que compreende onze cidades: Jundiaí, Cabreúva, Cajamar, Campo Limpo Paulista, Itu, Itupeva, Louveira, Pirapora do Bom Jesus, Salto, Santana de Parnaíba e Várzea Paulista.
Comunicar a Igreja não é tarefa simples. Nem tudo é facilmente explicável, nem toda decisão é bem recebida, nem todo silêncio é compreendido. Há temas delicados, tensões internas e expectativas externas que superam qualquer pauta institucional. A Cúria existe para apoiar o trabalho pastoral do bispo e das paróquias, garantir a coerência institucional e promover a comunhão na diversidade das realidades locais. Assistir a esse processo de dentro, traduzindo ações e significados para além de termos técnicos demanda lealdade institucional, sensibilidade pastoral e coragem para sustentar informações difíceis sem ferir ninguém.
Auxiliar a Igreja a comunicar o que nem sempre é fácil foi um chamado desafiador e enriquecedor. Aprendi que comunicar ali não é marketing, é serviço à verdade e à comunhão. Significa explicar decisões complexas, acolher dúvidas e, muitas vezes, ser a ponte entre estruturas e pessoas, entre realidades administrativas e vidas que esperam sentido.
Mas foi no campo pessoal e político que o ano trouxe suas lições mais duras e, paradoxalmente, mais libertadoras. A derrota que sofri nas urnas em 2024 deixou claro algo que só o tempo confirma: o eleitorado não quer pessoas com o meu perfil na Câmara. Isso não é injustiça, nem incompreensão coletiva. É constatação. E está tudo bem. A democracia também se expressa pelo “não”.
Aceitá-lo sem ressentimento é sinal de maturidade.
Essa derrota não gerou fuga, mas discernimento. Desistir de concorrer novamente a cargos eletivos foi uma decisão consciente. Não por medo, mas por lucidez. Nem toda vocação é política, nem todo tempo da vida pede disputa permanente.
Infelizmente, a política jundiaiense ao longo de 2025 seguiu sem oferecer sinais de rumo claro. Os atuais ocupantes de cargos ainda não mostraram a que vieram, falta direção e respostas consistentes para os desafios concretos da nossa região.
Estar fora disso tudo tem sido surpreendentemente bom. Há liberdade em não defender o indefensável, em não relativizar erros por conveniência e em não transformar convicções em moeda eleitoral. Estar fora permitiu recuperar algo precioso: a paz de dizer o que penso sem cálculo e investir minha energia onde ela produz sentido.
2025 não foi um ano de grandes conquistas externas, mas foi um ano de ajustes internos. Aprendi que nem toda derrota precisa ser revertida e nem todo caminho precisa ser insistido. Às vezes, o maior avanço é reconhecer que aquele não é mais o seu lugar. E seguir em frente, leve.
Samuel Vidilli é cientista social