Dezembro costuma ser lembrado pelas luzes, pelas festas e pelas férias. Mas, em meio a tantas alegrias, também há uma sombra que paira sobre o último mês do ano: o aumento expressivo do número de casos de abandono e maus-tratos aos animais. Um problema grave, que exige nossa atenção e nossa responsabilidade.
No fim do ano, muitas famílias aproveitam para viajar. E é justamente nesse movimento que surgem situações dolorosas. Sem ter com quem deixar seus animais, alguns tutores simplesmente os abandonam. Outros, mesmo bem-intencionados, entregam seus pets aos cuidados de pessoas despreparadas, o que abre caminho para maus-tratos, negligência ou acidentes que levam à fuga dos animais, que acabam vagando pelas ruas, vulneráveis e desprotegidos.
Em um esforço para evitar cenas assim, foi criado o Dezembro Verde. Um mês inteiro dedicado à conscientização sobre a guarda responsável e ao combate ao abandono e aos maus-tratos. Não é a primeira vez que destaco a importância da data; e não será a última. Campanhas de conscientização só cumprem seu papel quando conseguem tocar pessoas, provocar reflexões e transformar comportamentos.
É por isso que, em 2020, eu apresentei na Assembleia Legislativa de São Paulo um projeto de lei que inclui o Dezembro Verde no calendário oficial do Estado. Uma proposta que se tornou lei no ano seguinte. O objetivo é simples e direto: estimular ações que promovam o debate e reforcem a responsabilidade de quem escolhe se tornar tutor de um animal. É por isso que o Palácio 9 de Julho, sede da Alesp, está iluminado de verde.
Ao nos tornarmos tutores de pet, assumimos um pacote de obrigações. Devemos garantir alimentação adequada, cuidados veterinários regulares, proporcionar um ambiente seguro e saudável, além de entregar a eles todo o amor que merecem. Ao ser abandonado, o animal sofre física e psicologicamente. Fica sem vacinas e sem cuidados veterinários.
Um estudo da Abinpet em parceria com o Instituto Pet Brasil estima que o país tenha cerca de 160 milhões de pets. Já a Mars Petcare calcula que 30 milhões de cães e gatos vivem nas ruas ou em abrigos. Números que revelam uma realidade dura, que o Dezembro Verde pretende transformar.
Além das viagens de fim de ano, outros fatores alimentam o abandono: problemas de saúde dos tutores, alergias, dificuldades financeiras, comportamento indesejados do animal ou expectativas equivocadas. São questões que precisam ser consideradas antes da adoção, porque o peso do arrependimento não pode recair sobre vidas inocentes.
Precisamos encarar o abandono animal como ele realmente é: uma ferida aberta, que mostra que falhamos como sociedade. Esse mês precisa ser o ponto de virada para uma convivência mais humana, responsável e compassiva. Porque a forma como tratamos os animais diz muito sobre quem somos, e sobre quem queremos ser.
Mário Maurici de Lima Morais é jornalista. Foi vereador e prefeito de Franco da Rocha, vice-presidente da EBC e presidente da Ceagesp. Atualmente, é deputado estadual e primeiro secretário da Assembleia Legislativa de São Paulo.