24 de dezembro de 2025
OPINIÃO

É Natal. Somos feitos do mesmo silêncio que brilha


| Tempo de leitura: 3 min

Antes de sermos nome, corpo, história ou fronteira, fomos luz em formação. Antes de pisarmos a Terra, já habitávamos o Universo - dispersos, incandescentes, esperando o tempo certo para nos tornarmos presença.

A raça humana nasce de um paradoxo: somos pequenos diante da vastidão cósmica, mas carregamos dentro de nós a memória das estrelas. Cada átomo que sustenta a vida – o carbono que estrutura as células, o ferro que oxigena o sangue, o cálcio que sustenta os ossos –, foi forjado em fornalhas estelares, em tempos tão antigos que a palavra “tempo” ainda não tinha sentido. Somos herdeiros de estrelas que viveram, morreram e explodiram para que algo novo pudesse existir.

Não viemos apesar do caos do Universo. Viemos por causa dele. (Portela & ChatGPT). Somos a parte do todo. O todo está em nós. Gregório de Matos, poeta barroco brasileiro, já afirmava no século XVII:
“O todo sem a parte não é todo; a parte sem o todo não é parte.”

Em tempos de festejos da principal data simbólica da cristandade, o nascimento de Jesus, independentemente de qualquer credo ou religião, vale a reflexão, quem sou eu? O que estou fazendo aqui? De onde vim? Para onde vou?
Somos infinitamente pequenos, quando comparados ao universo e gigantes em potencialidade, pois temos uma imensurável sabedoria, dentro de nós – basta acessá-la. Está à disposição, mas é preciso “viver a vida”, experenciar o caos, ousar, acessar a capacidade única de ser... a parte do imenso quebra-cabeças do universo que clama, sem interferir – seja essência. Vá! Faça! Mas, compreenda que você está aqui a serviço...  de si, do outro, do planeta, da raça humana.

A Terra não é apenas um corpo celeste que ocupa uma posição no Sistema Solar. É um sistema vivo em permanente interação, resultado de bilhões de anos de transformações físicas, químicas e biológicas. Ela, assim como nós, é um organismo complexo, dinâmico e interdependente. Compreender os chamados “reinos” da Terra é, antes de tudo, entender como matéria, energia e vida se organizam de forma integrada, criando as condições que tornaram possível a existência humana.

Somos compostos químicos, feitos do mesmo material das galáxias, embora dotados da capacidade de refletir sobre nossa própria origem.  Em tempos de transformação acelerada, talvez o maior desafio da humanidade seja reaprender a escutar a Terra e alinhar suas decisões ao equilíbrio que sempre sustentou a vida e que ora pende a balança para a frivolidade, ignorância, intolerância, arrogância e individualismo.

Podemos mudar... para melhor...Voltar a essência e lembrar que estamos em missão, a serviço do outro e para o outro. Mais que uma mensagem de Natal, enfeites e bolas coloridas, precisamos conhecer e aprender sobre o universo. Conhecendo-o, nos reconhecemos. Aprendermos a seguir o fluxo natural da vida, fazendo o nosso melhor, procurando o melhor no outro. A cada dia adquirindo um novo conhecimento, um novo dom para servir ao planeta.

Somos todos iguais. Será preciso voltar a nossa essência, a origem para nos aceitarmos e ao outro, exatamente como são. Nos sentirmos realmente pertencentes à Terra como um todo.

Que este seja o Natal do olho no olho, presencial. Que possamos celebrar o afeto. Que o amor que existe em mim, realmente possa aflorar o amor que existe em você. E que o amor que existe em você possa aflorar e despertar o amor no outro. Feliz Natal.

Rosângela Portela é jornalista e mentora em comunicação (rosangela.portela@consultoriadiniz.com.br)