21 de dezembro de 2025
OPINIÃO

A bondade jundiaiense


| Tempo de leitura: 3 min

Não raro, se você é de família mais tradicional de Jundiaí, a gente crescia, desde os 6 anos de idade, ajudando nossas mães a montar cestas básicas para o Natal. Ou ainda, bem pequenina, no antigo abrigo do Centro Espírita Fraternidade, ali na rua Marechal, ajudar a distribuir sopas para os moradores. Era comum também convivermos fraternalmente com as meninas do Lar Anália Franco. Essa convivência nos dava a sensação de pertencimento e de apoio às famílias vulneráveis.

Mais tarde, fui dar aula de alfabetização na Vila Esperança, ioga no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Jundiaí, tudo isso pelo exemplo que meus pais sempre me passaram, que é nosso dever ofertar nosso tempo e nosso amor a quem não tem mais nada.

Falo isso porque, às vésperas do Natal, eu fiquei encantada com a alegria em que fui recebida no bazar voluntário do Hospital São Vicente de Paulo. Ao entregar minha doação, 11 senhoras sorridentes vieram me acolher! Elas preparavam o bazar de Natal, com recursos totalmente dedicados ao setor social do hospital. Me senti, novamente, pertencente a uma sociedade humana e mais justa.

A exemplo dos vicentinos, Jundiaí tem inúmeras congregações religiosas ou não que se dedicam ao próximo. Espíritas, evangélicos, católicos, umbandistas, uma infinidade de gente que trabalha para quem não tem nada. Sem contar nossas instituições seríssimas, como a Apae, Ateal, Amarati…

Enquanto isso, proliferam pelos semáforos pedintes, trabalhadores de outras cidades que encontram aqui respaldo, mas que também - de uma forma ou de outra - dão suporte a bandidos, traficantes e afins. Porque, quem está na rua está propenso a não ter segurança alguma, sem contar as inúmeras doenças mentais e de dependência química.

Nossa secretária de ação social, Luciane Mosca, é uma lutadora. Ela tem trazido a dignidade no atendimento a moradores de rua, ampliando serviços de abordagem social e cuidando para que os encaminhamentos à saúde sejam ofertados, sempre que eles desejarem. Pois é. Para que um morador de rua seja tratado, ele precisa estar disposto. E nem sempre isso acontece.

E, dentro de nossa bondade jundiaiense, nem sempre colaboramos. É preciso que os serviços de alimentação aos moradores em situação de rua sejam integrados, em um só local, com orientação e disciplina. Hoje, cada instituição oferta a comida que quer, no horário que lhe convier, e isso acaba prejudicando o dia a dia do nosso Centro. A esmola do semáforo é outra atitude a ser repensada, por isso Luciane vai trazer o conceito de moeda social para esta população. Em vez de dinheiro na mão, recursos para que eles possam comprar comida e agasalhos.

A gente está salvando quem quando ofertamos a esmola? Nossa consciência ou uma efetiva ajuda ao morador? Para que nossa humanidade floresça de verdade precisamos estar vinculados a um trabalho social consistente e permanente. É preciso aprender a direcionar nosso apoio a instituições corretas. Nossas doações a programas consolidados de efetivo apoio aos mais carentes.

Longe de mim achar que filantropia e doação não devem estar conectados a nossa essência humana. Eu só acredito na humanidade que apoia o trabalho social, que quer promover o bem-estar de todos. Mas, para que isso aconteça, também precisamos exigir educação de qualidade e saúde pública acessível a todos.

Uma escola em meio período, com falta de política de inclusão e efetivo apoio às múltiplas deficiências, é excludente e é a maior responsável para que esta população fique sempre às margens. Não há caminho fácil para nosso Brasil, mas tenho certeza de que a consolidação de políticas públicas efetivas é de extrema urgência e necessidade.

Doar é bacana, participar de projetos sociais é dignificante, mas ajudar a promover mudanças sólidas para o futuro é urgente.

Parabéns, jundiaienses. No nosso coração há muito amor para doar. E, neste Natal, o que me chama a alma é a sempre atitude de Jesus em acolher, sem preconceito, e preferir andar entre os mendigos aos milionários. Por que será?

Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP, administração de serviços pela FMABC e periodismo digital pela TecMonterrey, México. É editora-chefe do Grupo JJ