17 de dezembro de 2025
OPINIÃO

O poder da palavra


| Tempo de leitura: 3 min

A fala. É tão natural que nem imaginamos o quanto ela é importante e rege praticamente tudo que fazemos. Desde os primórdios da criação a palavra é peça-chave e alicerce das relações, sejam elas pessoais ou profissionais. Falar, antes de tudo, é um ato de pensar.

Houve um tempo em que as palavras eram “medidas” para que não se fosse interpretado erroneamente. Na comunicação fala-se sobre o ruído. Profissionais da área se esmeravam na busca do vocabulário adequado para cada público. Atualmente, a fala está gutural, e a escrita monossilábica. Estamos retornando ao homem primitivo, quando nos primórdios da civilização, começou a registrar nas cavernas, por meio de desenhos e símbolos, a vida cotidiana – e viva os emojis.

Imagem e som dominam, hoje, as publicações nas mídias sociais. O “parecer” ganhou força sobre o “ser” e curtas narrativas esvaziam o sentido das palavras perdidas em cenários variados. O que é real? Está cada vez mais difícil de identificar.

Na era da inteligência artificial, há o desafio de ser referência para a máquina (IA) e não o contrário. O computador arquiva dados e pode nos oferecer soluções de pesquisa sobre qualquer tema em segundos. Mas a habilidade da interpretação cabe ao ser humano, que é dotado de um dom inigualável – o sentimento. Quanto mais se usa a tecnologia, mais as pessoas precisam ser o discurso, que está se deixando cair na superficialidade e no imediatismo que a rapidez demanda, sem se dar conta da complexidade que é emitir um único som.

Falar, do ponto de vista cognitivo, é mais do que articular palavras. É um processo mental intrincado que alia percepção, interpretação, organização de ideias, seleção de linguagem e ação comunicativa, tudo em frações de segundo. Em termos práticos, é o cérebro transformando pensamento em mensagem estruturada para gerar entendimento no outro.

As palavras isoladas, geralmente, nada significam. Contextualizadas, exprimem os sentidos que nos norteiam ou  nos dão o sentido do porquê vamos falar. A necessidade de instantaneidade das respostas tem deixado algumas perguntas no vazio e a etapa estratégica, na qual se organiza a mensagem foi transferida para uma zona que parece inacessível.

A intenção da fala deveria ser a primeira preocupação. Vou informar, persuadir, orientar, pedir, corrigir, estabelecer vínculo, resolver conflito? Por que falo? A mente faz uma construção mental do significado ativando memórias, percepções, experiências e referências internas para formar o conteúdo da fala. A próxima etapa é a codificação da linguagem. O cérebro transforma ideias em estruturas linguísticas, o uso da gramática, vocabulário, ritmo, pausas. Serei objetivo, emocional, direto, técnico, leve, firme?

Escrita e fala não são apenas ferramentas. São tecnologias de poder, influência e liderança. O significado das palavras, portanto, é mais do que linguagem. É instrumento para liderar. É cultura e também alicerce de relações estratégicas. Quando bem usada, reduz ruídos, acelera decisões e evita desgaste emocional. Caso contrário, cria atrito, retrabalho e desalinhamentos silenciosos.

Algo tão natural como saber se expressar, olho no olho, hoje, está se tornando diferencial competitivo, tanto nas organizações quanto na vida. E você? Sua fala é assertiva, objetiva, clara e acima de tudo, interessante?

Rosângela Portela é jornalista e mentora em comunicação