Lembremo-nos: até pouco tempo, o campeão dos torneios de final de ano era o Campeão Mundial. A FIFA modificou isso recentemente, e não repercutiu tanto, com a criação da Copa do Mundo de Clubes.
A lógica é: a FIFA criou uma competição de 4 em 4 anos aos moldes da Copa do Mundo de Seleções, e era provável que ela chamaria o vencedor de “Campeão do Mundo”. E como só quem ganha a Copa do Mundo de Seleções é Campeão do Mundo, idem à versão clubes.
E os demais Mundiais realizados?
Taí a narrativa modificada: A FIFA não reconhece mais os campeões de outros torneios não realizados por ela como “Campeões do Mundo”. Quando a montadora de carros japonesa (que organizava o Intercontinental) começou a patrocinar esse novo modelo de Mundial a partir de 2005, a FIFA começou a chamar a antiga Copa Toyota de “torneio continental equivalente a um Mundial” à época.
Agora, tudo mudou de novo. Ninguém tem mais Mundial! O primeiro time oficialmente campeão do mundo é o Chelsea, vencedor da Copa do Mundo de Clubes. E todos os demais torneios realizados anteriormente ganharam um novo nome: competições interconfederações!
Assim, o Palmeiras de 1951 e o Fluminense de 1952 (segundo a própria FIFA) são campeões interconfederações. O Santos de Pelé, quando disputou a Copa Europa – América do Sul (1962 e 1963), idem. O São Paulo FC, que venceu a Copa Toyota UEFA – Conmebol (1992 e 1993), também. E o próprio SPFC, o Corinthians e o Internacional, que venceram o chamado “Mundial de Clubes da FIFA”, não são mais mundiais, mas interconfederações.
O critério é simples: torneios que envolvam clubes de confederações diferentes e de repercussão mundial, são interconfederacionais. Campeão Mundial, até agora, só um: o já citado Chelsea.
Obviamente, os campeonatos realizados anteriormente eram intercontinentais e representavam o Campeão Mundial (os melhores da UEFA e os melhores da Conmebol). Depois, quando a FIFA resolveu organizar, incluíram outros continentes. E, agora, para “fazer vingar” a Copa do Mundo de Clubes, se reclassificou tudo.
Em 1951 e 1952, a FIFA não organizou os torneios e fazia vista grossa a eles. Nas décadas de 60, 70 e 80, a organização não foi dela, mas das confederações. Nos anos 90, quando a Toyota resolveu patrocinar esse torneio, ganhou ainda mais atenção. E nos anos 2000, a FIFA, como se fosse um cartório, “bateu o carimbo” de que o que valia era só o que ela fazia.
Alguém é maluco em dizer que Santos x Benfica não foi uma final do mundo? Que o Flamengo de Zico não foi Campeão Mundial? E tantos outros clubes?
Nessa nova contagem, o Real Madrid é o maior vencedor interconfederacional: 9 títulos, pelos diversos organizadores.
Em suma: para a FIFA, o Flamengo, se vencer, será Bi-Intercontinental para a FIFA, mas provavelmente Bi-Mundial para os seus torcedores.
RAFAEL PORCARI é ex-árbitro de futebol e professor universitário