13 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Do ritual do jornal impresso à navegação infinita


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Os consumidores de notícias não são mais os mesmos. Assim que entrei na faculdade de jornalismo, há mais de trinta anos, meu pai assinou o Estadão e eu a Folha de São Paulo. Fazíamos comparações sobre como as notícias eram abordadas pelos dois veículos, e pelo principal jornal noticioso da TV aberta. Era o usual da época.

Desde então, uma verdadeira revolução transformou a forma de consumir notícias e ainda estamos mudando. O ritual de receber o jornal impresso na porta de casa todas as manhãs e, à noite, assistir ao telejornal era quase sagrado. Sem falar da revista semanal, impressa, que era assinada para aprofundar-se nos assuntos mais polêmicos. Hoje, esse comportamento parece arcaico. Em poucos anos, jornais impressos perderam espaço, a TV aberta deixou de ser o grande palco da informação, e o digital tornou-se o território dominante da atenção do público. Não se trata da simples troca do papel pela tela, mas de uma mudança de comportamento envolvendo a mentalidade, hábito e expectativa em relação à informação.

Essa transição reposicionou completamente a mídia tradicional. A audiência gradual da televisão aberta despencou, assim como, a retração acentuada dos jornais impressos e a ascensão irreversível do digital ilustram um fenômeno, no qual o leitor passou a ser usuário, e o espectador em protagonista da própria curadoria de informação.

Atualmente, a preferência por jornais impressos caiu de 50% em 2013 para 11% em 2024, segundo levantamento publicado pelo Poder360. Paralelamente, 74% dos brasileiros já consideram as plataformas digitais a principal via de acesso à informação. A tiragem desabou mais de 16% em um único ano entre os principais títulos nacionais. Não é somente o papel que perde espaço, é o modelo de leitura linear que se desfaz. O impresso exige atenção plena, tempo e dedicação. Na era do “fast”, a informação ganha o formato instantâneo e superficial, com textos resumidos. Além do digital permitir a escolha por “ler vendo” e “ler ouvindo”.

As redes sociais são os novos porta-vozes de notícias do cenário brasileiro. Hoje, 78% dos brasileiros consomem notícias pela internet. Sites, redes sociais, aplicativos, podcasts, plataformas como WhatsApp, Instagram e YouTube, além de distribuírem conteúdo jornalístico, “competem” com ele ao amplificar a publicação dos novos conteudistas. A busca por informação deixou de depender de horários fixos e passou a operar em regime sob demanda. O usuário decide “o que”, “quando” e “onde”.

A televisão aberta ainda resiste bravamente, com protagonismo reduzido, embora as pesquisas demonstrem que ela ainda mantém a presença nos lares brasileiros, perde espaço para o vídeo sob demanda. Não somente pelo formato, como também pela capacidade de entrega personalizada. Dados recentes do Digital News Report 2025 do Reuters Institute evidenciam que 41% dos brasileiros já preferem assistir notícias, enquanto 36% preferem ler e 23% optam por ouvir.

O protagonismo digital nas telas é, simultaneamente, uma oportunidade e um desafio. Antigamente, ler com criticidade era uma das chaves para o conhecimento. Hoje, todos têm acesso à informação, mas infelizmente, nem todos têm a competência para identificar manipulações e narrativas, num universo comandado por algoritmos.

 
Rosângela Portela é jornalista e mentora em comunicação