Compartilho aqui uma reflexão sobre essa devoção para nós católicos. Trata-se de um trecho da homilia que fiz aos romeiros de nossa diocese que foram dia 15 do último mês ao Santuário Nacional em Aparecida.
A pequenina imagem da Virgem da Conceição, resgatada no Rio Paraíba do Sul em 1717, de acordo com algumas tradições, foi moldada pelas mãos de monges que habitaram nossa primeira paróquia da diocese de Jundiaí, na cidade de Santana de Parnaíba. Em Aparecida, o catolicismo se desenvolveu a partir de uma relação de confiança e simplicidade de um modo muito peculiar; a presença da Mãe de Jesus junto ao povo não passou por rebuscadas explicações teológicas, muito menos por aparições recorrentes com mensagens sobrenaturais.
Pelo contrário, a presença da Virgem Aparecida foi “canonizada” pela fé das pessoas simples, pela ânsia de continuar crendo daqueles que não tinham voz, como os pescadores, os negros e os doentes, que foram os primeiros a perceberem e receberem seus milagres.
Maria é simples com os simples. Fala como eles e para eles, com uma linguagem que apenas os humildes entendem. Aqui, em Aparecida, Maria é a primeira a nos ensinar a percorrer as periferias existências da humanidade, como nos exortava o Papa Francisco.
Nela, a fé dos pequenos ensina a resistir às situações de morte e de injustiça que ainda prevalecem como chagas abertas e perturbadoras de um país tão desigual como o nosso.
A fé que percebemos em Aparecida não se fia de discursos e pregações de moralistas de plantão. Muito menos de grandes elucubrações doutrinárias, oriundas de pseudoespecialistas e suas pretensiosas pregações.
A fé de Aparecida brota da força efervescente e originária de uma multidão de anônimos, os anawin, os pobres do Reino que, mergulhados na dinâmica redentora do projeto de Jesus, atravessam a passarela de Aparecida de joelhos, ou com o terço nas mãos, suplicando à mãe do Salvador a coragem para continuar lutando.
Dom Arnaldo Carvalheiro Neto é bispo diocesano